“Saí esta manhã de Atlanta, e quando íamos a levantar o voo – éramos seis – o piloto disse pelo altifalante: «Pedimos desculpa pelo atraso, mas temos connosco no avião o Dr. Martin Luther King. E para ter a certeza de que todas as bagagens eram inspeccionadas e de que estava tudo bem no avião, tivemos de verificar tudo com muito cuidado. E tivemos o avião sob protecção e vigilância durante toda a noite.» Depois cheguei a Memphis. E ouvi falar das ameaças, ou dos rumores de ameaças que andaram no ar, de actos que estariam preparados contra mim por alguns dos nossos irmãos brancos de mente doentia.
Pois bem, não sei o que vai acontecer agora; temos pela frente dias difíceis. Mas isso para mim já não tem importância, porque já cheguei ao cume da montanha. E não me importo. Como qualquer outra pessoa, gostava de ter uma vida longa – a longevidade é uma coisa boa. Mas agora não estou preocupado com isso. Só quero fazer o que for da vontade de Deus. E Ele permitiu-me subir ao cume da montanha. E olhei de lá de cima e vi a terra prometida. Pode ser que não a alcance convosco. Mas quero que saibais esta noite que o nosso povo há-de alcançar a terra prometida. E eu estou feliz, esta noite. Não estou preocupado com nada. Não estou com medo de ninguém. Os meus olhos viram a glória da chegada do Senhor.[1]”
[1] Últimas palavras de Martin Luther King Jr., extraído na sua autobiografia, in Eu Tenho Um Sonho, p. 398, Bizâncio, Lisboa, 2003. Este foi o último discurso do Pastor Baptista e Activista dos Direitos Humanos, Luther King, no templo do bispo Charles J. Mason, em Memphis. Um dia depois desta famosa alocução, 4 de Abril de 1968, foi barbaramente assinado no Motel Lorraine.
Luther King inspirou-se, nestas suas últimas palavras, no legado do Patriarca Moisés que subiu ao cume das campinas de Moabe ao monte Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jericó para vislumbrar a Terra Prometida – depois de ter liderado abnegadamente o povo de DEUS no deserto por aproximadamente quarenta anos. Viu a Terra Prometida, mas não chegou de entrar nela. Assim, diz as Sagradas Escrituras, “morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme o dito do Senhor” (…) E os filhos de Israel prantearam a Moisés trinta dias, nas campinas de Moabe; e os dias do pranto do luto de Moisés se cumpriram” (Deuteronómio 34:1-8).
A Terra Prometida que Luther King vislumbrou, antes de dar o encontro definitivo com o Seu Salvador Jesus Cristo, é a mesma Terra Prometida que Obama procurou, de forma um pouco desconfigurada, desvendar no seu recente livro A Terra Prometida (que já estou a ler).
