O Ministério do Púlpito (7): “O Impreterível Percurso da Salvação”


Foi o tema da minha pregação no domingo passado na Igreja Evangélica Baptista da Amadora, onde sempre comunguei como membro, baseado no texto bíblico do Evangelho segundo Lucas 9:51-62 (ALI) (AQUI). O primeiro versículo desta porção das Escrituras Sagradas é-me bastante caro. Tem-me, por vicissitudes várias e supervenientes, edificado e despertado concomitantemente inúmeras inspirações. Dito por outras palavras, o Todo-poderoso DEUS tem-me falado de forma tremenda através dele. E, tanto que, por esta razão, ainda no ano passado, desdobrei-me a escrever cinco prolixos artigos sobre a teologia soteriológica que encerra, sob o título mortificador: "Considerações Pascais: A Via Dolorosa Para o Calvário (I)(II)(III)(IV)(V)", concentrando-me especialmente numa abordagem Cristocêntrica e com todas as implicações teológico-doutrinárias que isto representa no processo da salvação da Humanidade. Já na pregação em apreço procurei, humildemente, com ajuda do Espírito Santo, fazer uma análise mais prática, conjugando os onze versículos numa cadeia horizontal da realidade vivencial do Cristianismo. 

“Aproximando-se o tempo em que seria elevado aos céus”, escrevia o autor sagrado, o Senhor Jesus “partiu resolutamente em direção a Jerusalém” (Lucas 9:51). O Filho de DEUS tomou, de forma deliberada e esclarecida, a intrepidez de peregrinar para a Terra Santa, cumprindo assim com a impoluta vontade de DEUS na Sua vida. Esta não foi uma decisão qualquer e, tão pouco, fácil. Ela envolvia tremendas dificuldades, ricos associados, incompreensões, oposições dos homens e, por fim, a morte na Cruz do Calvário. Aliás, num contexto diferente desse, mais concretamente na região de Cesária de Filipe, o Senhor Jesus prediz abertamente a Sua morte expiatória em Jerusalém, informando aos seus discípulos "que era necessário que ele fosse para Jerusalém e sofresse muitas coisas nas mãos dos líderes religiosos, dos chefes dos sacerdotes e dos mestres da lei, e fosse morto e ressuscitasse no terceiro dia” (Mateus 16:21). Mesmo assim, era o caminho que Ele tinha impreterivelmente que percorrer para a nossa redenção. Perante este facto, o Senhor Jesus não desobedeceu a orientação Divina da pungente trajectória que tinha de enfrentar. 

Levando determinadamente avante esta árdua e íngreme tarefa – de se deslocar a Jerusalém – deu instruções aos mensageiros para irem preparar-Lhe atempadamente o lugar para pousar em Samaria, porque era necessário atravessar aquela circunscrição territorial, e também aproveitar ao mesmo tempo para descansar ali temporariamente, com os seus discípulos (Lucas 9:52). Acontece que, por razões de rivalidades raciais e religiosas, entre os judeus e os samaritanos (João 4:9; 20-26), estes declinaram-Lhe redondamente a solicitação com a esfarrapada desculpa que “o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém” (Lucas 9:53). Tal deve-se, além dos motivos acabados de mencionar, mormente, ao facto dessas pessoas perceberem que Ele era judeu e ia devotamente adorar em Jerusalém ao DEUS vivo, a verdadeira adoração, e não no profano e descaraterizado monte Gerizim como eles equivocadamente faziam (João 4:20), razão pela qual desdenharam-Lhe. 

Há ainda uma outra agravante nesta rejeição do Messias, patente nas profecias de Isaías e nos Salmos: o Filho do Homem “não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos”. Por isso, “era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum” (Isaías 53:2-3). Um “verme”, em suma, “e não mais um homem, motivo de zombaria do povo, humilhado e desprezado pela humanidade (Salmo 22:6). São cúmulos de motivos para, de forma grotesca e preconceituosa, o "Servo Sofredor", ser rejeitado por estes maus samaritanos (LER)

Importa ainda salientar que o Senhor Jesus não foi apenas insensivelmente rejeitado, desde o início da Sua encarnação, pelo Seu próprio povo (Lucas 2:7; João 1:11), mas também pelas pessoas de todas as raças do mundo – a Humanidade em geral. E esta incredulidade, em não querer deliberadamente recebê-Lo em suas vidas persiste, infelizmente, ainda hoje nos nossos tenebrosos dias ditos “pós-modernos”. Cada um dá as suas desculpas, para não querer nada com Ele, tal como veremos nos versículos subsequentes.  E esta nega dos samaritanos foi logo a primeira barreira inicial que surgiu abrupta e repentinamente no longo percurso do Senhor Jesus, com intuito de obstaculizá-Lo no Seu nobre propósito de ir a Jerusalém. 

