A Mulher Adúltera e a Sua Absolvição pelo Senhor Jesus Cristo


Partilho aqui esta lição da Escola Bíblica Dominical (EBD), que ministrei na minha Igreja, sobre a mulher que traiu deliberadamente o seu marido na Festa dos Tabernáculos dos judeus que, contra todas as evidencias humano-sociais, achou graça, amor e perdão por parte do Senhor Jesus Cristo (João 8:1-11). Esta mulher acumulava simultaneamente várias infracções no seu acto pecaminoso, fazendo com que merecesse a pena de morte, tal como preceituava a Lei de Moisés (OUVIR AQUI EM PODCAST)

Em primeiro lugar, esta mulher era adúltera e foi apanhada em flagrante acto de adultério numa festa religiosa (v. 4). Deixou-se levar descontroladamente pela luxúria, sem medir as consequências práticas do seu envolvimento sexual ilícito. Também ela era traidora. Traiu deliberadamente o marido e traiu a sua própria família, violando assim o dever da fidelidade que vincula todos os cônjuges no âmbito matrimonial. Ela ofendeu de forma livre e consciente o sétimo mandamento da Lei de DEUS que proíbe, em todas as circunstâncias, o adultério (Ex 20:14). Destruiu a sua vida, a do seu marido e da sua família. Esta mulher era uma autêntica vergonha para a sua família, a sua comunidade e o seu povo, razão pela qual humilharam-na publicamente e puseram-na à chacota perante tudo e todos. A única sentença para o cúmulo de todos estes abomináveis pecados era a pena de morte por apedrejamento. Tinha que ser apedrejada até à morte. Era isso que a Lei mandava fazer em tais situações (Lv 20:10; Dt 22:22-24). Não havia outra solução viável para remediar o censurado pecado desta desgraçada mulher. Ela estava condenada a morrer. Morrer de forma bárbara pelo apedrejamento público. Ela não tinha como fugir ou negar o seu envolvimento sexual com outro homem, porque foi apanhada no próprio acto de adultério. Há muitas pessoas que mentem, roubam, traem, enganam, matam e, mesmo assim, escapam ilesas. Não era o caso dessa mulher. Havia provas irrefutáveis do seu manifesto pecado que ela não podia desculpar. Foi apanhada em pleno acto de adultério, insisto. 

Os escribas e fariseus aproveitaram este mediático caso de adultério para poderem apanhar em falso o Senhor Jesus Cristo, que se encontrava empenhadamente a ensinar no templo e, desta forma, poderem aleivosamente acusá-Lo. Fizeram-Lhe uma pergunta sorrateira, que encerra uma rasteira, com vista a apanhá-Lo em contradição e, deste modo, arruiná-Lo completamente. Estes doutores da Lei eram também autênticos doutores em tramoia, conspiração e da maldade! Qualquer resposta que o Filho de DEUS desse seria facilmente apanhada em armadilha e, consequentemente, “esmagado” – podia ser por judeus ou pelas autoridades romanas. Os escribas e doutores da Lei, escreve Hernandes Dias no seu Comentário Expositivo sobre o Evangelho João em concordância com Charles Erdman, “queriam encontrar um motivo para acusá-lo e matá-lo. E assim intentaram três coisas contra ele. Em primeiro lugar, tentaram jogar Jesus contra a lei de Moisés; segundo, tentaram jogar Jesus contra a lei romana; terceiro; tentaram jogar Jesus contra o povo. O alvo dos fariseus era colocar Jesus diante de um dilema: se ele perdoasse e absolvesse a mulher, estaria em oposição à lei de Moisés e contra ele se poderia argumentar que estava fomentando as pessoas a cometer adultério (Lv 20.10; Dt 22.22-24); se ele a condenasse à morte, estaria usurpando atribuições do governo romano (18.28-31), porque os romanos haviam retirado dos judeus o poder de infligir penas capitais”. 

Colocaram assim o Senhor Jesus perante um grande dilema e como juiz num caso que Ele não tinha nada a ver. Não era testemunha ou parte visada no vergonhoso pecado da mulher adúltera. Também não era juiz e, tão pouco, fazia parte da cúria das autoridades judaicas. Eles puseram-Lhe esta questão, relata-nos o evangelista João, “porque queriam apanhá-lo em falso para depois o acusarem” (v.6). Eles tinham a inveja e o ódio declarado contra o Senhor Jesus, desde o começo do Seu ministério, tendo em conta a autoridade com que Ele ensinava e o amplo acolhimento favorável que a Sua mensagem salvífica despertava no seio do povo. William Hendriksen, citado ainda por Hernandes Dias Lopes, na mesma esteira do pensamento, sustenta “que o interesse principal dos acusadores não era a mulher. Eles apenas a estavam usando como um laço para pegar Jesus. Este, sim, era a verdadeira vítima! E, para realizarem esse propósito diabólico contra Jesus, jogaram para o alto qualquer gentileza ou vergonha que tivessem. A vergonha e os temores da mulher, ao ser exposta publicamente, não lhes significava nada, conquanto alcançassem o objetivo que tinham proposto. Assim eram os líderes religiosos de Jerusalém”. 

