A Natalidade: Uma Questão de Humanismo e de Humanidade


O mundo Ocidental confronta-se com sérios problemas de fundo que urge resolver. A começar, desde logo, por todos eles, com a crise da democracia, as desigualdades sociais, a desertificação do interior, a falta de empregos e a precariedade laboral, o relativismo moral e a negação dos grandes Princípios e Valores Cristãos que outrora o enformaram e nortearam desde o génesis, a imigração, a exclusão social, a pobreza, a xenofobia, o cancro do divórcio, a desestruturação e o colapso da família tradicional, etc. O problema da natalidade é mais um num rol de crises existenciais que se vive no Ocidente há bastante tempo. No entanto, ele não pode ser dissociado do permanente ataque directo à família tradicional, através das leis e práticas infames a que ela foi deliberadamente votada. 

E mais, um outro agravante, com a revolução sexual dos anos sessenta do século passado (promiscuidade sexual, bem entendido), encabeçada particularmente pelas neo-feministas que teve como apologia viver a sexualidade de forma livre, descomprometida e despida de todo o pudor ou tradicionalismo que, até então, estava profundamente enraizado nas sociedades. Em consequência disso, nesta patente visão de devassidão, começou-se a legitimar socialmente o uso desenfreado de métodos contraceptivos, o consumo da pornografia, a defesa da ideologia de género e de homossexualidade, a despenalização e legalização do aborto, uma aversão ao casamento e todas as outras aberrações sexuais que tão bem conhecemos. O prazer sexual passou a ganhar destaque e lugar cimeiro em muitas pessoas em detrimento do compromisso matrimonial. As mulheres, particularmente as da alta sociedade, passaram a ter um certo tipo de pavor à maternidade, tendo em conta os danos colaterais que esta comporta, tentando a todo o custo impor a prática da barriga de aluguer e inseminação artificial em muitos ordenamentos jurídicos, como sendo um padrão natural, sob falso pretexto de emancipação feminina ancorada nos “avanços civilizacionais”, afirmam falaciosamente

Por isso, o movimento anti-natalista está a ganhar cada vez mais terreno, máxime na Europa e nos Estados Unidos da América. Ela é defendida maioritariamente pelas neofeministas e alguns homens com distúrbios de personalidade. Num passado recente estivemos a conversar praticamente três horas com uma amiga da nossa faculdade para não laquear as trompas. Mas, infelizmente, não conseguimos demovê-la deste maléfico intento. Ela estava bastante convicta e determinada a esterilizar-se. Não quer casar. Não quer engravidar. Não quer saber de filhos. Tem fobia ao conceito da família tradicional. Contudo, para nossa surpresa e espanto, gosta imenso dos animais e quer cercar-se deles no seu futuro lar. Justificava a sua decisão com a auto-determinação sexual, a incredulidade nos seres humanos, sobretudo nos homens, os parcos recursos existentes no mundo e a conservação do meio ambiente e dos animais em especial (LER). Aliás, os argumentos dela não diferem tanto da apologia dos anti-natalistas (LER). Esta ideologia não vem de hoje. Desengane-se quem pense o contrário. Já nos longínquos anos de 1912 o iconoclasta português, J. Teixeira Junior, completamente rendido à mundividência jacobina, escrevia o seu polémico livro intitulado “Mulheres, Não Procreeis!”, onde apelava as mulheres a “não aumentardes o número de miseráveis”, exortando-lhes firmemente a “declarardes a greve de véntres” (LER). Tudo isto para dizer que assistimos, cada vez mais, a uma séria adulteração dos Grandes Princípios e Valores Humano-Sociais, que até então serviam de modelo basilar e norteador das Sociedades, sem que nenhuma alternativa credível surgisse com suficiente consenso social para preencher o vazio das referências obliteradas. 

Não temos a mínima dúvida que um dos factores que condicionam decisivamente a natalidade tem a ver principalmente com estas “modernas” formas de família, que foram inventadas para suprir o vazio da referência da família tradicional que foi preterida. A legalização do aborto e o patente individualismo que se vive cada vez mais na sociedade acabou por agravar consideravelmente a taxa de natalidade. Ali, por algumas mulheres optarem pela realização do aborto, reduzindo-o meramente, em determinados casos, a método contraceptivo. Tal hedionda prática acaba, em algumas situações, por ter reflexos negativos no não conseguimento delas em engravidar no futuro. Aqui a questão tem mais que ver com o comodismo egocêntrico, que se tem cultivado cada vez mais, onde as pessoas exclusivamente pensam em primeiro lugar nelas e no seu bem-estar em detrimento dos outros. Não querem nada que lhes tire o tempo ou lhes dê algum tipo de trabalho. Ora, ter filhos é a antítese de tudo isto. A partir do momento em que as pessoas, antes de casarem, já estão a planear um putativo divórcio que poderão ter no futuro, somando à primazia abismal que os casais vão dando à carreira profissional em detrimento da procriação, tudo isto constitui um significativo obstáculo em fazer filhos. 

