«Estamos a chegar a um ponto crítico de viragem na brevíssima história dos
evangélicos em Portugal. Num tempo em que o cristianismo tão abismalmente se
seculariza e o materialismo com maior força impera assumindo contornos de uma
cristandade cada vez mais profana, os sinais dos tempos apontam para formas
mais radicais de ecumenismo e liberalismo teológico. Lá vai o tempo em que
devotada e reverentemente se cuidava dos mais sagrados princípios e valores da
doutrina e da moral evangélica. Profanou-se de tal maneira o sagrado que até
parece que é pecado uma pessoa bater-se pela causa da verdade e da justiça,
proclamar a santidade da vida, tentar reabilitar os pilares fundamentais da
ética cristã.
A lúcida leitura da história e a consciente avaliação da
realidade presente claramente nos mostram que é tempo de agir, seguindo e
proclamando a verdade em amor, buscando, se necessário, vias alternativas de
revitalização espiritual. Dói-me ver uma nova geração de crentes desmotivados,
desencantados face ao panorama espiritual dos nossos dias. Uns, desligam-se do
sistema e seguem a via mais fácil do conformismo. Já têm problemas que lhes
baste na gestão do seu dia-a-dia tanto no seio da família, como no do trabalho
e dos relacionamentos externos. Vão adoptando fórmulas de um cristianismo soft
e descafeinado, cada vez menos comprometidos com a igreja e mais acomodados aos
modelos profanos da contracultura do ‘presente século mau’. Outros, porventura
desviados dos valores fundamentais da fé bíblica que um dia abraçaram, vão-se
armando em livres-pensadores, enredados numa amálgama confusa de ideias que não
raro os transvia pela vereda ideológica de um cinismo cáustico e muitas vezes
induz a cometer o gravíssimo pecado de impiedade e sacrilégio. Outros ainda,
por falta de exemplos motivadores, nunca chegaram a assimilar a essência da fé
cristã, nutrindo-se de querelas e ressentimentos, e esgotando na maledicência
as poucas energias espirituais que ainda têm, sem conseguirem sequer cultivar
ou saborear a beleza e a doçura do amor, da bondade e da misericórdia.
Felizes os santos de Deus que teimam em cultivar a vida
cristã real, amando, servindo e adorando o seu Senhor, alimentados na sua
caminhada espiritual por uma gratidão infinita ao Senhor Jesus por tão grande
salvação; gratidão que lhes tempera a alma e permanentemente os motiva a amar,
servir, abençoar e bendizer, até mesmo aqueles que os difamam, perseguem ou
maltratam.
A via-sacra da vida cristã é sempre uma via dolorosa,
tal como foi a do Senhor Jesus. Mas é a única via em que o crente se realiza e
prepara para o céu. Permaneçamos, pois, fiéis a Cristo e sua Palavra, não
obstante as contradições e adversidades desta vida. Unamos as nossas forças
espirituais para tornar bela e santa a sua igreja, colaborando nela com o Senhor
Jesus para estabelecer na terra o seu reino de amor.».