Foi o
tema objecto de debate ontem no programa da nossa "Dama
di Ferro" Sali Mané Semedo. Tive o gosto de ser um dos convidados
especiais, juntamente com a nossa estimada e grande activista guineense Amélia
Costa Injai. O tema por si só não foi inocente, tendo em conta a indecorosa
vociferação e onda de linchamento de carácter que se tem arreigado no nosso
meio, ganhando cada vez mais proporções preocupantes. Na minha explanação, tal
como de costume, fiz um breve enquadramento geral do imprevisível poder das
redes sociais – tanto no bom como no mau sentido. Acontece que, por razões
cognoscíveis, os exemplos malévolos acabam momentaneamente por sobressair mais,
criando assim impactos destruidores do que propriamente as boas acções, como a
realidade prática nos tem demonstrado.
Dito isto, salientei que esta ignobilidade das redes sociais dos
guineenses não me surpreende em nada. Tão, simplesmente, espelha aquilo que é
a "identidade transversal" da generalidade do nosso
povo. O guineense típico não respeita as regras democráticas, não convive bem
com as diferenças de opiniões e o contraditório em particular, bem como
confunde equivocadamente a política com politiquices, o activismo social com a
personificação, a liberdade com libertinagem (LER). Tal verdade é notória na
nossa convivência social e, de forma mais vincada, no meio Político. Em suma, o
debate de ideias acaba por ser reduzido e esgotado meramente a uma arena de
confrontação e de ajustes de contas uns com os outros, razão pela qual não me
surpreende em nada o reprovável comportamento destes badamecos e "activistas de sofá" nas redes sociais que,
presunçosamente, se armam inutilmente de "intelectuais" e "agentes
de mudança". E mais, augurei ainda que esta onda de insultos e
intimidações vai paulatinamente aumentar à medida que se aproxima o período das
eleições. Temo mesmo que, em casos extremos, poderão vir a surgir prisões
arbitrárias e espancamentos e outras monstruosas "cabalindadi" à
moda guineense com motivações político-eleitorais.
Procurei ainda destacar que esta vergonhosa situação de insultos
nas redes sociais não tem nada que ver com o critério de razão ou culpa de quem
quer que seja. Ela ultrapassa este binómio minimalista e maniqueísta. Apenas
consubstancia o verdadeiro carácter daqueles que precisam de usar os hediondos
artifícios de chantagens, intimidações e insultos para silenciar os opositores
e fazer valer as suas convicções. São pessoas desprovidas dos princípios e
valores de uma boa educação, confirmando assim o adagio crioulo-guineense – "fidju
di mal falan mal". O mais triste de tudo isso é ver esses
insignificantes a serem instrumentalizados por alguns caudilhos a troco de uns
míseros valores pecuniários para destilarem veneno nas redes sociais. É mesmo
triste.
Terminei a minha intervenção, repudiando tais vergonhosos e
sectários comportamentos que em nada acrescentam ao debate político. Era
suposto neste momento estarmos todos a debater os programas eleitorais dos
partidos políticos, o cenário governativo pós-eleitoral e o futuro do nosso
País a todos os níveis (LER), com o intuito de
elucidarmos uns aos outros para podermos fazer uma escolha mais acertada no
escrutínio que se avizinha. Mas, infelizmente, não é isso que está a acontecer.
Antes pelo contrário, está-se a discutir mais a intimidade da vida privada das
pessoas, somando a aleivosas acusações e linchamento público sem fim à vista.
Não me revejo nesta lamentável postura que tem como objectivo principal
enxovalhar, humilhar, instaurar a divisão, o anarquismo e o caos. Por isso, não
contem comigo. Estou fora. Mesmo fora à distância.