Por isso, todos os ardilosos argumentos que os casais inventam para justificar a falta de mais filhos, nomeadamente as questões financeiras, os poucos dias de licença parental, falta de apoio do Estado ou a falta de estabilidade profissional, não passam de falatórios inúteis para branquear as suas próprias insuficiências. São apenas meros protestos para justificar o injustificável. É verdade que devia haver mais apoio do Estado a casais que querem fazer filhos, mormente a nível do abono de família, bem como a flexibilização das empresas a fim de não prejudicar profissionalmente as mulheres que optarem por engravidar ou o seu progresso na carreira. Sabemos que, por razões cognoscíveis, infelizmente, tem havido uma manifesta insensibilidade do Estado e das empresas neste sentido, somando a falta de trabalho e precariedade laboral com que muitos jovens enfrentam no seu dia-a-dia. No entanto, mesmo assim, continuamos a entender que estes impedimentos circunstanciais e momentâneas não são determinantes para os casais não aumentarem o agregado familiar. 

A título exemplificativo, para justificar a nossa contra-argumentação: na Europa do Norte, mais precisamente na Dinamarca, Suécia e Finlândia, dos países com maiores índices do desenvolvimento humano do planeta e com melhores planos estatais de apoio ao incentivo à natalidade, mesmo assim continuam a apresentar um défice bastante acentuado a nível da procriação. A realidade destes países se aplica igualmente a países desenvolvidos comparativamente com os países em vias de desenvolvimento, ou seja, há mais queda em número de filhos e de fertilidade nos países ricos do que propriamente nos países mais pobres. Da mesma sorte, os casais da classe média alta fazem menos filhos em relação aos da classe média e baixa. O “oxigénio da natalidade” continua a ser assegurado especialmente pelos países pobres e casais da classe média e baixa. Obviamente que há vários factores que concorrem para determinar este quadro. A nosso ver, continuamos a entender que o factor determinante prende-se, acima de tudo, com o patente egoísmo da nossa sociedade, baseado num hedonismo descomprometido, alheio aos compromissos duradouros. As pessoas unicamente pensam no seu bem-estar e somente no seu bem-estar, insistimos, dando mais prioridade ao trabalho, à carreira e à vida boémia, razão pela qual não querem fazer mais filhos para não ficarem enturvadas ou condicionadas na sua liberdade e conforto de vida. Portanto, o falso pretexto que invocam da falta de condições financeiras, da instabilidade profissional e da falta de apoio estatal para não fazer mais filhos é de rejeitar liminarmente. 

Quando os casais egoisticamente optam por ter um filho correm depois sérios riscos no futuro, uma vez que toda a esperança familiar é depositada neste único filho. Se ele falhar é, em última instância, o projecto de toda a família que vai por água abaixo, com as implicações sociais que nos são conhecidas. Nesta ordem de ideias, há muitos pais que são abandonados na velhice ou forçosamente colocados num lar de idosos, porque não têm outros filhos com sensibilidade filial para cuidar deles e ampará-los nos momentos das suas adversidades. Diferentemente de um casal com três ou mais filhos, em que dificilmente estes todos serão insensíveis ao ponto de um deles, pelo menos, não querer cuidar dos seus progenitores quando realmente estes precisarem. É muito difícil que todos eles falhem neste dever de cuidado para com os pais. 

É justamente, por tudo isto, que é extremamente importante que os casais se consciencializem para fazerem mais filhos, procurando superar todos os preconceitos, tabus, mitos, falácias e barreiras que a nossa sociedade tem construído em torno da demografia e das famílias numerosas. Se hoje são os pais a sacrificarem-se para cuidar dos seus filhos, quer seja na pobreza ou na riqueza, amanhã são os mesmos filhos que terão a responsabilidade de cuidar deles quando estes se encontrarem doentes, velhos, moribundos ou incapacitados. A natalidade é uma questão de Humanismo e de Humanidade que transcende qualquer tipo de lógica minimalista, circunstancial, economicista e hedonista, tal como infelizmente é apregoado na nossa moribunda sociedade para legitimar a não procriação.