Não tenho uma visão minimalista da política e dos políticos. Concebo a acção
política dentro dos restritos parâmetros da Democracia Participativa. E na
Teoria Democrática, de uma forma abreviada, vigora o Princípio da Igualdade e
de Oportunidades entre os cidadãos, bem como a Liberdade Individual e a faculdade de exercer uma Cidadania Activa, somando ao facto do Poder
centralizar-se exclusivamente no Povo. São, de facto, as manifestas dimensões
inquestionáveis da Democracia (LER). No
entanto, é com muita preocupação que tenho vindo a acompanhar a germinação e
proliferação desnecessária dos partidos políticos na Guiné-Bissau. Neste
momento, fazendo fé nas notícias veiculadas pelos media, estamos a caminhar na
ordem do quinquagésimo partido político – num país com um milhão e meio de
habitantes – o que, de todo, é surreal e impensável. A questão, a meu ver, não
tem propriamente que ver com o facto de haver muitos partidos, mas sim a
reconfiguração dos mesmos corruptos e inabilitados políticos que grassam na
nossa praça pública, que tão bem conhecemos de outros carnavais.
Estão a formar os novos partidos políticos com o intuito de ludibriar a opinião
pública em geral e o nosso humilde povo em particular, assumindo-se astuta e
despudoradamente de "bons anfitriões" que tudo sabem
e ensinam em matéria de boa governação.
Toda esta deriva nacional, e consequente desnorte a que a Guiné-Bissau está
impotentemente submetida, remete-nos indubitavelmente para uma outra oportuna
leitura, que é a da qualificação entre políticos e politiqueiros. À primeira
vista poderão parecer a mesma coisa. Contudo, há uma diferença assinalável
entre ambos. Aqueles são desprovidos de interesses egocêntricos e assumem na
íntegra a finalidade última que se espera da acção governativa e, com isso,
melhorando positivamente a vida dos governados. Ao passo que estes não passam
de gatunos disfarçados e patronos de fraude. Não têm os mínimos escrúpulos e são
uns autênticos sofistas. Não obstante a sua total ignorância em assuntos
políticos, em consequência de recorrerem sistematicamente
a expedientes ilícitos para atingirem os seus egocêntricos interesses,
consideram-se os mais doutos e esclarecidos para desempenharem as nobres funções
do Estado. O único critério válido para classificar quem quer que seja como genuíno
político, escrevia peremptoriamente Platão, é a posse da "Ciência
Política" e não o ocupar um cargo político-governativo ou
reclamá-lo a todo o custo. Acontece que, na Guiné-Bissau, há uma completa
inversão de valores devido ao défice extremo de políticos de verdade e
multiplicação dos politiqueiros que minam e obstam decisivamente ao nosso
progresso colectivo.
Vou continuar inconformadamente a assistir a esta "procissão
partidária". Ciente que, infelizmente, não vai resolver o crónico
problema do país, antes pelo contrário agravá-lo ainda mais. É, como se diz em
bom crioulo da Guiné, "remedi ku kata kura". Por isso,
congruentemente com tudo aquilo que tenho defendido publicamente aqui e em
outros fóruns sobre a inúmera desfaçatez político-governativa que se vive há
muito no nosso país (LER), votarei convictamente em branco nas
próximas eleições que se avizinham no país (LER).