O Testemunho da Terra Santa (3): A Quem Gratidão, Gratidão


(Na foto, da esquerda para direita: eu, Padre Jacinto, Dénis da Graça Andrade. Estávamos à frente da Igreja de Dominus Flevit  – o Senhor chorou –, recordando a memória de Jesus Cristo, lamentando o destino de Jerusalém aquando da Sua gloriosa entrada triunfal no Domingo de Ramos  (Lucas 19:41-44). Não longe da referida igreja encontra-se o sítio onde Jesus fez o discurso Profético, no Monte/Jardim das Oliveiras, tal como ficou registado em Mateus 24:3-14).



Que seriamos de nós em Jerusalém, Belém da Judeia, Hebron sem a preciosa ajuda e companhia do Padre Jacinto Bento? (LER). Depois de nos termos aventurados sozinhos no centro e norte de Israel, nomeadamente pela cidade de Telavive, Nazaré, Tiberíades, Cafarnaum, Caná, Ptelemais da Fenícia/Acre (escassos metros do Monte Carmelo), passando por Haifa e, de seguida, invertendo o percurso em direcção ao sul do país. Lá chegamos, finalmente, à tão famosa Jerusalém numa noite de quinta- – na véspera da Sexta-Feira Santa. A cidade estava repleta de gente, mormente de turistas vindos de diferentes cantos do mundo para celebrar no shabat a páscoa judaica e no Domingo a Páscoa Cristã. 

O encontro com o Padre Jacinto foi mesmo uma providência Divina. Eu e o meu amigo e irmão em Cristo Dénis da Graça Andrade tínhamos ido assistir ao culto na Igreja Evangélica do Nazareno, a qual faz parte da sua filiação denominacional (fizemos um acordo prévio de irmos primeiramente uma igreja do Nazareno e depois no domingo, dia da Páscoa, assistir ao culto numa Igreja Baptista que é da minha corrente doutrinária). Estávamos muito preocupados em localizarmos melhor os sítios históricos da cidade, bem como em nos inteirarmos, de forma mais aprofundada, sobre a complexa situação vivida entre os judeus e palestinianos na Cidade Santa. 

No regresso a pé para o Hotel onde nos havíamos hospedado, Abraham, em pleno coração de Jerusalém, a cerca de 500 metros do famoso Mercado Mahane Yehuda e 20 minutos a pé da Cidade Velha. Era praticamente de noite, por volta das 21:h00. Falávamos português um pouco alto (como é prática habitual na generalidade dos africanos) e não esperávamos encontrar um lusófono por ali. Foi nestas circunstâncias especiais, com uma postura intrépida, que o Padre Jacinto Bento nos abordou, perguntando de onde vínhamos e o que é que estávamos a fazer naquelas paragens. E, de seguida, revelou-nos a sua identidade. Contou-nos ainda que exerce o ministério como Padre Católico numa ilha dos Açores e está simultaneamente credenciado para ser guia turístico em Israel e nos Territórios Palestinianos, mediante a prova documental revelada para confirmar a veracidade da sua afirmação. Além do mais, naquela altura, dizia ele, estava apenas em Jerusalém por uma mera visita rotineira como reiteradamente costuma fazer (o Padre Jacinto já esteve na Terra Santa duas dezenas de vezes). O mais curioso de tudo isto foi estarmos hospedados no mesmo lugar com ele, no Abraham Hotel, sem o sabermos de antemão. 


(Em pleno mar mediterrâneo, na região da Galileia, concretamente na cidade  de Ptelemais da Fenícia/Acre. Uma selfie verdadeiramente oriental. Foi uma aventura marítima inesquecível. Apesar das gigantescas ondas que enfrentamos no decorrer do passeio, acabou, finalmente, graças a DEUS, por correr tudo bem. 



