«O etnónimo
manjaco é uma outra designação usada desde o século XVIII por Beaver para falar
dos Buramos (Brames, Berames, Mancanhas) ou Pepeis. Ameal relata-nos que os
interessados se chamam a si próprios Bandjaku (Nandjaku). A outra expressão é a
de Má-Djaco e Indji-Djaco, composta por três partículas: Mã “eu”, “nós”, Dja “dizer”
(de Pe-Djá) e Ko (Có) “partícula afirmativa”. Assim, os grupos que ocupavam as
regiões de Cacheu, Churo, Bianga, Jol, Pantufã e a ilha de Bissau conservam o etnónimo
Papel; os de Bula e Cô tornam-se Brame ou Mancanha e os habitantes da parte central do
território, as ilhas de Pecixe e Jeta
(Ilheta) são chamados Manjacos. Bocandé faz referência em 1849 aos “Pepeis
da Costa Baixa ou Bassarel e Manjacos” cuja região seria dividida em Bassarel e
Baboc. Carreira cita uma passagem do estudo de Bocandé (1849) falando dos
Manjacos como pessoas que “(…) se colocam ao serviço de todas as nações que
fazem comércio na costa ocidental da África. Eles servem como marinheiros em
todas as embarcações. Primeiro empregados pelos portugueses, eles aprendem a
sua língua, o que os faz serem considerados portugueses nas colónias francesas
e inglesas. São chamados de Manjacos porque, ao conversar na língua da sua
região, repetem muitas vezes a palavra “Manjagó” que significa: “Diga” ou “Eu
digo”.
J. Ameal defende
que os Manjacos são o resultado de uma mestiçagem entre os Pepeis e Brames, ou
mesmo com os Floup e Biafadas. Como em muitos outros casos, a utilização deste etnónimo
generalizou-se na Guiné Portuguesa. Carlos Lopes vê nesta divisão dos Brames “…um
dos melhores exemplos da utilização da etnicidade pelo colonislismo que
conseguiu classificar estas populações sob diferentes etnónimos emprestando-lhes
particularidades artificiais que eles acabaram por aceitar como factos.»
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(Tcherno Djaló, in O Mestiço e o Poder [Identidades, Dominações e
Resistências na Guiné-Bissau], Veja, 2012, Lisboa, p. 55 e 56).