Os Paradoxos do Protestantismo

Os meios evangélico-tradicionais não enfatizam o bastante a virtude da oração. Não promovem os cultos comunitários de jejuns e vigílias. Oram-se, em abono da verdade, muito pouco. O jejum e as vigílias são realidades praticamente inexistentes nestes círculos Cristãos o que, de todo, é um erro crasso. Uma falha teológica gravíssima. Fala-se da oração sempre de uma forma tautológica, abstrata e amiúde superficial, remetendo-a mais subsidiariamente para o domínio subjectivo. Não realçam fervorosamente o poderio incontornável e impacto real da oração na vida dos santos de DEUS, máxime o seu impulso catalisador na coesão e dinamismo dos ministérios da Igreja e no avanço da obra missionária (LER). As Igrejas evangélico-tradicionais, infelizmente, não oram. Há, digamos assim, uma notória insensibilidade e alheamento deliberado no que toca à oração, jejum e vigílias nestes conservadores meios evangélico-protestantes, diferentemente dos círculos pentecostais. Os círculos pentecostais nestes pontos são irrepreensíveis. São meios que priorizam manifestamente a oração, jejum e vigílias. Estas salutares realidades espirituais fazem parte do seu substrato identitário. As denominações tradicionais falam pontualmente da oração e, em consequência disso, oram bastante pouco. Do jejum e vigílias então nem sequer falaremos. 

Toda esta insensibilidade com a oração nos meios tradicionais tem alguma explicação. Desde logo, são círculos precursores da Reforma Protestante do séc. XVI, em que esta se baseava exclusivamente em distanciar-se das práticas heréticas da Igreja Católica Romana, liderada mormente por um leque de reputados teólogos e doutores da Igreja que conseguiram fazer triunfar a Reforma Protestante (LER). Com isso, acabaram por libertar parte significativa dos crentes do obscurantismo teológico a que a Igreja Católica lhes votava, passando assim a enfatizar manifestamente o princípio bíblico do “sacerdócio universal” dos Cristãos e o estudo meticuloso da Palavra de DEUS para responder satisfatoriamente o referido desafio espiritual, dando mais primazia ao estudo rigoroso das Escrituras Sagradas e à sua hermenêutica. Tanto que, por esta razão, até à data presente, há uma consciência bem apurada nestes meios tradicionais do valor importantíssimo, imprescindível e irrenunciável do conhecimento da Palavra de DEUS, porque assim foram moldados desde o começo. São Igrejas que investem consideravelmente na formação dos seus Pastores, Obreiros, Líderes e nas suas congregações em geral, através de conceituadas Escolas de Profetas, riquíssimas ofertas da literatura Cristã, pregações de excelência e ensino doutrinário consistente (LER). No entanto, descuram a virtude da oração. Concebem equivocadamente que o conhecimento teórico das Escrituras Sagradas – só por si – é suficiente para o triunfo da vida Cristã, levando-os a dar menor relevância à oração. Será que podemos dissociar o genuíno conhecimento da Palavra de DEUS com a oração? Obviamente que não. 

Se é verdade que os meios tradicionais do protestantismo negligenciam a oração nas suas actividades eclesiásticas, da mesma sorte os pentecostais-carismáticos descuram flagrantemente o estudo sério da Palavra de DEUS. Não encorajam muito a preparação cuidada e aprofundada da Teologia. O estudo demorado das Escrituras Sagradas é entendido erradamente como sendo um “descartar” da acção poderosa do Espírito Santo. Os cultos acabam por esgotar-se meramente em reiteradas exortações, falar em línguas, profecias, milagres e curas. A generalidade dos Pastores, nestes meios, não tem a mínima formação formal em Teologia e os que têm evidenciam um défice acentuado na Palavra de DEUS, ou melhor, são muito mal preparados. Por conseguinte, são meios onde se propagam cada vez mais as heresias destruidoras de vidas humanas, que se vai consubstanciando em “outro evangelho” (o da prosperidade, bem entendido). 

Também esta realidade dos meios pentecostais-carismáticos tem alguma explicação. O pentecostalismo moderno floresceu nos EUA no séc. XX, com o afro americano William Joseph Seymour, através do ressurgimento de glossolalia. O movimento surgiu num círculo fechado de oração e de grande avivamento espiritual, que se vai traduzindo naquilo que apelidam de “baptismo do Espírito Santo”, isto é, a capacidade de falar línguas estranhas, tal como aconteceu com a vinda do Espírito Santo – depois da ascensão aos céus do Senhor Jesus Cristo (Actos 2:1-13). Esta é a razão pela qual as Igrejas Pentecostais-carismáticas enfatizam bastante a oração, o Baptismo do Espírito Santo, o dom de línguas e de curas, porque fazem parte do seu substrato identitário. A questão, igualmente, que se coloca é a seguinte: pode dissociar-se a oração do conhecimento da Palavra de DEUS? A resposta é, sem dúvida, não. 

Por toda essa insuficiência Teológica, as denominações evangélicas protestantes confrontam-se com seríssimos problemas, pois há uma “parcialização teológica” de todos os lados daquilo que deveria ser holisticamente a essência da Igreja do Senhor Jesus Cristo no “presente século mau”, tal como preceituado nas Escrituras Sagradas. Os meios evangélicos tradicionais não enfatizam a oração, a vigília e o jejum, insistimos, razão pela qual as suas congregações enfrentam problemas de falta de obreiros, o racionalismo teológico, a indolência com a Evangelização e Missões e estagnação a nível do crescimento. Ao passo que os meios pentecostais-carismáticos se tornaram denominações férteis para os “vendilhões do Templo” e de toda a sorte da heresia e escândalos espirituais sem precedentes (LER), uma vez que não se aplicam seriamente no conhecimento aprofundado da Palavra de DEUS. Um autêntico dilema que somente a graça de DEUS nos pode ajudar a ultrapassar. 

A oração, em suma, só faz sentido com o conhecimento da Palavra de DEUS e vice-versa. As duas realidades são concomitantemente intrínsecas e indissociáveis uma da outra no plano da salvação. Usemos, pois, sem qualquer tipo de hesitação, as duas poderosíssimas ferramentas espirituais para a nossa edificação, da Igreja do Senhor Jesus Cristo, e do mundo em geral. Que assim seja.