“Acho que uma das grandes angústias da vida reside no facto de estarmos sempre a tentar terminar aquilo que não tem termo. Temos ordens para fazê-lo. Por isso nós, tal como David, nos vemos tantas vezes na situação de ter de enfrentar o facto de os nossos sonhos ficarem por realizar. A Vida é uma história contínua de sonhos destruídos. O Mahatma Gandhi trabalhou anos e anos pela independência do seu povo. Mas Gandhi teve de encarar o facto de ser assassinado e morrer com o coração despedaçado, porque aquela nação que ele queria unir acabou por ser dividida entre a Índia e o Paquistão em consequência de uma guerra entre Hindus e Muçulmanos.
Woodrow Wilson teve o sonho de fazer uma Liga das Nações, mas morreu antes de ver o sonho concretizado. O Apóstolo Paulo falou um dia no seu desejo de ir para Espanha. O maior sonho de Paulo era ir para Espanha, levar até lá o Evangelho. Paulo nunca chegou a Espanha. Acabou numa cela de prisão em Roma. É assim a vida. Foram muitos os nossos antepassados que cantaram a liberdade. E que sonharam com o dia em que conseguiriam libertar-se do bojo da escravatura, da longa noite da injustiça. E cantavam pequenas canções: «Ninguém sabe por quanto sofrimento passei, ninguém sabe senão Jesus.» Pensavam num dia melhor enquanto sonhavam o seu sonho. E diziam: «Estou tão feliz por o sofrimento não durar para sempre. A pouco e pouco, a pouco e pouco vou libertar-me da minha pesada carga.» E cantavam esta canção porque tinham tido um sonho muito forte. Mas muitos morreram sem ver o sonho realizado”[1].
[1] Palavras de Martin Luther King Jr., extraído na sua autobiografia, in Eu Tenho Um Sonho, p. 389, 390, Bizâncio, Lisboa, 2003. Este foi o último discurso do Pastor Baptista e Activista dos Direitos Humanos, Luther King, no templo do bispo Charles J. Mason, em Memphis. Um dia depois desta famosa alocução, 4 de Abril de 1968, foi barbaramente assinado no Motel Lorraine.
