Os Fantasmas da Educação


Não consigo compreender o alcance prático deste estudo holandês, que associa directamente a patologia do narcisismo com o excesso de elogios dos pais para com os filhos (LER). Digo isto porque o entendimento que tem triunfado, nas últimas décadas, a nível da educação, é o dos pais evitarem censurar os filhos e pior ainda bater-lhes, sob pena de causar neles uma baixa auto-estima e desequilíbrios emocionais para o resto da vida. Por isso, recomendavam os cientistas-pedagogos que os pais devem procurar cingir-se unicamente ao conceito da “pedagogia positiva”, realçando apenas as qualidades intrínsecas dos filhos, acompanhando tal postura com uma boa dose de mimos, abraços, beijos, elogios e uma constante valorização e declaração do amor. Agora este estudo vem dizer praticamente o contrário. 

O grande pensador inglês Bertrand Russell, consciente da aurora desta realidade, denuncia- a de forma peremptoria, considerando que a “psicanálise aterrorizou os pais cultos com o medo de causarem, sem querer, mal aos filhos. Se os beijam, podem provocar o complexo de Édipo; se não os beijam, podem provocar crises de ciúmes. Se os repreendem em qualquer coisa, podem fazer nascer neles o sentimento do pecado; se não o fazem, os filhos adquirem hábitos que os pais consideram indesejáveis. Quando vêem as crianças a chupar no polegar, tiram disso toda a espécie de conclusões terríveis, mas não sabem o que fazer para o evitar. O uso dos direitos dos pais que era antigamente uma manifestação triunfante da autoridade, tornou-se tímido, receoso e cheio de escrúpulos” (LER)

É curioso ainda notar que a Escola que João Amós Comenius fez sobre esta temática da educação, na sua célebre obra “Didáctica Magna”, que lhe conferiu o título de “Pai da Pedagogia Moderna”, é completamente oposta àquilo que é hoje bastante apregoado nos círculos académico-científicos e na sociedade em geral. 

Quando pensamos no delicado tema da educação ressoam sempre essas distantes tensões, esses motivos para a culpabilização, para a renúncia, para a temeridade, para a ambiguidade e frustração, a lembrarem-nos dos arbítrios e acasos de que a nossa cultura pós-moderna é feita. Tudo culpa dos psicanalistas, educadores e dos pais inseguros...