Manifesto de Repúdio Sobre o Fecho das Igrejas por Causa do Coronavírus


Estou manifestamente indignado com a posição da Aliança Evangélica Portuguesa sobre a pandemia do coronavírus no que toca à sua última nota, recomendando vivamente as igrejas e comunidades evangélicas a não abrir as suas portas para cultos e outras actividades eclesiásticas nas próximas semanas (LER), levando assim algumas igrejas a tomar esta decisão desproporcional e infundada à luz das Escrituras Sagradas. Estou ainda mais indignado com as igrejas que, apesar desta questionável recomendação da Aliança Evangélica, decidiram precipitadamente cair nesta onda de susto secularista e ditadura do instantâneo, perdendo a oportunidade singular de dar um firme testemunho de fé nestes dias obscuros, de pânicos e de incertezas para milhares e milhões de pessoas em todo o mundo. 

É inconcebível fechar as portas das igrejas só porque o governo declarou o “estado de alerta” para todo o país (LER). O estado de alerta, na ordem jurídica portuguesa, não comporta assim grandes repercussões práticas na vida das pessoas. Tanto que, por esta razão, apesar de estarmos já a vivê-lo, a vida continua a fluir normalmente, excepto alguns pontuais ajustamentos que foram feitos para mitigar o surto do coronavírus, nomeadamente a paralisação total de aulas e outras medidas extraordinárias que, em circunstância alguma, colocou em causa os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. 

O estado de alerta, de uma forma subsumida, significa que os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança do estado estão em prontidão para responder com eficiência. Mesmo no estado de sítio ou estado de emergência, que são os mais gravosos na ordem jurídica portuguesa, e só podem ser declarados “nos casos de agressão efectiva ou iminente por forças estrangeiras, de grave ameaça ou perturbação da ordem constitucional democrática ou de calamidade pública” (art.º 19, nº 1 da Constituição), em nenhum caso podem afectar os direitos fundamentais inerentes à condição humano-social, especialmente a liberdade de consciência e de religião art.º 19 alínea 1 da Constituição). Por outras palavras, mesmo nestas situações excepcionais, a Constituição da República Portuguesa continua a assegurar aos santos de DEUS a possibilidade de cultuarem, se assim o entenderem. 

Perante o exposto, entendo que a opção de suprimir as actividades dominicais e consequentemente fechar as portas das igrejas por causa do surto do coronavírus   foi uma decisão prematura, drástica, radical e sem qualquer suporte bíblico, aliás, tal como se pode ver na referida recomendação da Aliança Evangélica Portuguesa que está claramente despida do texto sagrado e na generalidade dos comunicados tautológicos emitidos pelas igrejas, que decidiram concomitantemente alinhar nesta onda do “fechamento”. Este fechamento das igrejas consubstancia indubitavelmente uma sonolência espiritual e grave crise da fé em que estamos infelizmente submergidos, “que não se alarma com o poder do mal no mundo, com toda a injustiça e com todo o sofrimento que devastam a Terra. É um embotamento que prefere não se dar conta de tudo isso (…), podendo deste modo continuar a autocomprazer-se na sua própria vida saturada. Mas este embotamento das almas, esta falta de vigilância seja quanto à proximidade de Deus, seja quanto à força ameaçadora do mal confere ao maligno um poder no mundo” (LER)

Com isso, não estou a minorar ou a subestimar o impacto pernicioso que o corona vírus representa na saúde pública, máxime na dos cidadãos. Não estou a colocar em causa as previsões catastróficas que poderão acontecer brevemente em Portugal, tal como já está a suceder noutros países, se não houver medidas preventivas adequadas para mitigar esta maldita doença. Não estou a colocar em causa o zelo que as igrejas devem ter para com os seus membros nos momentos mais desafiantes das suas vidas. Não estou também a pôr causa a vida dos que já morreram e possivelmente vão continuar a morrer nos próximos dias e semanas. Longe de mim tal insensibilidade e desumanidade. Estou plenamente consciente que estamos todos a correr sérios riscos de vida e se brincarmos podemos contrair o coronavírus e este revelar-se extremamente fatal. Estou bem actualizado da gravidade de toda esta situação e simultaneamente solidário com as autoridades nacionais e internacionais, as equipas médicas nos hospitais e especialmente todos os que neste momento estão entre a vida e a morte. 

