Discriminação Racial e Trans-humanismo: O Novo Desafio do Século XXI, Pelo Professor Catedrático Paulo Otero


“1. Discriminar alguém sem um fundamento racional é atentar contra a sua dignidade – uma vez que todos somos criados à imagem e semelhança de Deus (Gn, 1,27), todos temos a mesma dignidade.
2. Toda a discriminação racial é profundamente contrária aos postulados cristãos: há uma incompatibilidade axiológica entre cristianismo e racismo – nenhum cristão pode ser racista e nenhum racista se pode dizer cristão.
3. Em sentido diferente, a apologia da discriminação racial tem em Nietzsche e nos seus herdeiros um expoente máximo: a defesa de “uma raça dominante” ou de “homens superiores” (“Para Além do Bem e do Mal”, nºs 61 e 62), em que se alicerçou o nazismo, encontra hoje novas formas de projeção – o trans-humanismo é uma delas.
4. Uma utilização da técnica e da ciência tendo o propósito da criação de super-homens, transformando as condições físicas e psíquicas naturais do ser humano, por via de uma alteração tecnológica da nossa identidade genética, numa fusão entre o artificial e o humano, procurando construir uma nova raça, poderá tornar-se a preocupação central do século XXI – aqui reside o problema do trans-humanismo.
5. Se a ciência e a tecnologia deixam de estar ao serviço da pessoa humana viva e concreta e da sua dignidade, sem quaisquer limites éticos ou jurídicos, tudo se torna possível – através do trans-humanismo, o ser humano arrisca-se, arvorando-se em Deus, a destruir a sua própria humanidade.
6. Tal como o antissemitismo e o “apartheid” traduzem formas radicais de discriminação racial do século XX, o trans-humanismo poderá ser a discriminação racial do século XXI, criando, acima da raça humana, uma raça trans-humana e, pelas suas características artificiais, também super-humana – a ideia de Platão de “indivíduos superiores” e “indivíduos inferiores” (“A República”, 459e, 460a e c) terá, por manipulação humana, existência biológica.
7. A vitória do trans-humanismo, criando um “homem novo”, expressão de uma nova civilização, numa “ascensão da humanidade à sobre-humanidade” (Miguel de Unamuno, “La Dignidad Humana”, Madrid, 4ª ed., 1957, p. 145), recuperando o mito de Hitler sobre a raça ariana, conduzirá ao suicídio da igual dignidade de todo o género humano.”[1]



[1] Pensamento do senhor Professor Catedrático Paulo Otero, extraído no seu Facebook.