Faz hoje 20 anos sobre o desaparecimento físico do austríaco Karl Popper (1902-1994), considerado por muitos intelectuais como um dos grandes pensadores do séc. XX (LER). Ler a sua emblemática obra “A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos” é uma sensação única.
A meu ver o socialismo marxista-leninista é pura utopia, tal como a sociedade idealizada por Tomás More. Os volumes de Lénine (Obras Escolhidas) e O Capital de Marx são obras cheias de ambiguidades e bastantes paradoxais nas suas concretizações práticas. Preconizam uma ideologia híbrida, completamente aversiva ao modelo liberal da sociedade que, como sabemos, trouxe imensuráveis ganhos à Humanidade no que toca aos ideais da Democracia, da Igualdade, da Justiça Social, da Liberdade, da Tolerância e da Propriedade Privada.
Popper rejeitava, numa primeira abordagem, só mesmo numa primeira abordagem, o uso da violência, proclamando a tolerância nos domínios político, religioso e ético. No entanto, advertia, como meio de prevenção, que a sociedade aberta não é uma forma plena e garantida, antes comporta inimigos personificados nos nomes de Platão, Hegel e Marx, e nas ideias do historicismo, colectivismo e o naturalismo ético. E, de seguida, à luz deste entendimento, numa segunda fase, defender a tese de “paradoxo de tolerância” ou a não “tolerância ilimitada” com os intolerantes da sociedade aberta. Isto porque, segundo a formulação do insigne filosofo, “a tolerância ilimitada levará ao desaparecimento da tolerância. Se estendemos tolerância ilimitada até àqueles que são intolerantes, se não estamos preparados para defender a sociedade tolerante contra o ataque dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, juntamente com a tolerância”.
Por isso, em última instância, concluía que “a verbalização de filosofias intolerantes devemos reservar o direito de suprimi-las, mesmo através de força; porque poderá facilmente acontecer que os intolerantes se recusem a ter uma discussão racional, ou pior, renunciarem a racionalidade, proibindo os seus seguidores de ouvir argumentos racionais, porque são traiçoeiros, e responder a argumentos com punhos e pistolas. Devemos pois reservar o direito, em nome da tolerância, de não tolerar os intolerantes”.
Este debate da tolerância ou não tolerância com os intolerantes não tem sido pacífico ao longo de várias décadas e tem sido objecto de infindas querelas ideológico-filosóficas nos círculos intelectuais. Julgo, na minha humilde opinião, que há limite para tudo na vida. Não se pode em nome da falsa tolerância legitimar ideais e modus vivendi que colocam em causa os superiores Princípios e Valores da sã convivência entre os seres humanos, sobretudo os valores do humanismo e da humanidade.
A miscigenada sociedade aberta confronta-se com inúmeros inimigos – quer a nível interno como externo. Ali, desde logo, a relativização de grandes Princípios e Valores que outrora nortearam-na, máxime a sua identidade judaico-Cristã que há muito foi posta em causa, sem que nenhuma alternativa credível surgisse com suficiente consenso social para preencher o vazio das referências nas sociedades, somando isto às ideologias extremistas – tanto de Esquerda como de Direita – que têm vindo a crescer paulatinamente no seu seio. Aqui, a nível externo, a ameaça real vem mesmo do radicalismo islâmico e na parte dos seus lacaios que promovem desumanamente os actos macabros de terrorismo em nome da falsa “guerra santa”.