Perante estes surpreendentes factos, e depois de uma breve trocas de impressões que tivemos ainda no local, ganhamos a devida confiança e decidimos seguir com o Padre Jacinto que estava a descer para a parte antiga da cidade apenas de passeio. E prontificou-se de imediato para nos mostrar Jerusalém e, concomitantemente, pôr-nos a par da realidade viva da Terra Santa. Naquela encantadora noite da Sexta-Feira Santa,  e como já era um pouco tarde, fomos apenas ao Muro das Lamentações e a mais alguns pontos nos arredores da cidade, com a promessa de nos encontrarmos no dia seguinte e juntos visitarmos mais sítios em Jerusalém. E assim foi. 

O Padre Jacinto é um homem bastante culto e um conhecedor profundo da História Bíblica, bem como da História Moderna e Pós-Moderna da Terra Santa. Não obstante estas apreciáveis virtudes que ele encarna, eu e Dénis da Graça Andrade, tivemos profundas divergências teológicas com ele (algo completamente natural), visto professamos fés diferentes. Somos Cristãos Evangélicos Protestantes e o Padre Jacinto é Católico Apostólico Romano. Por conseguinte, como havia tantas coisas para falarmos, preferimos deixar as querelas doutrinárias de lado e cingirmo-nos unicamente ao essencial da nossa viagem, que é procurar ao máximo visitar os sítios históricos e desfrutar da maravilhosa experiência de estar na Terra Santa. Compreender, acima de tudo, o cerne do problema que opõe Judeus e Palestinianos há anos. Com efeito, a única pessoa mais habilitada no grupo para nos orientar melhor neste sentido é o Padre Jacinto, sem prejuízo obviamente do nosso conhecimento na matéria. 

É claro, convém salientar isto, que o nosso grupo original (sem contar com o Padre Jacinto) era muito forte em termos culturais. Tínhamos todos os ingredientes necessários para uma aventura turística. O Dénis da Graça da Andrade, licenciado em Geografia, foi quem nos ajudava a localizar melhor os sítios em caso de dúvida, apesar de eu e o Hugo Silva termos também o mapa connosco, dando-lhe pontual ajuda neste sentido. O Dénis não se limitava apenas ao papel do geógrafo também se assumia como historiador do grupo (tem o primeiro ano curricular do mestrado em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Por sua vez o Hugo Silva, falava em nosso nome por ter o inglês mais apurado. E eu procurava explicar pormenorizadamente o significado dos sítios que estávamos a visitar. É como se eu fosse o guia. Os papéis eram tacitamente distribuídos desta forma. Mesmo assim, tal não significava concordância absoluta com tudo que cada um dizia ou sugeria em termos da função que aparentemente desempenhava. 

Por maioria de razões, eram permanentes e manifestas as divergências que nos caracterizavam ao longo de toda a viagem. O Hugo divergia com o Dénis e este também colocava em causa algumas das minhas explicações histórico-teológicas e vice-versa, bem como o Hugo não aceitava as orientações do Dénis na localização dos sítios (tais divergências de opiniões ganharam contornos preocupantes quando já estávamos em Atenas, Grécia, ao ponto de os dois decidirem seguir rumos diferentes para ver quem conseguiria localizar, em primeiro lugar, a Cantina da Universidade de Atenas. Foi um bocado embaraçoso para mim posicionar-se perante o diferendo em questão, infelizmente, tive que seguir com o Dénis Andrade, sob pena de ser "atacado" por ele). Em suma, discordávamos uns dos outros o tempo todo – é a única [des] vantagem de termos sabichões no grupo. Depois de encontrámos o Padre Jacinto em Jerusalém ficou tudo diferente. Ele sabia mais coisas da Terra Santa do que nós e, por esta razão, decidimos segui-lo e ficaram assim um pouco atenuadas algumas das nossas sanáveis diferenças.


