Estive no
passado domingo a pregar na minha Igreja, a Evangélica Baptista da Amadora
(IEBA). O tema objecto do meu sermão foi: “O Senhor Jesus Cristo – O Sumo
Pastor da Igreja”, baseado no texto bíblico do conhecido Salmo vinte e três.
O Messias veio de uma linhagem pastoral (real, bem entendido), através do
patriarca David que primeiramente pastoreou as ovelhas e posteriormente o povo
de DEUS por longos anos. Nasceu igualmente no meio dos pastores e estes foram
os primeiros a receber “a boa nova de grande alegria para todo o povo” aquando
do Seu nascimento em Belém de Judeia (Lucas 2:10). Durante o Seu
imaculado percurso de vida aqui na Terra apascentou incansavelmente as pessoas,
alimentando-as, curando-as das suas enfermidades, libertando-as do poder do
Diabo, ressuscitando-as e dando-lhes a vida eterna. O Senhor Jesus Cristo
conhece muito bem as particularidades, necessidades, limitações,
vulnerabilidades e aspirações das suas ovelhinhas, razão pela qual protege-as,
guiando-as por caminhos de felicidade, suprindo assim todas as suas
imperfeições e faltas. O Senhor Jesus é, por excelência, o Sumo Pastor de todos
os Filhos de DEUS, aliás, tal como o próprio vai reclamar durante o Seu
ministério terreno como sendo “O Bom Pastor; o Bom Pastor que dá a Sua vida
pelas ovelhas” (João 10:11;14-16). E este belo Salmo encerra
indubitavelmente esta grande verdade salvífica.
Ora, uma
vez que o Senhor Jesus Cristo é o nosso Pastor “nada nos faltará”. No
entanto, este “nada nos faltará” não se traduz propriamente na ausência
completa de dificuldades, carências, tribulações e contradições na vida dos crentes,
antes pelo contrário os Cristãos estão sujeitos aos problemas de várias ordens,
nomeadamente à falta de saúde, falta de trabalho, falta de comida, faltas
materiais e demais outras faltas que fazem parte da dinâmica da vida
cívico-terrena. Mesmo assim, apesar destas momentâneas faltas, continuamos pela
fé cheios do Espírito Santo nas nossas vidas que nos vai proporcionando o amor,
alegria, reconciliação, harmonia, paz, gratidão, satisfação e uma vida
bem-sucedida, plena e feliz, fazendo com que nada nos faltasse para a nossa
sobrevivência. Por outras palavras, estamos plenamente servidos, saciados e preenchidos
a todos os níveis. Preenchidos espiritualmente, moralmente e materialmente em
Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador, porque reconhecemos a Soberania de DEUS
nas nossas vidas – quer seja nos momentos bons ou menos bons –, por esta ser a
vontade DELE, em Cristo Jesus, para connosco (1 Tessalonicenses 5:17). Por
isso, nesta mesma esteira do pensamento, podemos suportar todas as coisas no
Senhor Jesus que nos fortalece, tal como dizia o Apóstolo Paulo (Filipenses
4:13).
É por esta
razão que o nosso Sumo Pastor faz-nos deitar em pastos verdejantes e
concomitantemente conduz-nos a lugares de águas tranquilas. Levam-nos para
estes lugares de fartura com o intuito de alimentar-nos espiritualmente e
preparar-nos para podermos fazer face às tentações e provações que vamos tendo
no mundo e, deste modo, corresponder satisfatoriamente com todas as exigências
da vida Cristã. Estando nós bem nutridos na Palavra de DEUS nada nos faltará, e
jamais nos poderá faltar, pois somos controlados e guiados pelo Espírito de
DEUS. Tudo isto tem a ver com a protecção, provisão e direcção que o Sumo
Pastor opera nas nossas vidas, saciando-nos assim de todas as nossas
necessidades físico-espirituais, através de boa alimentação da Palavra de DEUS.
No final do
versículo dois, depois de ter sido bem nutrido de pastos verdejantes, o
salmista é igualmente agraciado pelas águas tranquilas que, em última
instância, remetem-nos para a acção do Espírito Santo na vida dos Cristãos.
