O Ministério Pastoral e a Família do Pastor: Da Interdependência à Indissociabilidade

A chamada Divina para o ministério pastoral é um dos mais nobres, relevantes, importantes e poderosos exercícios espirituais que um filho de DEUS possa almejar nesta momentânea vida. É um acto unilateral e manifestamente altruísta em prol da Causa do Evangelho. É renunciar, de forma deliberada e consciente, à carreira profissional, ao sucesso material e aos negócios seculares desta vida para servir fielmente de pastor para o precioso rebanho do Senhor Jesus Cristo. É assemelhar-se, em última instância, ao outrora papel abnegado do Filho de DEUS durante a Sua humilde encarnação neste hostil mundo como o Sumo Pastor das ovelhas. 

O ministério pastoral é benéfico a todos os níveis, profícuo no seu alcance objectivo e bastante rico em termos espirituais para quem o deseja de forma genuína. Se alguém deseja o episcopado, diz peremptoriamente a Palavra do SENHOR, excelente obra deseja (1 Tm 3:1). A pessoa em questão, deseja dedicar exclusivamente a sua vida para servir na Obra de DEUS e ser o mentor das ovelhas de Cristo. Deseja ser instrumento de bênçãos nas mãos do Todo-Poderoso DEUS para proclamar ousadamente o Evangelho da salvação para o mundo perdido e, em consequências disso, ganhar muitas almas, através da acção do Espírito Santo, para os céus. Não há exercício maior e melhor no mundo do que este. Não há profissão e ganhos mundanais ou glórias desta vida que se possam equiparar ao sublime ministério pastoral. Nada mesmo. Literalmente nada. O ministério pastoral excede, em larga medida, as polutas aspirações dos homens e todas as vaidades do mundo. 

Por isso, o ministério pastoral é excelente em todos os seus propósitos e fins. É excelente para o eleito pastor e, sobretudo, para a maravilhosa obra que este realizará em nome Bendito do Senhor Jesus Cristo. Além deste assente e magnífico privilégio humano-espiritual, que o ministério pastoral comporta e encerra no seu substrato, a verdade também é que ser autenticamente pastor não é “pêra-doce” ou incólume aos problemas, especialmente nos nossos conturbados, anárquicos, violentos, promíscuos, descrentes, corruptos, heréticos e pecaminosos dias pós-modernos. Não é uma tarefa consensual ou facílima, tal como aparenta aos olhos de muitas pessoas e do mundo em particular.  O ministério pastoral é extremamente exigente, complicado na sua concretização prática e amiúde difícil. Envolve sempre a priori o chamado Divino, a renúncia, a sabedoria, o discernimento, a moderação, a tolerância, a paciência, o sofrimento, o amor, o perdão e a entrega incondicional à Obra de DEUS. 

O pastor deve estar, acima de tudo, inteiramente apto e predisposto para arcar com todas as consequências inerentes ao ministério pastoral – tanto nos aspectos positivos como nos aspectos negativos. O eleito pastor deve ter uma ampla capacidade de suportar as privações da madrasta vida, as injustiças provocadas pelos terceiros, as adversidades da função pastoral, as maldades dos falsos Cristãos, a rejeição do mundo e o sofrimento em geral. As pressões, as incompreensões, as provocações, as calúnias, as difamações, as conspirações, as perseguições e as injustiças – provenientes de dentro e fora da Igreja – fazem parte do cardápio e dinâmica da vida pastoral. E o pastor deve estar completamente ciente de todas estas contradições no seu percurso pastoral e saber lidar com elas com espírito de mansidão, bem como ter a capacidade suficiente e a sabedoria Divina para responder positivamente a todos estes conhecidos desafios espirituais à luz das Escrituras Sagradas. 

