Os Sonhos Que Ficaram Por Realizar, por Martin Luther King Jr. (6)

“Ainda me lembro, ainda me lembro de quando os Negros se limitavam a andar à toa. Como Ralph disse tantas vezes, a coçar-se onde não tinham comichão e a rir-se quando não lhes faziam cócegas. Mas esse tempo já lá vai. Nós agora falamos a sério e estamos determinados a conquistar o lugar a que temos o direito no mundo de Deus. E é disso que se trata. Não nos move nenhum propósito de protesto negativo nem de discussão estéril com ninguém. Só dizemos que estamos decididos a ser homens. Estamos decididos a ser gente. Só dizemos que somos filhos de Deus. E se somos filhos de Deus, não temos de viver como agora somos obrigados a viver. 

(…) Não vamos consentir que nenhuma bastonada nos detenha. No nosso movimento não-violento, somos mestres a desarmar forças policias; ficam sem saber o que hão-de fazer. Já vi isso muitas vezes. Estou a lembrar-me de Birmingham, Alabama, quando estávamos a travar aquela luta gigantesca e saímos todos os dias da Igreja Baptista da Rua Dezasseis. (…) Temos de nos entregar a esta luta até ao fim. Nada seria mais trágico para Memphis do que parar nesta altura. Temos de ir até ao fim. Quando fizemos a marcha, Vós tendes de estar lá. Mesmo que seja preciso faltar o trabalho, mesmo que seja preciso faltar à escola, tendes de estar lá. Pensai nos vossos irmãos. Podeis não estar em greve, mas, nesta luta, ou avançamos todos ou saímos todos derrotados. Temos de adoptar uma espécie de altruísmo perigoso.[1]  


[1]Palavras de Martin Luther King Jr., extraído na sua autobiografia, in Eu Tenho Um Sonho, p. 393, 394,395, Bizâncio, Lisboa, 2003. Este foi o último discurso do Pastor Baptista e Activista dos Direitos Humanos, Luther King, no templo do bispo Charles J. Mason, em Memphis. Um dia depois desta famosa alocução, 4 de Abril de 1968, foi barbaramente assinado no Motel Lorraine.