OS EQUÍVOCOS TEOLÓGICO-DOUTRINÁRIOS SOBRE A CEIA DO SENHOR: (5): Os Doentes Mentais Podem ou não Tomar a Ceia do SENHOR?



A outra questão que queremos abordar aqui nesta problemática teológica-doutrinária sobre a Ceia do Senhor prende-se com o seguinte: os Cristãos que padecem de doenças mentais podem ou não participar na santa Ceia do Senhor? Esta pertinente pergunta remete-nos ainda para as outras várias considerações no que toca às subcategorias de anomalias psíquicas existentes, nomeadamente, por todas elas, transtorno bipolar do terceiro grau, depressão severa, Alzheimer, demência, esquizofrenia e outras psicoses, etc. Todas estas doenças cognitivas têm graduações diferentes na sua actuação, que podem consubstanciar na inabilitação ou interdição do paciente. Uma pessoa, a título exemplificativo, inabilitada é diferente de uma pessoa interdita a nível da incapacitação. Esta última comporta uma maior agravante do ponto de vista psíquico, não obstante as duas convergirem na obstrução e incapacidade mental. Levanta-se ainda uma outra pertinente questão: a de saber se um autêntico Cristão pode ficar totalmente afectado do ponto de vista psicológico ao ponto de perder as suas faculdades mentais? Esta resposta, a nosso ver, não pode ser taxativa pelas seguintes razões: desde logo, depende de cada situação em particular e a forma como a doença está a manifestar-se na pessoa. No entanto, admitimos que os genuínos Cristãos podem ser atingidos por doenças degenerativas que podem, em última instância, incapacitá-los, levando-os a perder completamente a memória em consequência do envelhecimento. Nas demais situações, é preciso acima de tudo ater à “justiça do caso concreto” e constatar a manifestação da doença na pessoa para depois formular esclarecidamente uma posição final. 

Essas temáticas são de difícil posicionamento do ponto de vista bíblico-teológico. Tanto que, por esta razão, têm sido objecto de infindáveis querelas doutrinárias ao longo dos tempos. Mesmo assim, somos da opinião que a generalidade das doenças mentais são de procedência maligna, ou seja, têm mais o cunho diabólico por detrás delas do que propriamente uma mera doença natural[1]. Somos também da inteira opinião que, respondendo directamente à pergunta inicial, todos os Cristãos que padecem de problemas psíquicos incapacitantes não podem comungar da Ceia do SENHOR. Não estão em condições espirituais de tomar a Ceia. Têm de ser vedados categoricamente pela Igreja a esta nobre ordenança bíblica. 

Afirmamos isto convictamente porque um dos pressupostos bíblicos para qualquer Cristão tomar a Ceia do Senhor é o autoexame para assim evitar “comer o pão e beber o cálice do Senhor de modo indigno”, sob pena de ser “culpado de ofensa ao corpo e sangue do Senhor (1 Coríntios 11:27), por “não discernindo o corpo do Senhor” (1 Coríntios 11:29). Por isso, espera-se “que cada um se examine a si mesmo e, assim, coma deste pão e beba deste cálice. Pois se não reconhece o corpo do Senhor, o que faz é comer e beber a sentença da sua própria condenação” (1 Coríntios 11:28). A autoavaliação do crente é extremamente importante e decisiva para tomar a Ceia do Senhor. Ora, uma pessoa incapacitada mentalmente não está em condições de se autoexaminar sobre a sua real condição espiritual. Para se examinar é preciso ter a consciência do que se está a examinar em concreto. Se a pessoa não tem essa consciência não pode, naturalmente, participar da Ceia do Senhor. Uma pessoa com perturbações mentais e consequentemente interdita deve ser-lhe vedada a possibilidade de tomar a Ceia. Não está em condições mentais e espirituais para participar dela, até quando voltar à situação normal, isto é, ficar definitivamente curada da sua patologia para, deste modo, sempre que comer o pão e beber o cálice da Ceia, consciencializando que  está a anunciar a morte do Senhor Jesus no seu testemunho de vida até que Ele venha (1 Coríntios 11:26)

Com isso, em circunstância alguma, estamos a discriminar ou excluir os doentes mentais das bênçãos divinas, antes pelo contrário. Simplesmente estamos a respeitar na integra aquilo que são os pressupostos e exigências necessárias para comungar da Ceia do SENHOR, especialmente o factor da consciência para assim poder discernir correctamente “o corpo do Senhor (1 Coríntios 11:29). Mesmo nas ordens jurídicas modernas, os doentes mentais não são permitidos a capacidade de exercício, nomeadamente não podem tirar a carta de condução, não podem casar, não podem celebrar negócios jurídicos, etc., mesmo assim não deixam de ter a personalidade jurídica e a capacidade de gozo dos direitos fundamentais. Esta restrição tem como finalidade última proteger os próprios doentes mentais de praticar asneiras, que podem prejudicá-los drasticamente a todos os níveis, visto que não estão no seu perfeito juízo. Da mesma sorte, o facto de os doentes mentais serem vedados a comunhão da Ceia do SENHOR não tem nada a ver com a discriminação, insistimos, mas sim o próprio acto do amor Cristão para com eles, evitando banalizar a tão importantíssima ordenança da Igreja de Cristo, uma vez que eles não têm a consciência apurada para poder participar nela. Por isso, é mais sensato espiritualmente vedá-los a Ceia do Senhor do que propriamente deixá-los tomar parte nela. 

Esta restrição, importa ainda salientar, não tem nada a ver com o papel importante destes mesmos doentes mentais no seio das igrejas. Também não tem nada a ver com o facto de deixarem de ser cristãos ao ponto de perderem a salvação. Estes nossos irmãos incapacitados continuam a ser Cristãos, filhos de DEUS, eleitos para a salvação e herdeiros da vida eterna em Cristo Jesus. Só não podem participar na Ceia do Senhor temporariamente, por não estarem em devidas condições de autoexaminar a sua condição espiritual, tal como manda escrupulosamente o texto sagrado que citamos. Com base nesta ordem de ideias, é bastante importante a Igreja continuar a estimar estes irmãos doentes, como os demais doentes das nossas congregações, intercedendo sempre por eles no sentido de DEUS providenciar-lhes auxílio e cura. Que assim seja. 



[1] Não vamos agora aqui, neste artigo, por enquanto, abordar a nossa formada opinião sobre estas questões. Numa outra ocasião, querendo o Todo-Poderoso DEUS, teremos a oportunidade de dar a conhecer, com mais pormenores e precisão, a nossa convicção sobre estas complexas questões.