No entanto, fechar as portas das igrejas, a meu ver, tem de ser mesmo em situações que ultrapassam todos os limites – onde não há mesmo condições mínimas para haver a reunião; onde todo o mundo é obrigado a estar de quarentena por causa da calamidade pública ou por motivos de guerra, ficando completamente paralisada a vida profissional e social de todos os cidadãos. Nestes casos, sim, as igrejas têm mesmo, por força das circunstâncias, fechar por inexequibilidade prática. Não é, contudo, o que está a acontecer neste momento em Portugal, graças a DEUS. As pessoas continuam a trabalhar, embora com alguns condicionalismos extras, e a viver praticamente na normalidade, cientes naturalmente das precauções que devem tomar no seu dia-a-dia e sobretudo dos malefícios que o coronavírus comporta. 

Por isso, não consigo compreender o fecho das igrejas nas próximas semanas. É a primeira vez que estou a viver tal situação. Não consigo, por isso, interiorizar esta prematura decisão, sob pretexto de estar a proteger os membros das igrejas para não contraírem o coronavírus e, ao mesmo tempo, incorporando uma tamanha contradição do ponto de vista espiritual. Será que o culto que prestamos ao nosso Eterno e Todo-Poderoso DEUS não se enquadra “nas actvidades estritamente essenciais” que o governo decidiu salvaguardar neste estado de alerta em que estamos a viver? Faz algum sentido um Cristão passar quarenta e cinco horas no trabalho durante a semana e não poder estar apenas duas horas na Igreja num culto de domingo? Será que é mais fácil contrairmos o coronavírus num culto dominical do que nos sobrelotados transportes públicos, nomeadamente comboios e metros, que a generalidade dos irmãos da Igreja usam para ir trabalhar ou tratar de outros afazeres? Podemos ir trabalhar sem ter medo de coronavírus e não podemos ir à igreja cultuar o nosso DEUS por medo do coronavírus? Quer dizer então que os Cristãos podem fazer parte significativa da sua rotina do dia-a-dia, nomeadamente trabalhar, andar de transportes públicos, fazer compras e dar passeios… só ficam amedrontados em ir à Igreja por causa do coronavírus, não é? As más conversações, já dizia o Apóstolo Paulo, corrompem os bons costumes (1 Coríntios 15:33). De facto, as más conversações pervertem os bons costumes. 

Admito que as Igrejas poderiam tomar algumas decisões excepcionais, sobretudo aconselhar alguns irmãos idosos, os que sofrem de doenças crónicas, grávidas e crianças a não tomarem parte, por enquanto, nos cultos e resguardarem-se exclusivamente em casa até que seja ultrapassada esta calamitosa situação e não cancelar de imediato todas as actividades eclesiásticas. E mais, importa ainda salientar que não é pelo facto de não irmos à Igreja ou estarmos a tomar as devidas precauções que ficamos imunes ao coronavírus. Todas as precauções são insuficientes se não tivermos a protecção Divina para nos livrar deste maléfico vírus. E só Ele é capaz de nos livrar de todo o perigo e mal, mentalizando-nos sempre que estamos a viver os “Sinais dos Tempos” (ALI) e (AQUI) , bem como ancorando-nos na absoluta certeza de que em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou, uma vez “nem a morte nem a vida; nem os anjos nem outras forças ou poderes espirituais; nem o presente nem o futuro; nem as forças do alto nem as do abismo. Não há nada nem ninguém que nos possa separar do amor que Deus nos deu a conhecer por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 8:29-37). Louvado seja DEUS. 

Em suma, busquemos em primeiro lugar a DEUS, principalmente neste momento de incertezas, de aflição e pânico mundial, de todo o nosso coração. Não no fechamento temerário das portas das igrejas, mas sim entrando intrepidamente pelas suas portas com acção de graças, e em seus átrios com louvor (Salmo 100:4). Que DEUS ricamente nos abençoe e nos guarde de todo o perigo e mal, particularmente desta maligna pandemia do coronavírus em nome do Senhor Jesus Cristo. Que assim seja. E assim sempre será pela fé.