«Nos Balantas, o parentesco
é geralmente de tipo patrilinear. As famílias reagrupam-se por aldeias
independentes em si, mas com laços de solidariedade étnica muito fortes face ao
estrangeiro. Em geral, a sua sociedade não conhece o sistema de castas é está
organizada com base nas aldeias. As aldeias são lideradas por um “chefe”, que
exerce ao mesmo tempo funções religiosas. Ele dirige os sacrifícios, apresenta
as oferendas aos deuses. O seu poder emana do Conselho dos Anciãos e é
investido do poder de impor penas aos que se tornaram culpados de alguns
crimes. As sanções mais comuns são a flagelação e a bastonada. Com excepção das
parcelas de terra familiares, o conjunto das terras não cultivadas, os pântanos
e as marés são uma propriedade coletiva. Cada família possui um campo e
concessões para construir a sua habitação. O chefe da aldeia não possui nenhum domínio
pessoal fora do seu grupo familiar.
Em geral, os
Balantas são polígamos. No entanto, a esposa não é totalmente submissa e sujeita
às vontades do marido, como é o caso nas sociedades islamizadas (Fulas e Mandigas).
No plano das sucessões, após a morte do pai, a tutela dos filhos é assegurada
por um dos membros da sua família que exerce a sua função até o casamento dos
seus pupilos. Se o defunto não deixa
descendentes, os seus bens regressam por ordem de prioridade à sua mãe, aos
seus irmãos, aos seus sobrinhos e ao seu pai. A mulher nunca herda os bens do
seu marido e vice-versa. Os seus bens retornam aos seus filhos ou à sua família
de origem. Os herdeiros tomam posse dos bens que lhes são devolvidos e pagam as
dívidas do defunto.
Por mais curioso que possa parecer, os roubos e as rapinas
são valorizados entre os Balantas e simbolizam a coragem, a inteligência e a
habilidade. Os mais eficazes são muito apreciados e uma vez que se tornem
mestres na arte de roubar sem serem apanhados, recebem crianças para instrução.
Do ponto de vista da organização política, os Balantas vivem numa sociedade sem
Estado, sem regulados e sem hierarquia social. É o que Cabral chamava de “sociedade
de estrutura horizontal”.».
(Tcherno Djaló, in O Mestiço e o Poder
[Identidades, Dominações e Resistências na Guiné-Bissau], Veja, 2012, Lisboa,
p. 46).