Estas águas tranquilas, de forma milagrosa, têm o efeito remidor de refrigerar
a alma e criar um ambiente de sinfonia, reconciliação e apaziguamento na vida
de todas as ovelhinhas do Senhor Jesus Cristo. Nenhum Cristão, portanto, pode
viver em permanente estado de ansiedade, desânimo, tristeza, frustração e
depressão ou sobressalto interior, porque está amparado pelo Espírito Santo. A
sua alma está completamente confortada e refrigerada. O choro pode inclusive durar
uma noite, mas a alegria vem logo pela manhã (Salmos 30:5). A nossa alma
está consolada nas infalíveis promessas salvíficas do Senhor Jesus Cristo. Está
descansada e espera somente em DEUS. Dispõe de plena harmonia, paz, amor, luz,
esperança e salvação, seguindo firmemente com fé pelas veredas da justiça. Todos
estes feitos têm como autor o Eterno Jeová. É ELE que conduz as ovelhas para os
pastos verdejantes. Da mesma sorte, é ELE que as guia mansamente a águas
tranquilas, bem como pelas veredas da justiça, por amor do Seu Grande nome.
Justiça, em primeiro lugar, para com DEUS, as próprias e o próximo. Justiça na
maneira de ver e encarar os enormes desafios da madrasta vida, sobretudo a vida
espiritual. É DEUS, através do Seu Amado Filho Jesus Cristo, que nos habilita a
encarnar a virtude da Justiça no nosso relacionamento e percurso de vida.
Já no
versículo quatro o salmista muda radicalmente de discurso para um cenário de
turbulência, dificuldades, problemas, contradições, que vai consubstanciando
num possível andar pelo “vale da sombra da morte”. Este versículo é
bastante crucial e determinante para compreendermos, de forma holística, o
alcance teológico e teleológico deste famoso Salmo. Todos os filhos de DEUS,
sem excepção, têm que atravessar este doloroso “vale de lágrimas” para
assim poderem estar completamente habilitados para entrar no Céu, obviamente
com graduações diferentes, dependendo da experiência e realidade de cada um em
particular. Os vales envolvem, acima de tudo, as adversidades e o sofrimento
que vão surgindo no nosso percurso de vida Cristã. A Fé Bíblica e o sofrimento estão
visceralmente ligados, uma vez que somos chamados soberanamente para o
sofrimento (1 Tessalonicenses 3:3). Consciente desta grande e inequívoca
verdade, o Apóstolo Paulo vai ao ponto de sustentar que “nós sentimos
alegria nos nossos sofrimentos, porque o sofrimento produz a perseverança; a
perseverança provoca a firmeza de caráter nas dificuldades e a firmeza produz a
esperança. Esta esperança não nos engana, porque Deus encheu-nos o coração com
o seu amor, por meio do Espírito Santo que é dom de Deus” (Romanos 5:3-5).
E mais,
todos aqueles que são autênticos filhos de DEUS jamais se sucumbirão na
travessia dos “vales”. Somos habilitados pela Palavra de DEUS e acção do
Espírito Santo em nós para ultrapassarmos todos estes temíveis “vales” e
inclusive desertos rumo à Terra Prometida, visto que “todos os vales serão
levantados, todos os montes e colinas serão aplanados; os terrenos acidentados
se tornarão planos; as escarpas serão niveladas” para a manifestação do
nosso Sumo Pastor Jesus Cristo e a libertação definitiva do Seu povo eleito (Isaías
40:4; Mateus 3:3; Marcos 1:3; João 1:23). Tal como Baraque venceu os
cananeus no vale de Jezreel, Josafá os amonitas, os moabitas e habitantes dos
montes de Seir no vale de Beraca (2 Crónicas 20:26-27), Gideão os
midianitas no vale de Moré (Juízes 7: 1), David os edomitas no vale do
sal (2 Samuel 8:13; 1 Crónicas 18:12), etc., assim também venceremos
todos os “vales” que aparecerão no nosso caminho para nos estorvar o
percurso à Pátria Celestial.
Por isso, a
Sua vara e o Seu cajado nos consolam, habilitando-nos, com esta perfeita
disciplina Divina, a sermos, cada vez mais, melhores crentes, melhores
cidadãos, melhores Cristãos e melhores filhos de DEUS em todas as esferas da
vida. O bordão e o cajado são elementos importantíssimos, indispensáveis e
irrenunciáveis que os pastores usam para guiar, da melhor forma possível, as
suas ovelhinhas e simultaneamente dispersar, com eles, os putativos inimigos
destas, razão pela qual dão-nos segurança para continuarmos a confiar
inteiramente na graça redentora, no amor, no perdão, na protecção e providência
do nosso Eterno e Todo-Poderoso DEUS.