A génesis de todos estes premeditados e vis ataques contra a figura do pastor vem do diabo, dos seus demónios e filhos da perdição, que estão ao seu serviço no mundo para confundir os fiéis Cristãos e separá-los de DEUS. É o diabo que tenta, a todo o custo, atacar o pastor, denegrindo-lhe a imagem, a reputação e o bom nome para, desta forma, fragilizá-lo e consequentemente dividir a Igreja. Só que usa os ímpios e os Cristãos ingénuos para atingir este maléfico desiderato. O pastor deve estar plenamente consciente e preparado para enfrentar esta dura realidade espiritual no seu percurso de vida, com as armaduras de DEUS (Ef 6:10-18). Só assim será realmente um obreiro aprovado por DEUS e inteiramente habilitado para toda a Boa Obra. 

É evidente que o ministério pastoral é abrangente em todas as suas dimensões e propósitos. Ele é abrangente do ponto de vista objectivo e do ponto de vista subjectivo. Naquele é abrangente na sua concretização prática e finalidade salvífica das ovelhas. Neste é abrangente no que toca ao círculo pessoal, familiar e relacional do pastor, isto é, se este for casado e posteriormente tiver filhos menores ou alguém sob os seus cuidados, contando que a parentela esteja na sua casa e sob a sua inteira dependência. Daí que, sem quaisquer tipos de hesitações prévias ou equívocos doutrinários, não se pode dissociar o ministério pastoral da família do pastor (se for casado, bem entendido. Isto porque uma pessoa pode ser pastor e não ser casado e, muito menos, ter filhos. Logo, neste caso, não se lhe aplica a responsabilidade e responsabilização da sua família no ministério pastoral, uma vez que não dispõe nem de esposa nem de filhos). 

O ministério pastoral está intrinsecamente ligado à família do pastor e vice-versa. As duas realidades estão simultaneamente interligadas e são indissociáveis uma da outra. O pastor, em circunstância alguma, deve isolar a sua família no seu ministério eclesiástico. Da mesma sorte, a família do pastor não deve ficar alheio ou indiferente ao ministério do pastor. As duas realidades estão concomitantemente interligadas e indissociáveis uma da outra. A bitola de Josué de “eu e a minha família serviremos ao Senhor” (Js 24:15) deve reger e fazer parte constante do ministério pastoral e da vida familiar do pastor. 

No entanto, por vicissitudes várias e supervenientes, tem havido um esforço indisfarçável e desmesurado, nas últimas décadas, por parte de alguns teólogos e pastores, para autonomizar o ministério pastoral da família do pastor, reduzindo-o estritamente à figura do “pastor contratado” à moda secular, através de um esgrimido argumento tautológico, falacioso e despido de qualquer tipo de suporte bíblico. Esta tese ardilosa, aparentemente consistente, para ludibriar os menos atentos na fé, visa sobretudo profissionalizar o ministério pastoral e dissolvê-lo numa libertária secularização, desresponsabilizando assim, no seu todo, a família do pastor no ofício eclesiástico. Não tem qualquer tipo de fundamento bíblico nem acolhimento romper este cordão umbilical do ministério pastoral com a família do pastor, antes pelo contrário as duas realidades estão manifestamente interligadas e são imprescindíveis no sucesso ministerial do pastor. 

A título exemplificativo, para testar esta nossa afirmação, se a família do pastor não está enquadrada na ortodoxia bíblica e desviada dela, obviamente que isto terá repercussões extremamente negativas dentro da Igreja e será um factor perturbador e determinante na desqualificação do pastor para o ministério pastoral, independentemente do seu bom carácter, da sua honorabilidade e da integridade espiritual.  O pastor deve, tal como formula inspiradamente a Palavra de DEUS, “ser um bom chefe da sua própria família e saber educar os filhos no respeito, com toda a dignidade. Pois se alguém não é capaz de ser um bom chefe da sua própria família como pode assumir responsabilidades na igreja de Deus?” (1Tm 3:4-5). É claro que não tem condições objectivas para assumir o ministério pastoral ou continuar a exercê-lo com dignidade – por não ter a autoridade espiritual requerida para exortar os irmãos na fé, mormente no que toca à ética familiar e o papel dos maridos, esposas e os filhos na Igreja. 

