Uma das
palavras mais usadas no mundo inteiro durante esta pandemia do coronavírus a
que estamos infelizmente ainda a viver, sobretudo na imprensa, são “quarentena”,
“distanciamento”, “isolamento” e “confinamento” para reforçar a ideia de as
pessoas protegerem-se da maléfica doença e simultaneamente protegerem também os
outros. Todas elas acompanhadas, na generalidade das situações, do suplemento “social”,
ou seja, quarentena, distanciamento social, isolamento social e confinamento
social. A meu ver, sem propriamente ater na origem semântica das expressões em
questão, julgo que as três primeiras formulações poderão mais induzir ao “erro morfológico”
do que propriamente esta última.
Desde logo,
quando se fala e veicula nos media “quarentena”, “distanciamento social” ou “isolamento
social” passa implicitamente a ideia, em última instância, de que tudo isto consubstancia
na ausência da sociabilidade e sociabilização. Ora, não é nada disso que está a
acontecer, mesmo estando a viver em estado de emergência nacional. O coronavírus
não nos reduziu ainda a seres eremitas e tão pouco anacoretas. Continuamos,
apesar dos assinaláveis constrangimentos diários, a nos suster pela rede social
e também pelas redes sociais, confirmando assim a nossa natureza e substrato gregário.
Por isso, prefiro mais a expressão “confinamento social” comparativamente com
as outras, uma vez que consegue espelhar mais e melhor a realidade de excepção
a que estamos infelizmente circunscritos. No entanto, é tudo uma mera questão da liberdade semântica e de arbitrariedade.