Falar do substrato identitário da mulher
guineense não é uma tarefa nada fácil, tendo em conta a heterogeneidade que ela
encerra nas suas várias mundividências. E esta heterogeneidade remete-nos indubitavelmente
para as considerações antropológicas, sociológicas, culturais e etnológicas
para podermos aferir com precisão os pressupostos valorativos que caracterizam
a multiforme configuração da mulher guineense (LER).
Não vamos, naturalmente, atermo-nos a
todas essas idiossincrasias nesta nossa breve crónica. Apenas procuraremos
cingir a condição da mulher moderna guineense, isto é, as que tiveram a
oportunidade de minimamente estudarem e, consequentemente, aculturarem-se.
Mulheres que, no bom crioulo, são apelidadas como “ku panhá pé” (esclarecidas,
bem entendido). A parte significativa delas vive em Bissau, nas grandes cidades
do nosso país e na diáspora em particular. São ainda mulheres que conseguiram
absorver muito bem a cultura misógina e machista do nosso país e,
concomitantemente, do mundo ocidental (LER).
Por outras palavras, são mulheres formatadas nesta dupla realidade
sociocultural, razão pela qual costumam autoproclamar-se ou de serem apelidas
de mulheres “civilizadas” (LER).
Apesar desta híbrida experiência cultural
que as mulheres modernas guineenses adquiriram, ao longo dos anos de vida,
comparativamente com a maioria das nossas indoutas “donas di casa” ou “mindjeris garandis”, mesmo
assim elas têm ficado bastante aquém a nível comportamental. Isto porque muitas
delas são mulheres levianas, fúteis, gananciosas, aproveitadoras,
materialistas, interesseiras, promíscuas e sem escrúpulos; mulheres que vivem
acima de tudo pela conveniência circunstancial e de convergências de
interesses, ignorando deliberadamente as virtudes da dignidade humana e da
emancipação feminina.
A mulher moderna guineense, por ser
bastante astuta na sua articulação e actuação, procura sempre tirar dividendos
das duas realidades culturais que lhe estão intrinsecamente subjacentes.
Somente usam a cultura guineense para tirar contrapartidas em relação ao homem,
nomeadamente quando este lhe sustenta os seus ávidos luxos e insaciáveis vícios.
Da mesma sorte, quando lhe convém enveredar pela libertinagem e
autodeterminação, à revelia do homem, daí é que se lembra de fazer uso das
prerrogativas da sua vertente cultural pós-moderna.
A generalidade da mulher moderna guineense
de modernidade não tem nada. São mulheres que ainda não conseguiram
interiorizar bem o conceito do feminismo igualitário e da emancipação feminina,
não obstante passarem inutilmente a ideia de assimilação neste sentido e de
comungarem da cultura ocidental. A emancipação, para ser realmente uma
verdadeira emancipação, deve contemplar, desde logo, a emancipação intelectual,
a emancipação financeira e a emancipação sexual – emancipações essas de que a
mulher moderna guineense está manifestamente desprovida (VER).
A título exemplificativo, para testar a
nossa afirmação: como é que é possível uma mulher arrogar-se de emancipada se
não consegue pensar pela sua própria cabeça ou reduzir a sua felicidade a um
homem endinheirado que case com ela e lhe faça feliz? Não será inconcebível uma
mulher achar-se de emancipada se se relaciona ainda com os homens a troco de
uns míseros tostões, convertendo o seu corpo numa clara prestação de serviço?
Como é que é possível uma mulher julgar que ela é emancipada quando reduz a sua
sexualidade aos caprichos egoístas do homem, consentindo sobretudo a este actos
de infidelidade conjugal, violência doméstica e outras práticas infames?
Mulheres que não têm nenhumas reservas ou pudor em pedir dinheiro aos seus
parceiros para alimentarem as suas extravagâncias do dia-a-dia, nomeadamente viajar,
comprar o carro, a roupa, as jóias, o cabelo humano, o telemóvel e, em suma,
sustentar as suas polutas mordomias.
