Um dia depois de ter sido lançado
oficialmente o primeiro jornal português de fact-checking cognominado “Polígrafo” (LER) para depurar,
dizem os seus fundadores, as falsas notícias que têm pululado impunemente nas
várias plataformas de comunicação social, sinto-me compelido novamente a
posicionar sobre os reiterados diferendos em torno do uso das redes sociais.
Confesso publicamente que não tenho uma mundividência minimalista sobre as
redes sociais e, tão pouco, catastrofista, tal como algumas pessoas da nossa
praça pública (ALI) e (AQUI). As redes sociais configuram, sem
margem para dúvidas, uma das maiores e melhores conquistas do presente século.
Veio democratizar o debate e a opinião pública, acabando, deste modo, com o
elitismo secular e monopolista dos afamados “fazedores de opinião”, que
privilegiadamente dominam restritivamente os medias tradicionais. Além
deste assente e incontestável ganho humano-social, as redes sociais
proporcionam extraordinárias interações que, de outro modo, seriam
completamente difíceis de conseguir, somando a um rigoroso escrutínio público
sobre a realidade política, governativa, social, religiosa, cultural e tudo
aquilo que se passa no mundo (ah, já estava a esquecer, e também da intimidade
da vida privada, que vai configurando a sedutora bisbilhotice de sempre da vida
alheia).
As redes sociais vieram naturalmente revolucionar
e outorgar uma outra dimensão a liberdade de expressão, conferindo a todos, sem
execpção, de forma igualitária e justa, as ferramentas indispensáveis para se
dar a conhecer ao mundo – quer seja no aspecto positivo ou negativo. Hoje
qualquer ser humano pode ser dono da sua própria opinião, construir a sua exclusiva
narrativa dos acontecimentos e catapultar-se para a ribalta, com as profundas
implicações sociais que isso encerra. Tudo isto, no cômputo geral, é um bom
sinal e bastante benéfico para a sociedade. É a melhor “pulsação” da
Democracia Participativa.
Naturalmente que todos estes
benefícios comportam também alguns riscos e desvantagens, tal como a
generalidade dos ganhos (LER). Há sempre prós e contras
praticamente em tudo. É nesta óptica que devem ser vistas e enquadradas as
falsas notícias que têm estado a ser deliberadamente veiculadas nas redes
sociais e, em determinados casos, nos medias tradicionais. E de facto, elas
têm-se disseminado com um alcance sem precedentes, pondo em causa a reputação
dos países, o bom nome das pessoas, instituições, com o claro objectivo de
prejudicar os visados. Acresce ainda, a tudo isto, o acolhimento bastante
favorável no seio das redes sociais da mensagem de intolerância de várias
ordens, do autoritarismo, de ódio declarado, do racismo, do sexismo, da
violação de direitos da personalidade no seu conceito latu sensu,
da manipulação da opinião pública e toda a sorte de despotismo que por aí
prolifera.
Surge, perante tudo isto, mutatis
mutandis. É importante, com carácter de urgência, alterar este malévolo e
assustador cenário das redes sociais. Apostar sobretudo em outros meios mais
exequíveis para combater definitivamente estes galopantes males e não continuar
no mesmo discurso tautológico, conspirativo e de vitimização das redes sociais
por vários relevantes acontecimentos mundiais, nomeadamente a ascensão ao poder
dos partidos extremistas e o Brexit (LER), culpando em última instância as
falsas notícias das redes sociais por isso. É preciso reforçar a fiscalização
preventiva e segurança das plataformas informáticas, apertando o rastreio das
informações que consubstanciam uma clara violação dos Direitos Humanos,
chamando a responsabilidade jurídico-penal aos putativos infractores. Só assim
haverá condições propícias para banir as notícias atentatórias da dignidade da
pessoa humana.
No que toca às falsas notícias não há
outra alternativa viável que não seja a sensibilização da opinião pública para
veemente repudiá-las, através de um consumo esclarecido e recensão crítica das
notícias que vão aparecendo na “rede”.
As falsas notícias, em abono da verdade, traduzem uma clara manifestação da
liberdade de expressão. Justamente por isso é que surgiu o jornal “Polígrafo”,
como outros dos seus congéneres, para fazer face às fake news que
se vão propagando descontroladamente nas redes sociais e também na “insuspeita” imprensa
de várias sensibilidades ideológico-políticas.