Reflexões Tolstoianas


Somos nós que construímos o Mundo à nossa volta. E fazemo-lo de acordo com os Valores que transmitimos no círculo de convivência diária em que estamos inseridos. Além de sermos os principais responsáveis por aquilo que idealizamos e concretizamos na prática somos, da mesma sorte, o produto da nossa finita existência naturalista que consubstancia a dualidade inerente à condição humano-social. 

O Homem é um ser bastante complexo, composto por enigmas praticamente impenetráveis do ponto de vista gnosiológico. Um autêntico mistério por descodificar. Por haver essas obscuridades subjacentes à sua estrutura antropológica dificulta precaver, infalivelmente, o comportamento padrão que é capaz de levar a cabo no seu domínio de influência. O ser humano é um produto de imprevisibilidade – tanto no bom como no mau sentido. E isto acarreta, de facto, agravantes consideráveis a nível da sua personalidade e trato interpessoal (LER)

Para compreender, em parte, os paradoxos intrínsecos ao Homem é necessário, prima facie, um estudo aprofundado sobre a sua genealogia, mundividência, aspiração e o destino final que lhe é reservado. São grandes questões que permitem extrair – holisticamente – de onde veio e para onde vai, e o porquê desta trajectória aparentemente predestinada que tem que percorrer no seu percurso de vida. Tendo presente tais importantes realidades, é um meio caminho andado na descoberta da verdade, sobre os arcanos envolventes aos comuns dos mortais

Somente estudando e conhecendo de antemão a sua personalidade é que o Homem consegue libertar-se das amarras da vida e, concomitantemente, triunfar. Com efeito, tal proeza apenas se alcança através da adopção de hábitos sóbrios e vigilantes, adaptando-se progressivamente às constantes adversidades que vão surgindo pelo caminho: procurar, acima de tudo, obter a perfeição numa vida de tamanhas contrariedades. Por isso somos desafiados, pelos filósofos antigos, a nos conhecermos a nós mesmos, tendo em vista a responder satisfatoriamente aos condicionalismos emaranhados que a madrasta vida nos impõe para atingirmos os nossos legítimos sonhos. 

O Homem não se limita apenas às complexidades acabadas de se mencionar. Ele ainda é um ser visceralmente antinómico. Como corolário disto depara-se com duas grandes opções de escolha a tomar durante a sua trajectória neste "vale de lágrimas": (1) perfilhar uma vida regrada, recheada de valores axiológicos, tais como o Amor ao Próximo, a Bondade, a Misericórdia, a Solidariedade, a Temperança, a Humildade e o Bom senso, etecetera; ou (2) a opção de enveredar pelo desregramento ético-moral que se traduz em dissolução, concupiscência, ganância, egoísmo, rivalidade, homicídio e um cúmulo de decadências sem fim à vista. 

O ser humano é composto por este binómio de antagonismos existenciais, lutando permanentemente consigo. Cabe-lhe, pois, a faculdade do livre-arbítrio para decidir a opção que queira filiar na sua rotina diária. Se preferir a opção do Bem estará automaticamente a superar-se a si próprio e a reconstruir saudavelmente o seu percurso de vida de forma sábia, ordeira, irrepreensível e progressista, culminando assim nas bem-aventuranças eternas. Diferentemente se optar pelo engodo do Mal está, sem margem de dúvida, a atrair sobre si todas as desgraças do presente século mau e a ficar muito aquém daquilo que deveria ser o seu ideal testemunho de vida. 

A primeira eleição representa a Paz e a segunda a Guerra. A Paz no pensar e no exteriorizar os sentimentos, que terão reflexos saudáveis na vida do próprio, bem como na dos seus semelhantes. A consequência de tal sensata postura é ser bastante útil à sociedade, fazendo-a sempre o bem, independentemente da gratidão ou ingratidão que possa advir da boa acção praticada (LER). É um caminho direccionado, em última instância, para uma vida com propósitos nobres. Ao passo que a Guerra gera inimizades e ódios que, por sua vez, vão criando estropícios inimagináveis na vida do próprio e na dos terceiros. É um caminho sombrio que conduz à prisão da alma, uma que o homem é escravo daquilo que o domina. O resultado final é a perdição eterna. 

A dualidade da Guerra e da Paz emana da natureza do Bem e do Mal, intrinsecamente ligados à natureza do Homem. Obviamente que é mais fácil praticar as más acções do que o Bem. Não somos ensinados a fazer o mal. Ele está enraizado no nosso ADN desde a concepção, razão pela qual estamos constantemente a transgredir as regras pré-estabelecidas. O equilíbrio da vida está em purificar-se das vaidades do mundo. Saber, sobretudo, agir e viver honestamente. Os Princípios e Valores ético-morais que nos são ensinados na família, na igreja, na escola, no relacionamento que vamos fazendo e na sociedade em geral, só por si não chegam. Não nos levam a lado algum, havendo uma total passividade da nossa parte. É preciso uma postura proactiva, com vista a adoptar os melhores ensinos que, certamente, terão um impacto positivo no nosso círculo de relacionamentos. 

Tudo isto para concluir, de forma inequívoca e peremptória, que somos nós que construímos o mundo e delineamos o nosso destino final através do caminho que, de forma arbitraria, escolhemos. Uma vereda que pode ser de conformismo, insensibilidade, prepotência e de autodestruição no caso de nos acomodarmos e deixarmos a tendência do mal, que está profundamente enraizada em nós, triunfar. Ou podemos, inversamente, optar pelo caminho da Resiliência, Verdade, Humildade, Justiça, Paz, Amor e Reconciliação. Só incorporando estas excelentes virtudes ético-morais é que o Homem consegue reassumir a sua outrora condição original perdida, isto é, viver em harmonia consigo próprio e com tudo e todos à sua volta. Pode, muitas vezes, resvalar no clima das incertezas e no desânimo presentâneo, mas nunca perderá definitivamente o horizonte e o objectivo último da sua real existência, que é viver para o Bem e somente o Bem-fazer. Eis a verdadeira e plena felicidade!