O Coronavírus e a Mutabilidade da Vida


Se há grande lição que esta pandemia do coronavírus nos vem reconfirmar é que nada é definitivamente garantido na vida, tal como alguns julga(va)m. Tudo é dinâmico, maleável e efémero. A política e a governação são efémeras. O trabalho e a estabilidade são efémeros. A democracia participativa e a liberdade dos cidadãos são efémeras. A comodidades e o bem-estar do dia-a-dia são efémeros. A família e os relacionamentos são efémeros. Da mesma sorte, a saúde e a vida são efémeras. Estamos sempre em constante mudança no espaço e no tempo – tanto para o bem como para o mal. Tudo é mutável, transitório e, em última instância, perecível. 

Há cinco meses, antes de germinar propriamente esta maldita praga do coronavírus, milhares e milhões de pessoas em todo o mundo organizaram as suas vidas de acordo com a condição expectável de cada um. No entanto, viram repentinamente tais expectativas alterarem-se drasticamente e com as profundas implicações práticas a que estamos impotentemente a assistir todos os dias: recessão económico-financeira em todos os países do mundo, desemprego galopante, famílias e amigos forçosamente separados, somando a milhares de pessoas que estão neste momento entre a vida e a morte e os que infelizmente já morreram e vão continuar a morrer paulatinamente, bem como muitas outras calamitosas situações colaterais que se auguram ainda num futuro breve. Tudo se alterou subitamente num abrir e fechar de olhos, deixando-nos reduzidos ao confinamento social e condicionados significativamente no nosso modo de viver. 

Há, para além da verdade acabada de se mencionar, ainda uma outra importantíssima lição que podemos extrair com este maldito coronavírus, nomeadamente que o interesse público deve sempre prevalecer em detrimento do interesse privado. Digo isto porque tem havido uma grande querela doutrinária ao longo dos tempos, persistindo até aos nossos dias, entre os defensores do Individualismo e do Colectivismo. Aqueles, de forma subsumida, dão demasiada primazia à liberdade individual e autodeterminação em detrimento do corporativismo. Ao passo que estes assentam nos pressupostos da realização do individuo dentro da colectividade em que ele está inserido. 

A meu ver, julgo que tem de haver a interdependência entre as duas distantes mundividências da vida, contando que não se ponha em causa a sobrevivência do Homem. E, justamente, por isso, nesta esteira do pensamento, oponho-me manifestamente à legalização da hedionda prática do aborto, do casamento homossexual, da eutanásia e das outras práticas aberrantes que colocam em causa a natureza da vida humana (LER). Com a pandemia do coronavírus, máxime as medidas preventivamente excepcionais que têm sido adoptadas pelos países, vem reforçar ainda mais a verdade de que a sobrevivência humana está acima da democracia, da liberdade e da auto-determinação, razão pela qual somos duramente afectados na nossa autonomia privada em nome da inquestionável sobrevivência colectiva. 

Tudo isto remete-nos primeiramente sobre a ideia cimeira da mutabilidade e transitoriedade da madrasta vida. Somente quando temos a consciência plena da volubilidade da vida e da sua fugacidade é que realmente estamos em condições necessárias de cultivar a sábia arte de viver bem, isto é, reconhecer acima de tudo a nossa insuficiência, fragilidade, finitude, depositar a nossa confiança e esperança exclusivamente em DEUS, amar o próximo como a nós mesmos e consequentemente preparar da melhor forma possível a nossa instantânea morte (LER). Infelizmente, muitas vezes, esquecemo-nos desta importante realidade, optando por nos refugiarmos inutilmente nas garantias ilusórias que não proporcionam uma vida bem-sucedida e feliz. Só quando nos chegam desgraças, tal como a do coronavírus, é que nos lembramos da nossa insignificância, mutabilidade, transitoriedade e perecibilidade. Em suma, nada neste mundo é garantido. De facto, excepto a morte, nada é garantido.