Os Dogmas Que Não Têm Acolhimento nas Escrituras Sagradas (II)


Acresce ainda o facto de, depois de Maria ter dado à luz Jesus Cristo em Belém de Judeia, o Evangelista Mateus usar a expressão seu “filho primogénito”, contrastando com o termo do filho “Unigénito de Deus” empregue por João 3:16 e em inúmeros outros trechos sagrados. Atentando no significado etimológico da palavra “primogénito”, concluir-se-á que difere do sentido e alcance com o de “Unigénito”. Dito de outra forma, a palavra "primogénito" advém de “que ou aquele que nasceu antes dos outros irmãos; filho mais velho”, ao passo que o “Unigénito” traduz "o Único gerado por seus pais; Filho único". Nas Escrituras Sagradas, o Senhor Jesus Cristo encarnou as duas denominações concomitantemente. O termo “Filho de Deus” tem quatro grandes significados bíblicos que, de forma elucidativa, procuraremos descortinar. 

Segundo o reputado Teólogo George Eldon Ladd, na sua afamada obra "Teologia do Novo Testamento", formalizou sabiamente que uma criatura de Deus pode ser denominada filho de Deus em um sentido nativista, em virtude de dever sua existência à atividade criativa imediata de Deus (Êxodo 4:22; Ml. 2:10; At. 17:28). Na segunda maneira, a expressão “filho de Deus” pode ser usada para descrever a relação que os homens podem manter com Deus como objetos peculiares de seu cuidado amoroso. Este é o uso moral-religioso e pode ser aplicado tanto às pessoas em geral como à nação de Israel (Êxodo 4:22; Jo. 3:3; 1:12; Rm. 8:14-19; Gl. 3:26; 4:5). Um terceiro significado é messiânico; o rei da linhagem de Davi é designado como filho de Deus (2 Sm. 7:14). Esse uso não envolve uma implicação necessária quanto à natureza divina do personagem messiânico; o termo refere-se à posição oficial de Messias. Um quarto significado é teológico. Na revelação contida no Novo Testamento e na teologia cristã que se desenvolveu posteriormente, a expressão “Filho de DEUS” veio a ter um significado mais elevado: Jesus é o Filho de Deus porque Ele é Deus e participa da natureza divina. O propósito do Evangelho de João é demonstrar que Jesus é tanto Cristo como o Filho de Deus, e fica claro, de uma análise do prólogo de João, que Jesus, como o Filho de Deus, o Logos, era pessoalmente preexistente; Ele próprio era Deus, e encarnou-se com o propósito de revelar Deus à humanidade (Rm. 8:3; Gl. 4:4; Hb. 4:14). 

Subscrevemos na íntegra esta tese defendida pelo conceituado teólogo canadiano. E salientamos ainda que, para efeitos de maior e melhor esclarecimento do assunto em apreço, em relação ao facto do Senhor Jesus Cristo ser o Filho Unigénito de DEUS revela a Sua eterna divindade como a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Aqui não se colocam grandes dificuldades de interpretação, nem tão pouco há divergência sobre isso. A querela doutrinária prende-se mais com a expressão “filho primogénito”, de Lucas 2:7, levando a Igreja Católica a entender que o primogénito não é necessariamente o primeiro duma série em sucessão. Por todos, o agora Papa Emérito Ratzinger vai ao ponto de sustentar que “o termo primogénito não alude a uma numeração em ato, mas indica uma qualidade teológica expressa nas mais antigas coleções de leis de Israel”. E, assim, enfatizando “que o conceito de primogenitura adquire uma dimensão cósmica: Cristo, o Filho encarnado, é por assim dizer, o primeiro de Deus e antecede toda a criatura, que está ordenada para Ele e a partir d´Ele”. Por isso, sumaria, “é também princípio e fim da nova criação, que teve início com a ressurreição” (Joseph Aloisius Ratzinger, in Jesus de Nazaré, Editora, Planeta, 2013). 

Não comungamos deste entendimento redutor do agora emérito Papa Bento XVI, não obstante algumas verdades parcelares que astutamente encerra. Julgamos que parte de uma pressuposição equivocada na sua construção teológica. O primogénito a que o Evangelista alude no texto sagrado é referente ao recém-nascido filho de Maria. Não hesitamos em admitir que a mesma expressão vai ganhando outros significados nas epístolas sagradas sobre o papel preponderante e determinante do Messias no processo da Criação e Salvação da Humanidade. Desde logo, o facto do Senhor Jesus Cristo ser “o primogénito entre muitos irmãos (Romanos 8:29)”, não somente consubstancia a Sua primazia na ordem da dignidade, mas Aquele que inaugura uma nova Humanidade – o primogénito de toda a criação. Ele é antes de todas as coisas e nele subsistem todas as coisas, e ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o Princípio, o primogénito dentre os mortos para que em todas as coisas tenha a primazia (Colossenses 1:17-18). É através Dele que herdamos a vida eterna, mediante o Seu sacrifício expiatório na Cruz do Calvário, ou seja, todos aqueles que no Baptismo morreram e ressuscitaram com Ele. 

Uma coisa é Jesus Cristo ser o nosso irmão mais velho pela Graça de DEUS. Outra coisa, e bem diferente, é Ele ser o "primogénito” de Maria e José. A Igreja Católica, refugiando-se no seu preconceito doutrinário, não quer reconhecer esta manifesta verdade, mesmo indo contra todas as evidências teológicas. Sabe que a partir do momento em que admitisse a união marital de Maria e José colocaria automaticamente em causa a divinização de Maria, apelidada nos documentos oficiais da Igreja ao longo dos séculos como sendo a "mãe de Deus Redentor”

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(O artigo em apreço terá continuidade nas próximas publicações, querendo DEUS).