A Identidade Étnico-religiosa, o Tribalismo e o Fanatismo Doentio


Não me surpreende a forma leviana e bastante superficial como tem estado a ser encarada e abordada a sensível questão do tribalismo na Guiné-Bissau por parte das várias sensibilidades do país, nomeadamente os partidos políticos, a sociedade civil e os guineenses em particular. Tal como defendi oportunamente aqui, através de um prolixo artigo de opinião, o tribalismo é um facto notoriamente indesmentível na Guiné-Bissau – por mais que possam surgir objecções em sentido contrário para camuflá-lo ou negá-lo de forma deliberada (LER). Não estou, com isso, em circunstância alguma, a misturá-lo com aquilo que alguns esclarecidamente apelida(ra)m de “afinidade” étnico-religiosa. Não, não é nada disso. É mesmo o tribalismo puro no seu depreciativo conceito etimológico-social e filosófico. 

A legítima afinidade étnico-religiosa é uma coisa. Outra coisa, e bem diferente, é o fanatismo tribalista que comporta efeitos perniciosos para a sociedade em geral. Por exemplo, para ilustrar estas manifestas diferenças conceptuais, sou um devoto Cristão, guineense e da etnia papel. Tais realidades fazem parte definitivamente do meu substrato identitário. Não há objectivamente qualquer mal da minha parte em nutrir mais simpatia pelos Cristãos, guineenses e papéis em detrimento de outras crenças religiosas, nacionalidades e etnias, contando que não seja uma simpatia obscurantista e viciada pelo cancro do fanatismo doentio. Por outras palavras, não posso identificar-me cegamente com uma pessoa só pelo facto de ser Cristão, guineense e papel, mesmo que não tenha ideais progressistas ou esteja no caminho errado. Isto já não é uma “afinidade” étnico-religiosa, mas sim um apedeutismo (burrice, bem entendido). 

Ora, é exactamente isso que está a acontecer neste momento na Guiné-Bissau, infelizmente. A maioria apoia e defende cegamente um político, candidato ou partido única e exclusivamente pelo facto de pertencerem à mesma etnia ou religião. Não pela sua capacidade intelectual, idoneidade ou inovador programa político-eleitoral que dispõem para dinamizar o país, mas tão-simplesmente por obcecada afinidade étnico-religiosa, pondo em causa a Unidade Nacional. Os politiqueiros e corruptos da nossa praça pública, seduzidos por este obscurantismo social, desdobram-se até à exaustão a explorar camufladamente esta ignorância de alguns guineenses para poderem chegar rapidamente ao poleiro governativo e assim perpetuarem-se caprichosamente nele (LER)

Por isso, não é admirar o estado calamitoso e a miséria gritante em que o nosso país se encontra desde a sua história de auto-determinação que, em parte significativa, sem dúvida,  deve-se ao cancro do tribalismo étnico-religioso (ALI) (AQUI)