“Depois desta
exortação à vigilância, Jesus afasta-Se um pouco. Começa verdadeira e
propriamente a oração do monte das Oliveiras. Mateus e Marcos dizem-nos que
Jesus caiu de rosto por terra: é a posição de oração que exprime a extrema
submissão à vontade de Deus, o abandono mais radical a Ele; uma posição que a
liturgia ocidental prevê ainda na Sexta-Feira Santa, na Profissão Monástica e
também na Ordenação Diaconal e nas Ordenações Presbiteral e Episcopal.
Diversamente, Lucas diz que Jesus reza de joelhos. Deste modo, tomando por base
a posição de oração, insere esta luta nocturna de Jesus no contexto da história
da oração cristã: Estevão, durante a lapidação, dobra os joelhos e reza. (cf.
Act 7, 60); Pedro ajoelha-se antes de ressuscitar Tábita da morte (cf. Act 9,
40); Paulo ajoelha-se quando se se despede dos anciãos de Éfeso (cf. Act 20,
36), e outra vez quando os discípulos lhe dizem para não subir a Jerusalém (cf.
Act 21, 5). A propósito, diz A. Stoer: «Todos eles, perante a morte, rezam de
joelhos; o martírio não pode ser superado senão através da oração. Jesus é o
modelo dos mártires.”
(Papa Bento XVI – Joseph Ratzinger, in Jesus de Nazaré
(Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição), p. 129 e 130; Principia; Cascais,
2011).
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Orar, especialmente de joelhos, é uma boa prática que a
ala tradicional do protestantismo postergou na sua liturgia público-congregacional.
Praticamente não se ensina na Escola Bíblica Dominical (EBD), fazendo com que a
generalidade dos fiéis não o coloque em prática nas suas orações rotineiras.
Somente se verifica esporadicamente nos cultos da ordenação pastoral e de
casamento, tendo em conta a oração de imposição das mãos do presbitério perante
os consagrados. Mesmo nos círculos pentecostais ou neo-pentecostais, onde se
costumam enfatizar efusivamente o conceito de oração, acabam sempre por esvaziar este importantíssimo
pressuposto espiritual e ficar bastante aquém na postura correcta que se deve
seguir quando de joelhos diante do SENHOR para orar. Todo este dilema consubstancia
a profunda crise de fé em que estamos submergidos, ganhando cada vez mais
contornos preocupantes na nossa espiritualidade.