(Estão na fotografia, da esquerda para direita: eu, Padre Jacinto, Hugo Silva. Ela foi tirada no Monte Sião. Estávamos a seguir para o Cenáculo a fim de visitar o túmulo do rei David e do rei Salomão   (1 Reis 2:10; 1 Reis 11:41-43). Ainda nas mesmas instalações, num quarto superior, visitamos o lugar onde Cristo havia celebrado a tradicional Páscoa Judaica   (Mateus 26:17-35; Marcos 14:12-26; Lucas 22:14-23). Durante esta refeição, Jesus lavou os pés aos discípulos e previu a Sua traição   (João 13:13:1-30)   e, por fim, instituiu uma das grandes ordenanças Cristãs, que é a Ceia do Senhor dita erradamente pela igreja Católica por Eucaristia com significado da transubstanciação do corpo e sangue de Cristo. O Monte Sião tem muitos significados para as três religiões monoteístas: o Judaísmo, o Islamismo, o Cristianismo. Para os Cristãos, é um lugar Santo devido à última Ceia, à Aparição do Cristo Ressuscitado  (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-10; Lucas 24:1-12; João 20:1-10) e à Descida do Espírito Santo nos dias do Pentecostes (Actos 2:1-13). Tudo o que dizem ter-se passado neste lugar, onde, segundo a longa tradição, a Virgem Maria viveu depois da morte de seu filho e onde se deitou para dormir o sono eterno. Actualmente, esta tradição está representada na Igreja da Dormição).   



Com o Padre Jacinto percorremos os sítios importantes em Jerusalém. Fomos juntos também para Belém da Judeia, onde visitamos a Igreja da Natividade, local onde Jesus Cristo havia nascido e a cidade de Hebron, concretamente a gruta do campo de Macpela, perto de Mambré, Na terra de Canaã, tendo a oportunidade de visitar o túmulo do Patriarca Abraão, e Sara, sua esposa, Isaac e Rebeca, sua esposa, Lia e Jacob, tal como ficou descrito nas passagens bíblicas de Génesis 23:3 – 18; 25:7– 10; 49:29 – 33. Era suposto, da mesma sorte, irmos para Ramalllah, capital da Cisjordânia, controlada pelo Fatah. Não conseguimos, infelizmente, devido ao contratempo em que incorríamos. O Padre Jacinto levou-nos estes magníficos sítios e narrou-nos o porquê de se circunscrever agora como parte dos territórios da Cisjordânia, sobretudo o desentendimento entre o Fatah e o Hamas – aquele controlava até recentemente a parte da Cisjordânia, ao passo que este dominava a Faixa de Gaza que fomos desaconselhados a visitar, uma vez que é um lugar bastante perigoso para turistas. 

Por imperativo de agenda (a nossa aventura estava prestes a terminar na Terra Santa) tivemos que nos separar do Padre Jacinto em Jerusalém, no dia 02 Abril, em direcção a cidade de Atenas. E ele também, nos dias seguintes, partiu para os EUA. 

Para nós foi uma oportunidade única estar na Terra Santa e, sobretudo, poder trilhar os caminhos onde o nosso impoluto Salvador Jesus Cristo exerceu o seu imaculado ministério redentor em favor da Humanidade. E foi também uma grata oportunidade de poder conhecer o Padre Jacinto e juntos trocarmos impressões sobre a realidade sociopolítica do Médio Oriente e, de uma forma muito especial, da Terra Santa. 

Podíamos visitar a Terra Santa sem conhecermos o Padre Jacinto? Certamente que podíamos, mas não era a mesma coisa. Seria tudo bem diferente sem a nobre experiência que tivemos na sua proveitosa companhia. Por isso, parafraseando o Apóstolo Paulo, a quem gratidão, gratidão; a quem reconhecimento, reconhecimento; a quem louvor, louvor; a quem honra, honra  (Romanos 13:7). 

Muito obrigado por tudo, estimado Padre Jacinto Bento. Que DEUS o abençoe e o recompense por todo o bem que nos tem feito!