“1. Discriminar alguém
sem um fundamento racional é atentar contra a sua dignidade – uma vez que todos
somos criados à imagem e semelhança de Deus (Gn, 1,27), todos temos a mesma
dignidade.
2. Toda a discriminação
racial é profundamente contrária aos postulados cristãos: há uma
incompatibilidade axiológica entre cristianismo e racismo – nenhum cristão pode
ser racista e nenhum racista se pode dizer cristão.
3. Em sentido
diferente, a apologia da discriminação racial tem em Nietzsche e nos seus
herdeiros um expoente máximo: a defesa de “uma raça dominante” ou de “homens
superiores” (“Para Além do Bem e do Mal”, nºs 61 e 62), em que se alicerçou o
nazismo, encontra hoje novas formas de projeção – o trans-humanismo é uma
delas.
4. Uma utilização da
técnica e da ciência tendo o propósito da criação de super-homens,
transformando as condições físicas e psíquicas naturais do ser humano, por via
de uma alteração tecnológica da nossa identidade genética, numa fusão entre o
artificial e o humano, procurando construir uma nova raça, poderá tornar-se a
preocupação central do século XXI – aqui reside o problema do trans-humanismo.
5. Se a ciência e a
tecnologia deixam de estar ao serviço da pessoa humana viva e concreta e da sua
dignidade, sem quaisquer limites éticos ou jurídicos, tudo se torna possível –
através do trans-humanismo, o ser humano arrisca-se, arvorando-se em Deus, a
destruir a sua própria humanidade.
6. Tal como o
antissemitismo e o “apartheid” traduzem formas radicais de discriminação racial
do século XX, o trans-humanismo poderá ser a discriminação racial do século
XXI, criando, acima da raça humana, uma raça trans-humana e, pelas suas
características artificiais, também super-humana – a ideia de Platão de
“indivíduos superiores” e “indivíduos inferiores” (“A República”, 459e, 460a e
c) terá, por manipulação humana, existência biológica.
7. A vitória do
trans-humanismo, criando um “homem novo”, expressão de uma nova civilização,
numa “ascensão da humanidade à sobre-humanidade” (Miguel de Unamuno, “La
Dignidad Humana”, Madrid, 4ª ed., 1957, p. 145), recuperando o mito de Hitler
sobre a raça ariana, conduzirá ao suicídio da igual dignidade de todo o género
humano.”[1]