Caricatura Francesa


Consolidei há muito tempo o meu palpite determinista sobre a crescente polarização e barafunda ideológica que se vive em França, depois de me ter dado conta que os franceses realmente não se emendam, por causa do seu obsessivo chauvinismo e exacerbado complexo de superioridade de se colocarem sempre na “vanguarda”. Os franceses foram vanguardistas da Revolução Francesa do século XVIII e também no pós-segunda guerra mundial de 1945. E a nível de invenções humanas, então, em abono da verdade, os franceses são praticamente imbatíveis. 

Eles, os franceses, desde os primórdios, sempre tiveram a peculiar genialidade de inventar tudo o que lhes aprouvessem, diferentemente dos outros povos do mundo. Conta-se, parafraseando o Jansenista, que foram os franceses que inventaram a “burguesia” e a “ideologia”; inventaram a “esquerda” e a “direita”; inventaram “a traição de Dreyfus” e o “soixante-huitard”; inventaram o “mercantilismo” e as “porcelanas de Limoges”; inventaram o “jardim à francesa” e o “bouillon”; inventaram a “chinoiserie” e metade dos “queijos do mundo”; inventaram a “nacionalidade” e a “república”; inventaram a “liberdade” e o “princípio da igualdade”; inventaram a “revolução” e a “laicidade”; inventaram a “alternância governativa” e  os “limites dos mandatos”; inventaram a “arte” e o “impressionismo”; inventaram o “relativismo” e o “ateísmo”; inventaram o “secularismo” e o “progressismo”; inventaram “o género” e o “feminismo”; inventaram “o amor” e o “romantismo”; inventaram “a auto-determinação sexual e o “poliamor”; diz-se ainda que foram os franceses que inventaram “ménage à trois” e outras aberrações sexuais que os amoralistas e liberais tanto se orgulham  (dissolutos, bem entendido). Não surpreende que pareçam hoje completamente reféns de todas essas “invenções” e “reinvenções”, interagindo assim com o resto do mundo. 

Por isso, nas eleições presidenciais que se avizinha na primavera do próximo ano, «que estejam a inventar algo de novo, uma desconcertante baralhação de categorias que lhes devolve a oportunidade de irem na vanguarda, deixando o resto do mundo com a caduca herança daquilo que para os franceses já não serve. Ils se payent nos têtes, em suma. É assim desde o século XVII.».