O salmista,
no versículo cinco e seis, mudou novamente para um discurso mais vitorioso e
triunfante. Falou, em primeiro lugar, de um banquete especial que lhe foi
amavelmente preparado pelo “Bom Pastor” à frente dos seus detestáveis
inimigos, assim como da forma honorável como foi acolhido nesta referida festa,
tendo sido servido até transbordar. É curioso notar que, neste banquete
triunfante, diferentemente do discreto do versículo dois, é feito à frente dos
inimigos. Uma elevação ao mais alto nível – tanto do ponto de vista humano como
espiritual e celestial.
É
importante ainda frisar que todos os seres humanos à face da Terra têm
inimigos, principalmente os filhos de DEUS. Uns manifestamente declarados e
conhecidos por nós. Outros, por razões várias, dissimulados e desconhecidos.
São pessoas que impiedosamente nos odeiam e querem apenas o nosso fracasso e
mal. Conhecendo de antemão esta triste realidade humana, ao longo dos séculos
da nossa História, muitos destacados pensadores têm-se desdobrado
incansavelmente em construir teses, doutrinas e receitas como antídotos
necessários para lidar com o inimigo ou inimigos. Por todos eles, “A Arte da
Guerra” de Sun Tzu e “Como Tirar Proveito dos Inimigos” de Plutarco.
O primeiro autor, na sua formulação de como combater o inimigo nos seus vastos
planos e vencê-lo, sustentava que “sempre que um adversário quer fazer-me
guerra, tomo a dianteira e arruíno os planos dele antes mesmo que tomem forma.
Mas se sou eu que planeio uma ofensiva, trato de liquidar os planos de defesa
que ele já tiver formado”, concluindo que “quem conhece o inimigo como a
si mesmo, em cem guerras, será cem vezes vitorioso. Quem ignorara o inimigo mas
conhece-se, vencerá uma vez em cada duas. Quem ignorara o inimigo e a si mesmo,
só contará os combates pelas derrotas” (Sun Tzu, in A Arte da Guerra,
Guerra & Paz, Lisboa, p. 28 e 30, 2020). Ao passo que este segundo
autor dizia que “o inimigo está sempre à espreita e a espiar as tuas coisas
e procurando a ocasião por todas as partes, recorrendo sistematicamente à tua
vida, não olhando apenas através azinheira como Linceu, nem através de
ladrilhos e pedras, também através do teu amigo, do teu servo e de todos os
teus familiares, indagando naquilo que lhe for possível, o que fazes, e
esquadrinhando e explorando as tuas decisões”, aconselhando depois para a
necessidade de maior prudência, maior vigilância, maior empenho, maior
austeridade e maior proactividade, máxime “se o acusas de ser mal-educado,
aumenta em intensidade o teu amor ao estudo e ao trabalho; se o acusas de ser
cobarde, mostra mais a tua valentia e audácia; se o acusas de ser libertino e
desesperado, apaga da tua alma qualquer vestígio de amor pelo prazer que tenha
passado despercebido” (Plutarco, in Como Tirar Proveito dos Inimigos, Coisas do
Ser, Lisboa, p. 13 e 17, 2008).
Todas estas
receitas dos classicistas, e demais dos outros conceituados autores, não
obstante a sua pertinência objectiva, são falíveis humanamente se não for a
graça Divina para nos ajudar a vencer os nossos inimigos. Sabemos, por
experiência própria, que o inimigo é muito mais astuto e implacável do que
aquilo que a priori julgamos em termos racionais, pois não temos a
capacidade suficiente de conhecê-los todos e nem sabemos o tempo exacto em que
vão nos atacar. A começar, desde logo, pelos inimigos visíveis como os
invisíveis. E esta realidade torna-se ainda mais gravosa quando se trata de
nós, os Cristãos, os amados filhos de DEUS, porque temos o mais temível de
todos os inimigos que há no mundo – que é também o nosso inimigo número um: o
Diabo, os seus demónios e todos os seus agentes que estão sistematicamente a
maquinar planos maléficos para nos arruinar a vida e, desta forma, destruir-nos
completamente. É, justamente, por isso, denunciava oportunamente o reputado
Teólogo João Calvino, considerando que “Satanás […] mil vezes por dia nos
tira do caminho certo. Não digo nada acerca do fogo, e da espada, e dos
exílios, e de todos os furiosos ataques a nossos inimigos. Não digo nada acerca
de difamações e outros vexames similares. Quantas coisas piores do que essas
existem aqui dentro! Homens ambiciosos atacam-nos abertamente, epicureus e
lucianistas redicularizam-nos, homens insolentes insultam-nos, hipócritas
enraivecem-se conosco, os sábios segundo a carne ferem-nos, e somos
atormentados de muitas formas diferentes por todos os lados” (João Calvino,
citado por Timothy George em Teologia dos Reformadores, p. 244,
Vida-Nova/São Paulo, 2004). O Teólogo Martinho Lutero, no seu famoso hino “Castelo
Forte é Nosso Deus”, considerava que “com força e com furor nos prova o
Tentador, com artimanhas tais e astúcias infernais que iguais não há na terra”.
