A Páscoa do Senhor Jesus Cristo na Teologia da Salvação

Depois de nos termos lançado numa prolixa análise sobre a suma importância do Senhor Jesus tomar o livre-arbítrio de ir a Jerusalém e toda a Via-sacra que isto acarretou até à Sua cruenta morte e posteriormente ressurreição gloriosa, sentimo-nos agora compelidos a fazer um enquadramento histórico-teológico da Páscoa do Senhor Jesus Cristo na teologia da salvação. Desde logo, quando falamos da Páscoa Cristã referimo-nos ao livramento do mundo decaído; do sacrifício expiatório do Senhor Jesus Cristo na Cruz do Calvário em favor dos pecadores; da libertação da Raça Humana outrora perdida, que vivia sob o jugo do Diabo. 

No início da criação, segundo os fidedignos relatos das Escrituras Sagradas, o Homem rebelou-se contra DEUS e, em consequência disso, foi destituído da glória da sua criação, perdendo significativamente a maioria dos direitos e privilégios que lhe foram inicialmente outorgados no jardim do Éden, levando consigo a sentença de morte, devido ao seu acto pecaminoso (Génesis 2:16-19). Apesar desta situação extremamente irregular e bastante complexa no percurso do Homem, DEUS jamais desistiu dele. Foi o Todo-poderoso Jeová que, no Seu incondicional e infinito Amor, tomou a iniciativa de comunicar com ele depois da sua deliberada queda, bem como proporcionar-lhe as túnicas de peles para vesti-lo, com vista a ocultar a sua nudez do pecado (Génesis 3:9-24). O sacrifício de alguns animais fora preciso para tal providência divina, como ficou implicitamente em Génesis 3:21. Para alguns teólogos isto significava a providência por meio do Messias em face da Sua obra redentora na Cruz do Calvário. Dito por outras palavras, DEUS na Sua Omnisciência e mediante o Senhor Jesus Cristo anularia definitivamente o poder de Satanás sobre o Homem, ferindo-lhe na cabeça e, este por sua vez, lhe ferirá no calcanhar (Génesis 3:15). Ficou assim manifesta a inimizade entre a semente da mulher e a da serpente, o Diabo, tudo apontando para a morte e ressurreição do Filho de DEUS. 

Com o plano da salvação bem delineado e traçado antes da fundação do mundo, o Todo-Poderoso DEUS ainda fez questão de compartilhá-lo com a Humanidade através do Seu povo eleito, a nação israelita, da qual descenderia o Messias Prometido. A começar, desde logo, com o Patriarca Abraão que vislumbrou a concretização do referido plano. Viu-o, dizia o autor sagrado, e alegrou-se (Genesis 12:1-3; João 8:56). E a mesma revelação com o rei David no sentido da promessa: “eu lhe serei por pai, e ele me será por filho… Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti: o teu trono será para sempre” (2 Samuel 7:14; 16). Tanto a promessa abraâmica e a davídica têm como pano de fundo central o Senhor Jesus Cristo e a Sua obra vicária na Cruz do Calvário em prol da Humanidade. 

O Eterno Jeová, desde o Livro de Génesis até Malaquias, conduziu o Seu povo de múltiplas formas com o intuito de moldá-lo à realidade espiritual. Permitiu-lhe passar por tremendas provações e adversidades, isto é, foi escravizado no Egipto por quatrocentos anos (Génesis 15:13; 46:1-34), invadido pelos Assírios (2 Reis 17:1-6; 18-9-15) e posteriormente conquistado pelos babilónios (2 Reis 24:8-17; 2 Crónicas 36:9-21; 2 Reis 25:1-21). Mesmo assim, DEUS jamais desamparou o Seu amado e eleito povo. Sempre esteve presente com ele para lhe dar a lição e orientação na conduta irrepreensível que devia seguir – que é a de voltar à origem da verdadeira adoração. Apesar da difícil experiência de atravessar “o vale da sombra da morte”, que o povo teve mesmo que enfrentar em algumas ocasiões da sua história, o Senhor libertou-o definitivamente de toda esta ignomínia e tremendos desafios, fazendo-o triunfar em tudo perante os seus temíveis inimigos. Ora, é este o grande cerne da mensagem da Páscoa: a libertação da Humanidade decaída que outrora vivia da opressão e da escravidão do pecado, obtendo deste modo o amor, a misericórdia, o perdão, a paz e a reconciliação com DEUS, por intermédio do sacrifício expiatório do Senhor Jesus Cristo. 

Tal como aconteceu à nação israelita no cativeiro do Egipto e na Babilónia, vivendo subjugada pela opressão dos seus inimigos, assim também aconteceu com cada um de nós. Estávamos todos perdidos e mortos nos nossos delitos e pecados, alheios à vontade de DEUS nas nossas vidas (Efésios 2:2-3), fazendo com que o Filho do Homem viesse ao mundo e tomasse a forma do servo cumprindo holisticamente a Missão do Pai (Filipenses 2:5; João 17:4). Viveu como um simples homem, transmitindo todos os desígnios de DEUS durante a Sua momentânea peregrinação neste “vale de lágrimas”. Foi crucificado, de forma bárbara e injusta, e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, deixando-nos a sublime promessa da vida eterna a todos quantos O recebem como único Senhor e Salvador em suas vidas (João 1:12; João 3:16)

A Páscoa, em suma, traduz o incondicional Amor de DEUS para com o mundo perdido e a inauguração de uma Nova Era do relacionamento entre DEUS e os seres humanos, através da vitória do Senhor Jesus sobre a morte. E como sustentava peremptoriamente o Apóstolo Paulo, “mas de facto Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20-21). O reputado Teólogo Protestante Ulrich Swinglio, na mesma esteira do pensamento, registava inspiradamente que “Cristo é o único caminho para a salvação de todos os que existiram, existem ou existirão”. Que assim seja. E assim sempre será.