Começou hoje oficialmente o início do novo ano
lectivo na Guiné-Bissau (LER). Partilho aqui a parcela do live informal que tive há
seis anos, concretamente em 27 Fevereiro de 2018, com a nossa famosa e
Activista “Dama de Ferro” Sali Mané, sob o tema: “O Sistema da Educação na
Guiné-Bissau” (VER). A minha intervenção em crioulo foi congruente
com aquilo que já havia defendido há doze anos num prolixo ensaio intitulado
“Em Defesa do Futuro da Guiné-Bissau” (LER).
Entendo que é preciso fazer reformas
profundíssimas neste tão importante e estratégico sector do país, que incorpora
o âmago do progresso de qualquer nação, sobretudo no que toca à qualificação
dos nossos quadros professores, proporcionando-lhes diversas oportunidades de
formação, com vista a poderem responder satisfatoriamente os exigentes desafios
pós-modernos a nível da formação. Fazer alteração nos modelos programáticos e
didácticos dos cursos que, até então, têm sido cegamente seguidos e que não se
ajustam à realidade do país, através da restruturação de planos curriculares,
melhorando significativamente a pedagogia do ensino, pautando, acima de tudo,
pelo rigor, exigência e excelência do mesmo. Construir mais escolas em todas as
regiões e aldeias do país (e não venham cá dizer-me que não há dinheiro para
tal), para assim dispor da cobertura do ensino em todo o território nacional e,
consequentemente, nesta primeira fase, impor o 9ºano de escolaridade
obrigatória para todos os guineenses.
Estas impreteríveis reformas estruturais devem
abranger todos os ciclos de ensino do país. Infelizmente, por incompetência e
falta de visão dos nossos sucessivos governantes, actualmente, na Guiné-Bissau,
não existe praticamente nenhuma escola técnico-profissionalizante, com a
excepção do CIFAP que foi fundado e continua a ser patrocinado pela Dioceses
das Igrejas Católica de Bissau, operando com bastante sucesso. É um erro
crasso. A nosso ver, o Estado deveria igualmente pensar seriamente em investir
nesse modelo de qualificação para os nossos homens e mulheres, minimizando as
graves carências que há em múltiplas áreas profissionais do país.
É preciso também encetar os contactos a nível
externo, procurando fazer parcerias com outros países no mesmo sector, não
somente para servir de intercâmbio ao nosso pessoal docente e os educadores em
geral, assim como melhorar a formação dos nossos jovens, através de bolsas de
estudo para os referidos países, a fim de completarem os seus planos de
estudos, nomeadamente a nível da Licenciatura, Mestrado, Doutoramento e
Pós-Doutoramento, se assim for o seu desejo.
A Educação é o único antídoto indispensável para
a Guiné-Bissau eliminar cabalmente os flagelos humano-sociais, que a têm
ameaçado de forma reiterada e galopante, nomeadamente à questão da
instabilidade governativa, a corrupção e a fome, a propagação do vírus de HIV,
as gravidezes precoces, o casamento forçado, a hedionda mutilação genital
feminina, a violência doméstica, o elevado índice da mortalidade
materno-infantil, a curta esperança média de vida dos cidadãos, etc. É através
da educação que o Homem consegue dispor de ferramentas necessárias ao seu
alcance para responder eficientemente os sérios desafios que vão surgindo ao
longo da sua vida e, deste modo, realizar-se como pessoa de bem no círculo em
que está inserido. Tudo isto acaba por ter reflexos bastantes positivos à
sociedade em geral.
Não sem razão que um dos grandes e proeminentes
pedagogos de todos os tempos Coménio, na sua célebre obra “Didáctica Magna”,
falava na necessidade de formação de todas as pessoas, independentemente do
sexo, raça, religião e estrato social. Todas as pessoas, sustentavam
peremptoriamente, devem ser enviadas às escolas, com vista a contribuírem para
uma sociedade mais ordeira, integrativa, equilibrada, justa e progressista. E
este imperativo não é alheio à Guiné-Bissau, isto é, aplica-se-lhe na
perfeição. Necessitamos, com a máxima urgência, de melhorar a nossa qualidade
de ensino para o bem-estar do nosso amado país, a Guiné-Bissau.