Tudo isto remete-nos para o cálculo objectivo de que, ao procurar conformar-se à vontade de DEUS, surgirão sempre oposições ferozes e diversificadas para nos distrair, desanimar e desviar do nosso foco espiritual de prosseguir para Jerusalém Celestial. Vamos, máxime, ser objecto de preconceito, humilhação, chacota, desprezo e perseguição por parte de terceiros. O Diabo e os seus demónios usam camufladamente todos os artifícios ao seu dispor, até mesmo pessoas próximas, amigas e familiares, para nos tentar afastar da soberana vontade de DEUS. E, em determinados casos, para executar o seu obstinado plano maléfico, depois de debalde tentativas, lança-nos, inclusive, os “espinhos na carne”. Foi, por todos, o que fez com o Apóstolo Paulo (2 Coríntios 12:7) e, da mesma sorte, instrumentalizando o Apóstolo Pedro para colocar a “pedra do tropeço” no caminho do Senhor Jesus quando este tinha revelado abertamente aos seus discípulos o maravilhoso plano da salvação, usando as falinhas mansas "tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá” (Mateus 16:22; Marcos 8:32-33). Precisamos, por isso, de discernimento espiritual suficiente e da preciosa ajuda do Espírito Santo para revestirmo-nos das armaduras de DEUS. Só assim, estaremos preparados para “apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Efésios 6:18), com a peremptória e triunfante repreensão formulada pelo Senhor Jesus: “para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mateus 16:23). 

Mesmo com esta oposição inicial, o Senhor Jesus não perdeu de vista a Sua sagrada Missão. Além de não pagar o mal pelo mal, aliás, como Tiago e João, “filhos de trovão” (Marcos 3:17), instaram-Lhe efusivamente a fazer, isto é, para mandar descer o fogo do céu para destruir os samaritanos, tal como outrora o profeta Elias fez com os servos do ímpio rei Acazias (Lucas 9:54; 2 Reis 1:1-18). Vemos, por sua vez, a postura amorosa e tolerante do Senhor Jesus com os inimigos, mostrando-lhes o substrato da Sua obra missionária no mundo –  que não é destruir as vidas dos homens, mas sim salvá-las do pecado (Lucas 9:56; 19:10). Ser Cristão é encarnar holisticamente a mensagem do amor, em todas as suas vertentes humano-teológicas, e produzir com ele os frutos do Espírito, que são: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança (Gálatas 5:22). Quando o crente encarna estes excelsos atributos jamais pactuará com atitudes vingativas para com o próximo e, nem tão pouco, lançará anátemas sobre o seu inimigo, dizendo: “feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra” (Salmo 137:9); ou almejar para os que passam não lhe bendiga com "a bênção do Senhor seja convosco! Nós vos abençoamos em nome do Senhor” (Salmo 129:8), visto que a vingança pertence ao Senhor (Deuteronómio 32:35; Romanos 12:19; Hebreus 10:30). No devido tempo, ELE dará cada um aquilo que bem merece (2 Timóteo 4:14). E o próprio Senhor Jesus já lhes havia dado a devida instrução neste sentido – em caso de provocação, rejeição e até mesmo agressão –, exortando-lhes a abençoar aos que lhes amaldiçoem, orando pelos que os acusam falsamente. Ao que lhes bater numa face, oferecer-lhe igualmente a outra; e, ao que tirar-lhes a capa, não lhes impedir de tirar também a túnica (Lucas 6:28-29). E se, porventura, forem rejeitados ao ponto de ninguém lhes receber, nem escutar as suas palavras, apenas sair de forma ordeira, sacudindo a poeira dos seus pés (Mateus 10:14), deixando depois o juízo final nas mãos do Eterno DEUS. E foi  exactamente isso que o Senhor Jesus congruentemente traduziu em prática: saiu dali, discretamente, e seguiu para outra aldeia (Lucas 9:56), tendo sempre presente o Seu grande objectivo final, que era ir a Jerusalém morrer pelo pecado da Humanidade.