OS EQUÍVOCOS TEOLÓGICO-DOUTRINÁRIOS SOBRE A CEIA DO SENHOR: (2): Quem São as Pessoas Que Poderão Tomar a Ceia do SENHOR?



Depois dos enquadramentos teológicos que fizemos sobre o alcance último da Ceia do Senhor e o significado dos elementos contidos nela (LER)levanta-se agora a pertinente questão: Quem são as pessoas que poderão tomar a Ceia do Senhor? Numa leitura descuidada à primeira vista esta pergunta poderá parecer bastante facílima de responder e, até de alguma certa forma, inoportuna de fazer, tendo em conta a convicção reiterada de obrigatoriedade que vigora praticamente em todas as denominações Cristãs, que somente conferem o privilégio de tomar a Ceia aos membros baptizados. E ainda em alguns círculos Evangélico-protestantes aplica-se o conceito restrito da Ceia, isto é, só a dão para os membros da mesma denominação e, em casos extremos, exclusivo apenas a membros da referida Igreja. Essas observâncias, importa salientar, não têm nenhum fundamento bíblico e constituem uma clara distorção do alcance teológico da Ceia do Senhor. Não há nenhuma passagem bíblica que diz expressamente que para tomar a Ceia é necessário de antemão ser baptizado e pertencer a uma determinada denominação e/ou ser membro de uma igreja local[1]. O Senhor Jesus, na inauguração do mesmo sacramento, apenas celebrou-o com os seus discípulos (Mateus 26:18; Marcos 14:14, Lucas 22.11) pelo que, entendemos, que o crivo e o requisito indispensável para comungar dela é a pessoa “nascer de novo”. E sabemos que, em casos excepcionais, pode-se nascer de novo, sem corresponder momentaneamente o mandamento do baptismo por imersão. É verdade que as duas realidades são concomitantemente intrínsecas, indissociáveis e irrenunciáveis. Não se pode ser discípulo do Senhor Jesus, sem almejar concomitantemente cumprir todas as suas ordenanças. Crer no Senhor Jesus leva-nos indubitavelmente a querer dar também o testemunho público da nossa profissão de fé. Não há ninguém que se converta genuinamente e jamais se queira baptizar. Se tal, porventura, acontecer é porque não foi uma autêntica conversão. Sabemos, contudo, que em determinadas situações, nem sempre tal acontece por razões de várias ordens. 

A começar, desde logo, pela burocracia de certas igrejas que levam algum tempo a baptizar o recém-convertido, com o intuito de “atestar” realmente a veracidade e firmeza da sua decisão, bem como alguma patente ignorância por parte do próprio convertido que vai adiando o testemunho público da sua conversão no Senhor Jesus, somando outros imprevisíveis entraves que vão surgindo-lhe pelo caminho, adiando-lhe assim provisoriamente tão importante decisão. E nestas circunstâncias excepcionais, parece-nos que não há qualquer impedimento bíblico para o recém-convertido não comungar da Ceia, visto que ele já faz parte pleno do corpo de Cristo – por ter sido baptizado no Espírito Santo, tal como todos os santos e eleitos filhos de DEUS. Já passou pelo processo da justificação, regeneração e percorre paulatinamente a santificação, tendo como meta final a glorificação. A única diferença é que ainda não deu o testemunho público da sua conversão, pelas razões supostamente supramencionadas ou objectivamente cognoscíveis. Mas que vai acabar sempre por fazê-lo. E durante este “compasso de espera” não faz qualquer tipo de sentido ele não tomar a Ceia, como obstaculizam a generalidade das Igrejas (para não dizer todas). 

A nosso ver, compreendemos muito bem o alcance prático dessa barreira eclesiástica – de não conferir de imediato a Ceia a quem ainda não é baptizado por imersão –, uma vez que a genuína conversão automaticamente impõe o baptismo do arrependimento (Mateus 3:8; 11; Actos 26:2). Também, numa outra perspectiva, é uma forma sábia de pressionar, no bom sentido do termo, o recém-convertido a baptizar-se. Mesmo assim, sem prejuízo desta santa preocupação, na nossa humilde opinião, ela não devia ser rigidamente inultrapassável. As lideranças das igrejas deveriam procurar sempre aplicar a “justiça do caso concreto” nessas situações para depois tomar uma decisão final, que se coadune com a impoluta verdade bíblica. E não meramente negar a priori a Ceia a quem ainda não for baptizado. 


[1] Chamamos a atenção que este vídeo é bastante curto, tendo em conta a complexidade da pergunta em apreço e o facto da nossa posição ter ido em “contramão” daquilo que tem sido a prática generalizada e reiterada dentro do Cristianismo, razão pela qual, para não induzir ninguém a cair no erro teológico, recomendamos também a leitura na íntegra do artigo incorporado ao nosso vídeo para ficar melhor esclarecido.
Desde logo, sem quaisquer tipos de reservas, não subscrevemos a posição inultrapassável que somente confere o privilégio da Ceia do Senhor aos irmãos baptizados. Também somos manifestamente contra o conceito restrito da Ceia que algumas Igrejas continuam erradamente a aplicar, isto é, só a dão para os membros da mesma denominação e, em casos extremos, exclusivo apenas a membros da referida Igreja. Essas observâncias não têm nenhum fundamento bíblico e constituem uma clara distorção do alcance teológico da Ceia do Senhor.