A realidade da mulher moderna guineense é
tudo isto que acabamos de reportar. Uma realidade aviltante e triste a que elas
deliberadamente se submetem a troco de uma vida confortável, que os seus
parceiros lhes vão dando. Uma vida manifestamente votada ao objecto de prazer
nas mãos dos grunhos homens e de completa humilhação. Toleram tudo e mais
alguma coisa, sobretudo a ofensa à integridade física e psicológica, para
continuarem a ter mordomias e, desta forma, manter o status social de
cinderelas.
Ora, isto não é ser emancipada e tão pouco
moderna. É circunscrever-se meramente à promiscuidade sexual e à prostituição
do corpo, uma vez que tudo é baseado em interesses financeiros à revelia do
genuíno amor que deveria caracterizar um casal (LER).
Ser uma pessoa moderna é ser, acima de tudo, autossuficiente em todas as
dimensões do trato social.
A autonomia e autodeterminação da mulher,
importa ainda salientar, foi um dos grandes postulados axiológicos defendidos
na génesis dos movimentos sufragistas do século XIX e unanimemente reconfirmada
pelos feministas dos nossos dias contemporâneos, que visam máxime a igualdade
entre o homem e a mulher em todas as dimensões, circunstâncias e esferas da
vida (LER).
E esta igualdade, no entanto, só se alcança com a verdadeira emancipação da
mulher, com vista a permiti-la libertar-se definitivamente do jugo opressor do
homem.
Por isso, a mulher tem de consciencializar
que a sua felicidade depende unicamente dela e não colocar toda a sua esperança
num putativo “homem da sua vida”. Deve também trabalhar e estar à
altura de pagar as suas contas. Se for, porventura, casada tentar partilhar
despesas da casa com o seu marido para, deste modo, ganhar plenamente a
liberdade dentro do lar e poder estar em condições normais de exigir o marido aquilo
que entender ser o mais justo na família – e não ficar numa condição de subalternidade, tal
como a generalidade das nossas mulheres “ku panhá pé” têm sido
relegadas (LER).
Qualquer relacionamento humano, a nosso ver, deve ser pautado pela
complementaridade e não pelo aproveitamento circunstancial, monetária ou
momentânea.
A mulher moderna guineense não tem a
mínima desculpa por este censurável comportamento leviano e promiscuo, que tem
deliberadamente adoptado no seu dia-a-dia ao longo dos anos, diferentemente das
nossas heróicas mães e avós que infelizmente foram vedadas à oportunidade de
estudarem e de se relacionarem com a cultura pós-moderna, fazendo com que se
limitem apenas à condição de domésticas e donas de casas. Mesmo assim, apesar de
tudo isto, são mulheres de família, honradas, trabalhadoras e com dignidade;
que não andam a saltitar de parceiros até encontrarem o homem endinheirado que
lhes fazem singrar na vida, não obstante as muitas e infindáveis falhas dos
seus maridos. São mulheres que vivem exclusivamente para a família e somente
para a família; mulheres que se desdobram em “sete ofícios” para
conseguirem o ganha-pão para as suas famílias, razão pela qual continuam a ser
o baluarte moral e a esperança das famílias guineenses. São, em suma, “mindjeris
ku finka pé rissu na tchon!”.
A generalidade da mulher moderna
guineense, para desgraça da nossa sociedade em geral, é uma despudorada,
viciada e autêntica depravada nos costumes e valores éticos-morais, uma vez que
conseguem assimilar o pior da cultura ocidental e, ao mesmo tempo, o pior da
cultura misógina e machista dos guineenses (ALI) e (AQUI).
Comportamentos estes que, de todo, em abono da verdade, não se coadunam com o
progressismo da pós-modernidade, que elas inutilmente reclamam encarnar. Um
autêntico paradoxo!