A teologia subjacente no ofício pastoral é a de a família pastoral ser unidamente um exemplo na Igreja e coadjuvante do pastor na prossecução do ministério eclesiástico. A esposa do pastor, os seus filhos e todas as pessoas que estão sob a sua alçada são partes essenciais no sucesso ou insucesso do ministério do pastor. Tanto que, por esta razão, as próprias Escrituras Sagradas vão dando algumas directrizes sobre a postura irrepreensível que deve caracterizar a família pastoral. A começar, desde logo, com a mulher do pastor. Esta deve apresentar-se com dignidade, modéstia, sem grandes penteados, nem ouro, nem jóias nem vestidos luxuosos, mas sim como convém à mulher que se preocupa principalmente em agradar a DEUS pelas boas obras (1 Tm 2:9-10), evitando máxime o pecado do materialismo, da ostentação, da bisbilhotice, da murmuração, da sensualidade e sumptuosidade. 

Da mesma forma, espera-se um comportamento decente e congruente dos filhos do pastor com os impolutos Princípios e Valores Cristãos, pois fazem parte essencial do ministério pastoral. A família pastoral deve ser modelo para todas as famílias da Igreja – tanto na espiritualidade, na oração, no serviço aos santos, na comunhão, na hospitalidade, na solidariedade, na visitação e na Evangelização e Missões. A mulher do pastor deve ser particularmente exemplo para toda a comunidade, assim como os filhos, com vista a “aliviarem” o ministério do pastor, colaborando de forma edificada no ofício pastoral, livrando assim o pastor de “não se tornar motivo de difamação nem cair na armadilha preparada pelo diabo (1 Tm 3:1-9). 

A família do pastor faz parte integrante do ministério pastoral e deve estar com o pastor na “linha da frente” no exercício eclesiástico. Deve estar preparado para acolher com amor todos os irmãos da igreja, especialmente os irmãos que carecem mais de acompanhamento e orientação, através do ministério de aconselhamento, de hospitalidade e de visitação. Nestes ministérios, é imprescindível a colaboração da mulher do pastor para a sua eficaz concretização. É decisiva a sua predisposição neste sentido para que o pastor seja realmente bem-sucedido em tais importantes ministérios. A mulher do pastor é a “terceira visão”, o “quarto ouvido” e o “sexto sentido” do pastor dentro da igreja. Olha aquilo que o pastor muitas vezes não vê ou negligencie. Escuta mais do que aquilo que o pastor escuta e consegue ter mais a noção real da vida da Igreja do que propriamente o pastor. 

A mulher do pastor leva um lado feminino para o ministério pastoral e ajuda a aplacar muitos ímpetos negativos na congregação e revoltas evitáveis contra a autoridade da igreja, catapultando com o seu gesto de simplicidade o apaziguamento, a harmonia e o despertamento para o serviço.  Se a mulher do pastor for sensível e aberta consegue seguramente inspirar mais confiança de muitos irmãos na igreja, penetrando eficazmente em determinados ângulos ministeriais a que o pastor jamais conseguiria chegar. Consegue atenuar várias tensões e problemas desnecessários entre os irmãos e estes com o pastor e vice-versa.  Ela é o maior activo e o escudo protector do pastor contra os mal-entendidos, as desavenças e revoltas que, de vez em quando, surgem nas igrejas. Daí que ela não pode ser relegada, secundarizada ou desvalorizada no ministério pastoral, até porque se for uma pessoa desleixada e fechada em termos espirituais vai certamente fechar muitas portas de oportunidades no ministério do pastor. 

Se a mulher do pastor e os seus filhos não participam nas actividades regulares da Igreja ou não têm uma conduta Cristã decente, que autoridade espiritual o pastor terá para exortar os outros irmãos na fé a terem uma vida diligente, devotada e santificada? Obviamente que perde toda a legitimidade e autoridade espiritual requerida na Palavra de DEUS para fazer tais chamadas de atenções, tendo em conta o mau exemplo que tem na sua própria casa e que não consegue resolver. E não há dúvida que esta “convulsão familiar” será muito bem aproveitada pelo diabo para difamar o pastor, levando-lhe, em casos mais extremos, a cair na armadilha preparada astutamente por ele, tal como ficou há bocado demonstrado pelo texto sagrado citado. 