O Senhor Jesus Cristo, conhecedor da mente dos pecadores e a sua verdadeira intenção, não se precipitou em responder a esta astuta e rasteira pergunta dos escribas e fariseus. Limitou-Se apenas a escrever no chão com o dedo. Mesmo assim, eles não se desarmaram e continuaram a interroga-Lo de forma insistente, querendo a todo o custo ter uma resposta por parte Dele. O Senhor Jesus, diz-nos o Evangelista João, “levantou-se e disse-lhes: Aquele de entre vós que nunca pecou, atire-lhe a primeira pedra” (v.7). Quem não tiver pecado que seja o primeiro a atirar a pedra. Por outras palavras, se houver algum entre vós que esteja sem pecado, sem pecado desta natureza, que não tenha nunca, em nenhuma ocasião, sido culpado de fornicação, adultério ou maculado, que atire a primeira pedra sobre ela. Que seja o primeiro, tal como manda a Lei de Moisés, a atirar a primeira pedra (Dt 17.7). 

O Senhor Jesus confrontou-os abertamente com a sua miséria espiritual, através da autoanálise que faziam da Sua interpelação, deitando por terra a hipocrisia, a soberba, a vingança, a maldade, a injustiça e o pecado em que se encontravam mergulhados. Estes acusadores eram injustos, parciais e autênticos pecadores. Cometeram, desde logo, uma tamanha injustiça objectiva no caso em apreço, ilibando o homem que estava a praticar relações sexuais ilícitas com a mulher adúltera, contrariando assim as disposições da Lei que expressamente diz: “se um homem for apanhado em adultério com uma mulher casada devem morrer tanto ele como ela. Assim acabarás com este escândalo em Israel” (Dt 22:22; Lv 20:10). Eles limitaram apenas a sua fúria para com a pobre mulher por ser a parte mais fraca nesta história, desculpando-se o homem. Não estavam minimamente preocupados com a espiritualidade sacrossanta, a moralidade pública exemplar e o zelo pelos nobres princípios e valores da família. A preocupação deles, antes pelo contrário, era vingar-se da mulher, condenando-a à morte e posteriormente apanhar o Senhor Jesus em falso para O acusar. 

Perante esta situação, isto é, ao ouvirem as desafiantes palavras do Senhor Jesus, “foram saindo dali um a um, a começar pelos mais velhos, e só lá ficou Jesus e a mulher ao pé dele” (v.9). Fugiram todos. Os falsos moralistas e religiosos de conveniência, foram frustrados nas suas maléficas intenções e fugiram de forma apressada. Não ficou ninguém. Desde o mais velho até ao mais novo, fugiram todos. O Senhor Jesus, diferentemente da reprovável conduta destes escribas e doutores da Lei, “não expõe os próprios acusadores ao opróbrio (8.79). Ele age de maneira diferente daqueles que expuseram a mulher ao ridículo. Jesus conhecia os seus pensamentos. Sabia do plano abominável deles. Ele poderia ter exposto esses acusadores à execração. Podia denunciar o segredo do coração deles. A derrota dos acusadores foi patentíssima. Acusados pela consciência, retiraram-se, começando a debandada pelos mais velhos, que evidentemente idearam o plano, seguindo-se os mais moços, até o último”, escrevia Charles Erdman citado por Hernandes Dias Lopes. E o Senhor Jesus, por Sua vez, levantou-Se e perguntou a humilhada mulher: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ninguém, Senhor!, respondeu ela. Também eu te não condeno, disse Jesus. Vai-te embora e daqui em diante não tornes a pecar.” (v.10-11). Vai em paz, os teus pecados são perdoados, bem entendido. 

O Senhor Jesus contra tudo e todos absolveu esta pobre mulher da morte certa a que ela estava destinada perante a turba ululante e os hipócritas escribas e doutores da Lei, perdoando de forma amorosa os seus pecados, mandando-lhe depois ir embora e não voltar a pecar. Jesus, de acordo com Hernandes Dias Lopes, “age com misericórdia com a mulher (8.10,11). Ele veio não para condenar, mas para salvar. A mulher merecia morrer, mas ele usa seu poder para restaurar. Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido. Ele veio para os doentes. O perdão não é barato. Jesus deu sua vida. Ele valoriza aquela mulher, chamando-a por um título honroso, o mesmo que usou para sua mãe: Mulher”, concluindo depois que “Jesus a encorajou. (…). Vai. Volta à vida. Não fique carregando seus traumas, recalques e culpa. Ela vai livre, perdoada, restaurada e com dignidade”. 

Em suma, o amor venceu o legalismo hipócrita, a misericórdia a religiosidade, a verdade a mentira, a vida a morte. O Senhor Jesus conferiu um novo estatuto a esta pobre mulher, restaurando-lhe a dignidade plena, tal como faz com todos aqueles que beneficiam da Sua graça redentora. Ele veio ao mundo para salvar e justificar os miseráveis pecadores. Que assim seja. E assim sempre será. Aleluia!