«A verdade, porém, é
que não há homossexualidade sem heterossexualidade. Enquanto a vida humana não
for substituída por trocas mecânicas, geradas por computadores e cientistas, e
enquanto não se criar um Grande Útero electrónico, que gerará a vida sem
relações sexuais, e enquanto não se propagar a profissão, sindicalizada e
taxada (os governos não dormem), de “barriga de aluguer”, e enquanto não se
estatuir que a mulher é uma mera reprodutora impessoal, enquanto nada disso for
assim, a realidade é a da vida criada por seres de sexos diferentes. Não
discuto aqui nem o afecto, nem o respeito, nem o carinho, nem o mistério do
amor. Não discuto aqui a dignidade de cada um. Não discuto aqui monopólios
sobre o coração. Só digo que a regra comum, a dos casamentos heterossexuais,
foi instituição porque era “natureza” biológica. O facto de se ter perdido em
ritos meramente formais, parcerias vazias, laços de conveniências, traições,
desumanidades não altera a realidade».
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(Extraído in a Revista SÁBADO, p. 30, nº 508 – 23 a 29 de Janeiro de 2014).