Faz sentido que a mulher do pastor não exerça os dons espirituais na Igreja local em que o seu marido pastoreia? Ou que não esteja regularmente nos cultos dominicais, reuniões de oração e de senhoras ou vigílias? É plausível que a mulher do pastor esteja a congregar numa igreja diferente da igreja que o seu marido pastoreia? É congruente com a Palavra de DEUS que ela não acompanhe o seu marido nas actividades eclesiásticas e tenha uma conduta de vida censurável? Os filhos e parentes dependentes do pastor podem ter qualquer tipo de conduta? Estes podem dar ao luxo de ter uma orientação flagrantemente incompatível com a vida sacrossanta, nomeadamente envolvidos na promiscuidade sexual, alcoolismo, vícios de droga ou mundanismo? Obviamente que as respostas para todas estas pertinentes questões são manifestamente negativas, por razões várias que dispensam explicações. 

A família do pastor não pode, sob pena de desestabilizar e afectar drasticamente o mistério do pastor, não colaborar com o pastor no ministério pastoral e ter condutas desviantes à luz da Palavra de DEUS. Espera-se da família do pastor que seja modelo de espiritualidade para toda a Igreja. E isto envolve, desde logo, o próprio pastor, a sua esposa, os filhos e todos os dependentes a seu cargo. São estas mesmas pessoas que assistirão o pastor nos momentos mais difíceis, desanimadores e desafiantes do ministério, dando-lhe apoio incansável e forças suficientes para continuar firmemente a “combater o bom combate da fé”. 

A mulher do pastor e os filhos devem ser modelos dentro da Igreja e fora dela, insistimos. Devem estar com o pastor na “linha da frente” no exercício pastoral, com vista a estimular os outros irmãos da Igreja a seguirem o mesmo consagrado testemunho de fé. Vai, se assim não for, seguramente, afectar negativamente a autoridade do pastor dentro da congregação e obstaculizar o seu ministério. A família do pastor é o “espelho” da Igreja e modelo de referencial para todos os fiéis. Deve dar o exemplo no testemunho, na consagração, na dedicação, na hospitalidade e no amor ao serviço do Reino de DEUS. 

É claro que a família do pastor não é perfeita e nem se pode esperar dela a perfeição. Não é disto que estamos a falar nem tencionamos passar tal ideia nesta nossa humilde crónica. Também não somos da opinião de exigir muito mais do que aquilo que se pode exigir do pastor e da sua família. O máximo que se pode exigir do pastor e da sua família é o mínimo do ponto de vista espiritual: ser unida, dar testemunho fiel da Palavra de DEUS, comprometida com a Igreja do Senhor Jesus Cristo e exemplo de serviço para os santos. 

É verdade que há, cada vez mais, uma exigência anormal e maldosa dos crentes para com a família do pastor. Também há, cada vez mais, um conluio deliberado e maléfico por parte de irmãos que se deixam instrumentalizar pelo diabo para desestabilizar a família do pastor. É verdade que as congregações esperam muito mais do que aquilo que o pastor e a sua família podem oferecer às Igrejas. É ainda verdade que há uma pressão brutal sobre a família pastoral, levando-lhe, em determinados casos, a perder o ânimo e o fervor missionário. E, por fim, é verdade ainda que muitos pastores e as suas famílias têm sido reiteradamente enxovalhadas, humilhadas, vilipendiadas e perseguidas nas suas congregações – e com todas as repercussões negativas que isto comporta no equilíbrio espiritual das mesmas, principalmente na vida dos filhos. Estamos plenamente conscientes de toda esta triste e vergonhosa realidade. É um comportamento repugnante e atentatório aos elevados Princípios e Valores consagrados na Palavra de DEUS e ao amor Cristão que devem nortear os crentes. 

