Os Sonhos Que Ficaram Por Realizar, por Martin Luther King Jr. (5)

“E digo-vos mais, se eu estivesse no princípio dos tempos com a possibilidade de ter uma espécie de visão geral e panorâmica de toda a história da humanidade até hoje, e o todo o Poderoso me perguntasse «Martin Luther King, em que época gostarias de viver?» eu faria o meu voo mental pelo Egipto e veria os filhos de Deus iniciar a sua magnífica fuga das negras masmorras do Egipto, atravessar o mar Vermelho e percorrer as terras inóspitas até chegar à Terra Prometida. E, apesar da sua magnificência, não pararia aí. Continuaria, passando pela Grécia, onde transportaria o meu espírito ao monte Olimpo. E veria Platão, Aristóteles, Sócrates, Eurípedes e Aristófanes reunidos à volta do Parténon, e observá-los-ia à volta do Parténon a discutir as grandes e eternas questões da realidade. Mas não pararia aí. 

Seguiria mesmo caminho até ao grande apogeu do Império Romano e assistiria aos acontecimentos que aí se registaram, no tempo dos grandes imperadores e chefes. Mas não pararia aí. Avançaria mesmo até ao tempo da Renascença, para ter uma perspectiva rápida de tudo quanto a Renascença fez pela vida cultural e estética do homem. Mão não pararia aí. Iria mesmo ao local onde viveu o homem de quem recebi o nome, para vê-lo a afixar as suas noventa e cinco teses à porta da igreja de Wittenberg. Mas não pararia aí. Prosseguiria mesmo até 1863 para ver um Presidente vacilante chamado Abraham Lincoln chegar finalmente à conclusão de que tinha de assinar a Proclamação de Emancipação. Mas não pararia aí. Seguiria mesmo até ao princípio dos anos trinta para ver um homem debater-se com os problemas da bancarrota do seu país e soltar um grito eloquente: «A única coisa a temer é o próprio medo.» Mas não pararia aí. Por estranho que pareça, voltar-me-ia para o Todo-poderoso e diria: «Se Tu me permitisses viver apenas alguns anos na segunda metade do século XX, dar-me-ia por feliz.[1]


[1] Palavras de Martin Luther King Jr., extraído na sua autobiografia, in Eu Tenho Um Sonho, p. 392, 393, Bizâncio, Lisboa, 2003. Este foi o último discurso do Pastor Baptista e Activista dos Direitos Humanos, Luther King, no templo do bispo Charles J. Mason, em Memphis. Um dia depois desta famosa alocução, 4 de Abril de 1968, foi barbaramente assinado no Motel Lorraine.