O Apóstolo Pedro, já anteriormente advertia-nos a sermos incessantemente “prudentes
e estejam alerta, pois o vosso inimigo, o Diabo, anda à vossa volta, como um
leão a rugir, procurando a quem devorar”, enxotando-nos a resistir-lhe
firmemente na fé e sem vacilar (1 Pedro 5:8-9).
Mesmo
assim, apesar de todos estes riscos associados à conjectura da nossa vida,
somos mais que vencedores por meio do Senhor Jesus que nos amou (Romanos
8:37). No versículo cinco deste magnífico Salmo ficou manifestamente
patente esta grande verdade teológica e soteriológica: todos os nossos inimigos
vão poder vislumbrar, de forma impotente e a contragosto, a nossa sublime
conquista, sucesso, realização, vitória e felicidade eterna, sem terem a
capacidade de travar isso ou alterar o cenário da nossa exaltação e
glorificação. Tudo isto será à frente deles num banquete especial patrocinado
pelo nosso Grande Sumo Pastor Jesus Cristo. A nossa mesa será preparada pelo
Senhor Jesus Cristo bem à vista do inimigo, ungindo-nos a cabeça com óleo, o
nosso cálice transborda e transbordará para sempre.
Em suma,
pelo poder de DEUS, venceremos todos os nossos inimigos humanos, os nossos
inimigos conhecidos e desconhecidos, os nossos inimigos visíveis e invisíveis.
Venceremos o Diabo e todos seus demónios e agentes. Aleluia!
O autor
sagrado, continuando ainda na sua proclamação triunfante, sustentava que a
bondade e a misericórdia lhe seguirão todos os dias da sua vida (v.6).
Realmente todos aqueles que são amados filhos de DEUS encarnarão, sem dúvida,
as maiores e melhores virtudes humano-espirituais nesta vida e no além. Sabemos
que todos os seres humanos à face da Terra almejam e buscam afincadamente as
nobres virtudes como forma de atingir a felicidade, mesmo desconhecendo, na
generalidade de situações, no que elas realmente consistem ou as vias mais
correctas de encontrá-las. Com efeito, para os eleitos filhos de DEUS, estas
virtudes ilustradas na bondade e misericórdia nos seguirão durante a nossa
peregrinação neste mundo. Elas nos cercarão e permanentemente nos perseguirão,
tal como formulava alguns biblistas, todos os dias da nossa vida. Bondade em
vivenciar inteiramente a Palavra de DEUS nos nossos corações e prontidão em
anunciá-la para o mundo perdido.
Misericórdia na rectidão, no perdão, na reconciliação e especialmente na
demonstração do amor ao próximo. Nenhum Cristão pode omitir ou furtar-se a
estas elevadíssimas virtudes no seu testemunho diário de vida, sob pena de ser
um pseudo-cristão, porquanto tais virtudes são marcas visíveis da acção do
Espírito Santo nas nossas vidas.
A bondade e
a misericórdia inevitavelmente nos perseguirão e, deste modo, conduzir-nos-ão
definitivamente à Casa do Senhor. E habitarei na casa do Senhor por longos
dias, vincava peremptoriamente o salmista David (v.6). Morarei na Casa
do Senhor para sempre. Residiremos na Casa de DEUS para toda a eternidade.
Louvado seja DEUS eternamente. Que assim seja pela fé no nome Bendito do Senhor
Jesus Cristo. Será sempre assim. E assim sempre será.