O pastor é um ser humano como qualquer outro crente no Senhor Jesus Cristo: tem inclinações, desejos, vulnerabilidades, falhas e limitações. O pastor é um pecador regenerado à semelhante dos demais eleitos filhos de DEUS. Esta verdade soteriológica também se aplica na íntegra à família do pastor. A única diferença é que o pastor foi separado para conduzir o povo de DEUS. Não se pode exigir perfeição de quem não é perfeito. Não se pode exigir infalibilidade de quem é falível. Não se pode exigir uma coisa que a pessoa não tem. Todavia, não se pode confundir as duas realidades ou misturá-las no mesmo saco. Uma coisa é a pressão desmedida e exigência exagerada que muitas igrejas fazem à família pastoral ou esperam dela. Outra coisa, e bem diferente, é desresponsabilizar completamente a família do pastor no ministério eclesiástico. 

O Pastor e a sua família devem estar preparados para vivenciar coisas boas do ministério, assim como as coisas menos boas dentro das congregações. Não é com queixumes e lamúrias que se vai aplacar as reiteradas investidas diabólicas e pressões no ministério. Julgamos que os pastores que passam mais a vida a lamentar da sua sorte ministerial, das duas uma: ou desconhecem as implicações teológicas de ser pastor, ou não receberam um autêntico chamado Divino para serem pastores. Um pastor de verdade não está constantemente a lamentar a sua sorte e está habilitado a sofrer até ao fim na Obra de DEUS, pelo amor do Senhor Jesus Cristo, tal como os heróis da fé e santos homens e mulheres de DEUS fizeram ao longo da história do Cristianismo. 

E mais, estamos em crer que os pastores que passam a vida a lamentar no ministério ou a fazerem alarido daquilo que estão a vivenciar não são, de todo, os que mais sofrem ou estão a sofrer. E são tais pastores que não cansam de procurar igrejas mais “favorecidas” ou “afortunadas” para acomodarem as suas expectativas humanas, nomeadamente a estabilidade financeira, a locupletação e o conforto da vida material. Estes, seguramente, não são verdadeiros pastores, mas sim assalariados, visando apenas os seus egocêntricos interesses e não do Senhor Jesus Cristo. E há muitos assim no nosso meio Evangélico-protestante, para grande tristeza nossa, infelizmente... 

Não se vislumbra qualquer tipo de sucesso ministerial do pastor onde a sua família não está devidamente incluída e integrada. A família do pastor é alicerce crucial e retaguarda indispensável para o bom ofício do pastor. Ela tem um papel de coadjuvação no ministério bastante importante e relevante. E deve contribuir para acompanhar, apoiar, orar, encorajar o pastor, principalmente, nos momentos mais sombrios, complicados e de desânimo. Se a família do pastor não colaborar com ele no ministério decerto que este não terá um frutuoso e bem-sucedido ministério. Fica vulnerável, circunscrito na sua acção, refém de tais fragilidades e condicionado do ponto de vista espiritual, ficando assim significativamente limitado na sua autoridade espiritual, sendo depois motivo de escândalo para a Igreja. 

A premeditada tentativa de desresponsabilizar a família do pastor nos ministérios da Igreja, nos círculos evangélicos tradicionais como nos círculos pentecostais, colide frontalmente com os pressupostos axiológicos da Doutrina Bíblica e resvala num profissionalismo secular subjectivista. Ela visa unicamente incorporar e legitimar biblicamente parte das pretensões teológicas dos movimentos progressistas dentro do Cristianismo que, a todo o custo, reclamam uma interpretação actualista das Escrituras Sagradas, absorvendo o mundanismo para dentro da Igreja. 

