Atribui-se ao monge
agostiniano Tomás de Kempis a autoria da célebre frase latina “sic transit gloria
mundi”, que numa tradução aberta significa “toda glória do mundo é transitória”
ou “o quão rapidamente passa a glória do mundo”. Os filósofos antigos
interligavam simultaneamente a noção da glória com o poder, como sendo corolário
axiológico da suma felicidade do homem e do seu triunfo final nesta vida,
máxime no pensamento utilitarista de Jeremy Bentham, John Stuart Mill e Tomás
Hobbes. Este último, inclusive, vai ao ponto de considerar que somente o
soberano detém realmente o poder – seja ele um homem ou uma assembleia de homens
–, razão pela qual deve exercê-lo de forma coerciva e absoluta.
Há, no entanto, uma
patente querela doutrinária sobre a definição do poder e a sua finalidade
última. Se o homem se apercebesse com prematura sabedoria, observavam os
moralistas Cristãos nas suas visões deterministas sobre a natureza humana, do
facto de a vida terminar numa radical inutilização e de todo o poder e riqueza
acumulada em vida não poupar ninguém da decadência e da morte, veria o absurdo
do esforço e a natureza pírrica de todo o triunfo – e cairia, por isso, na
contemplação e na indolência, contente, resignado com a pobreza resultante da
sua sábia improdutividade. Por isso, nesta esteira de pensamento, o rei Salomão
qualificava peremptoriamente o poder humano e toda a glória do mundo de “vaidade de
vaidades! Tudo é vaidade e aflição do espírito (Eclesiastes 1:2; 2:26).
Este longo intróito vem
na sequência da sucessão de poder que terá lugar hoje nos EUA. Dentro de
algumas horas Donald John Trump deixará de ser presidente de um dos países mais
poderoso do mundo. A partir das 11h:00 desta manhã nos EUA passará a ser
qualificado como o ex-Presidente dos Estados Unidos da América e, assim,
passará a ser julgado definitivamente pelo seu legado político-governativo. Um
legado que ficou profundamente marcado por vários escândalos sem precedentes –
tanto a nível interno como externo. O Presidente que aspirava “Make America
Great Again” ficou bastante aquém neste seu desiderato político-governativo. Por
isso, foi duramente penalizado pelo povo americano nas urnas. O senhor Donald
John Trump sai da Casa Branca sem honra nem glória. Sai pela porta dos fundos.
Saí para nunca mais carregar a Res Publica americana. Sai para não deixar
saudades nenhumas. E, por fim, sai para ser julgado pela História. É mesmo fim
de um ciclo político. Era um desfecho previsível. Sic transit gloria mundi...
