“Os balantas constituíram até recentemente o
grupo étnico maioritário na Guiné-Bissau (24 % da população) […]. Existem
várias versões e lendas sobre a origem dos Balantas. Pélissier defende firmemente
que os Balantas são da origem sudanesa. Ele acredita que a ramificação brassa
da Guiné-Bissau aprendeu as técnicas da rizicultura inundada ao chegarem às
margens dos estuários da costa e, provavelmente, aprendendo com as populações
anteriores estabelecidas nas margens dos “Rios do Sul”. (…).
Esta tese não está
em conformidade com as tradições orais de diversos grupos étnicos da região
sobre a origem dos Balantas. Trata-se de uma origem que ainda é confusa. Existem
várias versões históricas. De acordo com a sua própria tradição oral, assim
como a dos Mandigas, os Balantas seriam Soninkés provenientes do Manden no
século XIII com o lendário Sundiata Keita, aquando do seu retiro em Cabu. É então
que uma parte dos guerreiros, cansados das guerras sangrentas conduzidas pelo
seu chefe, optam por estabelecer em Cabu. Este grupo pertence à ramificação dos
Mané, foi denominado Balanto. No
final do século XV, o chefe fula vindo de Macina, denominado Koli Tenguela,
tê-los-ia empurrado para a costa. Na verdade, outra versão afirma que os
Balantas faziam parte do exército deste mesmo Koli Tanguela. Cansados das
expedições impostas pelo seu conquistador Fula, eles teriam recusado segui-lo e
teriam vindo instalar-se perto da aldeia de Bigéne (Guiné-Bissau). Finalmente,
outra lenda descreve os Balantas como antigos cativos dos Fulas de Fouta Djallon,
que vieram para a Guiné-Bissau para se entregarem à agricultura e à colheita de
produtos florestais. Achando o país agradável, eles ter-se-iam recusado a
voltar ao Fouta. A própria origem da palavra Balanta é controversa. De acordo
com os Mandigas ou Malinkés, etimologicamente, o termo Balanto significa “aquele que se recusa; um renegado”: balan = “recusa”.
Daí Balantakunda “entre aqueles que recusaram”. Para uns, é a recusa de seguir
os exércitos de Koli Tenguela ou de deixar o seu país de adopção. Para outros,
é a recusa de se converter ao Islão.
A etnia Balanta é
composta por cinco subgrupos: (1) os Balanta-Mané são aqueles que sofreram a
influência dos Mandigas ou que foram “mandinguizados”; (2) Mansoancas – habitantes de Mansoa – de acordo com João Ameal, os Mansoancas ou
Cunantes resultariam de um cruzamento entre os Oincas [d`Oio+nKa] e os Balantas
Fora; (3) os Balantas brabo (bravos) ou de dentro – Brabo ou Bravo significa bravo,
selvagem. Os Portugueses chamaram-nos desta maneira porque eles eram hostis a
qualquer contacto; (4) Os Balantas manso ou de fora – Balanta manso significa
dócil, pacifico. Este nome resulta do facto que este grupo era mais permeável aos
contactos com os Portugueses. No entanto, o sucessor do Governador Biker,
Alfredo Cardoso Soveral Martins [Julho 1903-Abril 1904] escreve a respeito dos
Balantas que estes estão divididos em duas categorias para a administração: os
mansos e os bravos. «Os mansos são aqueles que nos desprezam, e os bravos são
aqueles que nos odeiam; (5) os Balantas Naga”.
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(Tcherno Djaló, in O Mestiço e o Poder [Identidades, Dominações e
Resistências na Guiné-Bissau], Veja, 2012, Lisboa, p. 45 e 46).