Os princípios que estão na génesis da instauração do ministério pastoral são todos de conjugação, agregação e de sinergias. A Igreja alberga no seu corpo várias e diversificadas pessoas, tendo o Senhor Jesus Cristo como a sua cabeça (Cl 1:18; Ef 5:23). O pastor é chamado a conduzir o rebanho do Senhor Jesus Cristo e estes, por sua vez, são chamados a viver unidos e em completa harmonia e comunhão, cooperando uns com os outros na prossecução, expansão e avanço do Evangelho para que o mundo creia que Jesus Cristo é o Senhor (Jo 17:21). Não há nada que, do ponto de vista da eclesiologia, estimula ou apela para o individualismo (vede, por todos os exemplos bíblicos, os dons espirituais e as suas finalidades em 1 Co 12:1-31 e Rm 12:4-8, respectivamente). 

A Igreja é a conjugação das partes para o mesmo fim: a edificação dos santos e glória do Senhor Jesus Cristo (Ef 4:12-13; 1 Co 12:7). O ministério pastoral, igualmente, é trabalho de equipa, não obstante ter o pastor como o líder principal da igreja local. E em todas estas colaborações e diversificações, a família pastoral é peça central e “guia” da Igreja. Logo, ela é parte integrante do ministério e a membrasia deve contar com ela na Obra e poder responsabilizá-la, e ao pastor, em casos de desvios comportamentais flagrantes. 

Nunca se pode equiparar o ministério pastoral com o regime de prestação de serviço secular, tal como muitos teólogos e pastores se têm, de forma explícita, desdobrado a fazer. O ministério pastoral é uma vocação e não tem nenhum paralelismo com o do assalariado. E o pastor e a sua família têm impreterivelmente de estar vocacionados para trabalharem juntos na igreja local que escolheram pastorear. Isto não quer dizer literalmente que a esposa do pastor, os seus filhos e paraninfos têm necessariamente de trabalhar a tempo integral ou serem obrigados a exercer funções proeminentes na Igreja. Nada disso. Podem optar por trabalhar a tempo inteiro, isto é, se a Igreja assim o entender, bem como podem não ocupar nenhum cargo na Igreja em que estejam congregados. No entanto, de modo algum, podem prescindir do compromisso com a Igreja, a vida santificada, o exemplo de vida Cristã e a predisposição para servir como qualquer outro membro da Igreja. 

A família do pastor tem toda a liberdade e deve ser encarada como qualquer outra família na congregação, sem prejuízo naturalmente de não descurar o seu papel acrescido na representação das famílias da Igreja. Não pode relaxar e deve pautar a sua conduta como uma verdadeira família pastoral. A mulher do pastor deve ser modelo refletivo para todos os membros da comunidade e das mulheres da Igreja em especial. Os filhos do pastor, da mesma sorte, devem ser motivo de orgulho e satisfação pelo pastor. Conjugando devidamente todas estas realidades e absorvendo-as, há mais manobras para o pastor exercer pacificamente, com maior autoridade e tranquilidade, o seu ministério eclesiástico, reduzindo consideravelmente muitas investidas do inimigo e do diabo em especial. 

Por isso, não compreendo minimamente os defensores da dissociação do ministério pastoral com a família pastoral. Esta pretensão não acautela a maior protecção que o pastor dispõe no ministério: a sua família. A família do pastor é, falando humanamente, retaguarda e reduto do pastor nos momentos decisivos do ministério. É na sua família que o pastor encontra carinho, incentivo, estímulo para continuar a prosseguir com o ministério. Retirar ao pastor esta peça fundamental no seu compromisso com a igreja é retirar-lhe a retaguarda em tempos de adversidades e um autêntico paradoxo em termos bíblicos. Não há nenhum ganho espiritual em excluir a família pastoral do ministério do pastor, antes pelo contrário potencia mais riscos, escândalos, prejuízos para ele e o seu ministério em geral. 

Em suma, o ofício pastoral e a família do pastor estão manifestamente interligados, interdependentes e indissociáveis nos ministérios da Igreja, independentemente das várias formulações teológicas que tentam defender o contrário. O serviço pastoral, em última instância, envolve também a casa do pastor e é neste prisma que ele deve ser concebido, entendido e aplicado. Que assim seja. E assim sempre será para glória do Senhor Jesus Cristo. Amém.