Consolidei há muito tempo o meu palpite determinista
sobre a crescente polarização e barafunda ideológica que se vive em França, depois
de me ter dado conta que os franceses realmente não se emendam, por causa do
seu exacerbado complexo de superioridade e astuta capacidade de se colocarem sempre
na “vanguarda”. E a nível de invenções humanas, então, em abono da verdade, são
praticamente imbatíveis.
Eles, os franceses, desde os primórdios, sempre tiveram a
genialidade de inventar tudo o que lhes aprouvesse, diferentemente
dos outros povos. Conta-se, parafraseando o “Jansenista”, que foram os
franceses que inventaram a “burguesia” e a “ideologia”; inventaram
a “esquerda” e a “direita”; inventaram “a traição de Dreyfus”
e o “soixante-huitard”; inventaram o “mercantilismo” e as “porcelanas
de Limoges”; inventaram o “jardim à francesa” e o “bouillon”; inventaram
a “chinoiserie” e metade dos “queijos do mundo”; inventaram a “nacionalidade”
e a “república”; inventaram a “liberdade” e o “princípio da igualdade”; inventaram
a “revolução” e os “limites dos mandatos”; inventaram a “arte”
e o “impressionismo”; inventaram o “relativismo” e o “ateísmo”; inventaram
o “secularismo” e “progressismo”; inventaram “o género” e o “feminismo”;
inventaram “o amor” e o “romantismo”; inventaram “a auto-determinação sexual e o
“poliamor”; diz-se ainda que inventaram “ménage à trois” e
outras aberrações sexuais que os dissolutos tanto se orgulham. Não surpreende
que pareçam hoje reféns de todas essas “invenções” e “reinvenções”, interagindo
assim com o resto do mundo.
Por isso, nas eleições presidenciais que se avizinha
na primavera do próximo ano, «que estejam a inventar algo de novo, uma
desconcertante baralhação de categorias que lhes devolve a oportunidade de irem
na vanguarda, deixando o resto do mundo com a caduca herança daquilo que para
os franceses já não serve. Ils se payent nos têtes, em suma. É assim desde
o século XVII.».