Tenho acompanhado de perto as estrondosas denúncias
contidas no caso “Luanda Leaks”. Confesso que não fiquei minimamente
espantado ou surpreendido com tais lamentáveis revelações, tal como julgo ser com
a generalidade da opinião pública angolana e internacional. Há tantos anos que
a cleptocrata família dos Santos é julgada e condenada no Tribunal Popular de
ser viciadamente nepotista, mafiosa, corrupta e sanguinária. Todo o mundo sabe
perfeitamente que a milionária fortuna acumulada por Isabel dos Santos, os seus
irmãos, a sua família e os seus correligionários do partido MPLA resulta da
expropriação indevida da riqueza do povo angolano, tendo em conta o despotismo
governativo implantado há décadas pelo “arquitecto da paz” José
Eduardo dos Santos. E este caso “Luanda Leaks” só veio confirmar aquilo que a maioria
das pessoas já sabia, infelizmente.
Por isso, esta extraordinária história de humilhação
pública da família dos Santos, especialmente de José Eduardo dos Santos,
no “Luanda Leaks”, vem, mais uma vez, lembrar como a
fatalidade é uma experiência de que se podem tirar lições únicas, tanto sobre a
fragilidade da vida e as contingências que a atravessam, como sobre os
paradoxos do destino e os desígnios que os selam. Mas ela permite –
independentemente da evolução judicial do caso – tirar algumas conclusões mais,
isto é, o poder e a glória são indubitavelmente passageiros (LER). Sic transit gloria mundi,
formulava inspiradamente há séculos Tomás de Kempis nas suas construções
dogmáticas. De facto, sem dúvida, toda a glória do mundanal é transitória.