A outra
questão que queremos abordar aqui nesta problemática teológica-doutrinária
sobre a Ceia do Senhor prende-se com o seguinte: os Cristãos que padecem de
doenças mentais podem ou não participar na santa Ceia do Senhor? Esta
pertinente pergunta remete-nos ainda para as outras várias considerações no que
toca às subcategorias de anomalias psíquicas existentes, nomeadamente, por
todas elas, transtorno bipolar do terceiro grau, depressão severa, Alzheimer,
demência, esquizofrenia e outras psicoses, etc. Todas estas doenças cognitivas
têm graduações diferentes na sua actuação, que podem consubstanciar na
inabilitação ou interdição do paciente. Uma pessoa, a título exemplificativo,
inabilitada é diferente de uma pessoa interdita a nível da incapacitação. Esta
última comporta uma maior agravante do ponto de vista psíquico, não obstante as
duas convergirem na obstrução e incapacidade mental. Levanta-se ainda uma outra
pertinente questão: a de saber se um autêntico Cristão pode ficar totalmente
afectado do ponto de vista psicológico ao ponto de perder as suas faculdades
mentais? Esta resposta, a nosso ver, não pode ser taxativa pelas seguintes
razões: desde logo, depende de cada situação em particular e a forma como a
doença está a manifestar-se na pessoa. No entanto, admitimos que os genuínos
Cristãos podem ser atingidos por doenças degenerativas que podem, em última
instância, incapacitá-los, levando-os a perder completamente a memória em
consequência do envelhecimento. Nas demais situações, é preciso acima de tudo
ater à “justiça do caso concreto” e constatar a manifestação da doença na
pessoa para depois formular esclarecidamente uma posição final.
Essas
temáticas são de difícil posicionamento do ponto de vista bíblico-teológico.
Tanto que, por esta razão, têm sido objecto de infindáveis querelas
doutrinárias ao longo dos tempos. Mesmo assim, somos da opinião que a
generalidade das doenças mentais são de procedência maligna, ou seja, têm mais
o cunho diabólico por detrás delas do que propriamente uma mera doença natural[1].
Somos também da inteira opinião que, respondendo directamente à pergunta
inicial, todos os Cristãos que padecem de problemas psíquicos incapacitantes
não podem comungar da Ceia do SENHOR. Não estão em condições espirituais de
tomar a Ceia. Têm de ser vedados categoricamente pela Igreja a esta nobre
ordenança bíblica.
Afirmamos
isto convictamente porque um dos pressupostos bíblicos para qualquer Cristão
tomar a Ceia do Senhor é o autoexame para assim evitar “comer o pão e beber
o cálice do Senhor de modo indigno”, sob pena de ser “culpado de ofensa
ao corpo e sangue do Senhor (1 Coríntios 11:27), por “não
discernindo o corpo do Senhor” (1 Coríntios 11:29). Por isso, espera-se “que
cada um se examine a si mesmo e, assim, coma deste pão e beba deste cálice.
Pois se não reconhece o corpo do Senhor, o que faz é comer e beber a sentença
da sua própria condenação” (1 Coríntios 11:28). A autoavaliação do crente é
extremamente importante e decisiva para tomar a Ceia do Senhor. Ora, uma pessoa
incapacitada mentalmente não está em condições de se autoexaminar sobre a sua real
condição espiritual. Para se examinar é preciso ter a consciência do que se está
a examinar em concreto. Se a pessoa não tem essa consciência não pode, naturalmente,
participar da Ceia do Senhor. Uma pessoa com perturbações mentais e
consequentemente interdita deve ser-lhe vedada a possibilidade de tomar a Ceia.
Não está em condições mentais e espirituais para participar dela,
até quando voltar à situação normal, isto é, ficar definitivamente curada da
sua patologia para, deste modo, sempre que comer o pão e beber o cálice da Ceia, consciencializando
que está a anunciar a morte do Senhor Jesus
no seu testemunho de vida até que Ele venha (1 Coríntios 11:26).
Com isso, em
circunstância alguma, estamos a discriminar ou excluir os doentes mentais das
bênçãos divinas, antes pelo contrário. Simplesmente estamos a respeitar na
integra aquilo que são os pressupostos e exigências necessárias para comungar
da Ceia do SENHOR, especialmente o factor da consciência para assim poder
discernir correctamente “o corpo do Senhor (1 Coríntios 11:29). Mesmo
nas ordens jurídicas modernas, os doentes mentais não são permitidos a
capacidade de exercício, nomeadamente não podem tirar a carta de condução, não
podem casar, não podem celebrar negócios jurídicos, etc., mesmo assim não
deixam de ter a personalidade jurídica e a capacidade de gozo dos direitos
fundamentais. Esta restrição tem como finalidade última proteger os próprios
doentes mentais de praticar asneiras, que podem prejudicá-los drasticamente a
todos os níveis, visto que não estão no seu perfeito juízo. Da mesma sorte, o
facto de os doentes mentais serem vedados a comunhão da Ceia do SENHOR não tem
nada a ver com a discriminação, insistimos, mas sim o próprio acto do amor
Cristão para com eles, evitando banalizar a tão importantíssima ordenança da
Igreja de Cristo, uma vez que eles não têm a consciência apurada para poder
participar nela. Por isso, é mais sensato espiritualmente vedá-los a Ceia do
Senhor do que propriamente deixá-los tomar parte nela.
Esta
restrição, importa ainda salientar, não tem nada a ver com o papel importante
destes mesmos doentes mentais no seio das igrejas. Também não tem nada a ver
com o facto de deixarem de ser cristãos ao ponto de perderem a salvação. Estes nossos
irmãos incapacitados continuam a ser Cristãos, filhos de DEUS, eleitos para a
salvação e herdeiros da vida eterna em Cristo Jesus. Só não podem participar na
Ceia do Senhor temporariamente, por não estarem em devidas condições de autoexaminar
a sua condição espiritual, tal como manda escrupulosamente o texto sagrado que
citamos. Com base nesta ordem de ideias, é bastante importante a Igreja continuar
a estimar estes irmãos doentes, como os demais doentes das nossas congregações,
intercedendo sempre por eles no sentido de DEUS providenciar-lhes auxílio e cura. Que assim seja.
[1] Não vamos agora aqui, neste
artigo, por enquanto, abordar a nossa formada opinião sobre estas questões.
Numa outra ocasião, querendo o Todo-Poderoso DEUS, teremos a oportunidade de
dar a conhecer, com mais pormenores e precisão, a nossa convicção sobre estas
complexas questões.