A Precariedade da Vida Humana


A vida é precária em todas as suas dimensões humano-antropológicas. Tão precária que ela é que hoje estamos aqui e amanhã já não estamos. Estamos sempre a correr sérios riscos de vida a todos os níveis. Riscos que acautelamos e riscos que não conseguimos acautelar. Riscos previsíveis e riscos imprevisíveis. E, por fim, riscos visíveis e riscos invisíveis. Somos seres condicionados, vulneráveis, limitados, transitórios, mortais e finitos. A nossa vida é extremamente curta e passageira. Passa tão rápido que nos ultrapassa completamente. 

Por isso, somos meros peregrinos e forasteiros neste maldito mundo em que abundam desgraçadamente a miséria, a traição, a decepção, o ódio, a vingança, a guerra, a dor, o sofrimento e a morte. Viemos a este mundo para morrer, infelizmente (LER)Esta é a nossa pior tragédia. A tragédia das tragédias que herdámos do pecado original de Adão Eva. A nossa existência é manifestamente insignificante perante o tamanho desafio da morte que nos espera a todos, razão pela qual não nos serve de nada encarnar a soberba, a maldade e toda a sorte de desumanidade no nosso substrato identitário. É contraproducente incorporar tais malévolos vícios, tendo em conta a fugacidade da vida e a nossa finitude. O certo, e mais sensato e proveitoso, é reconhecermos a nossa inutilidade e cultivar diariamente a virtude do amor, tolerância, perdão, solidariedade e reconciliação com DEUS e com o próximo à nossa volta, preparando assim, da melhor forma possível, a nossa passagem para o além. 

A vida é realmente curta, madrasta e efémera. Tanto que, por esta razão, os autores sagrados convergiam unanimemente em adjectivar a vida de “sopro”, “neblina” e “sombra passageira”, confirmando deste modo a sua transitoriedade e finitude. O rei David, no seu famoso Salmo, considerava que “o homem é como um suspiro; a sua vida passa como uma sombra” (Sl 144:3). O servo Tiago questionava os seus leitores em tom exortativo, demonstrando-lhes a insignificância da natureza humana e a fragilidade da vida: “que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece” (Tg 4:14). Na mesma esteira do pensamento, o sábio Salomão escrevia que “nem do sábio nem do ignorante ficará recordação que dure para sempre. Com o passar dos tempos, tudo se esquece. Tanto morre o sábio como o ignorante. (…). Sim, tudo é ilusão. É correr atrás do vento!” (Ec 2:16-17). 

Não obstante esta grande verdade exposta, que todos nós conhecemos e sabemos, doem-me imensamente o coração das perdas de vidas que vamos reiteradamente assistindo e ouvindo. Perdas vindas de perto e de longe. Perdas repentinas dos nossos familiares, amigos, colegas, conhecidos, desconhecidos e semelhantes nossos. Perdas que acontecem por causas naturais e acidentais, bem como perdas precipitadas pelas acções deliberadas do Homem. Perdas, sobretudo, provocadas pelas hediondas guerras que matam milhões de pessoas em todo o mundo e deixam rastos de destruição funestas e incalculáveis. 

Entristece-me profundamente a alma todas essas sistémicas e sistemáticas catástrofes, tragédias e desgraças sem fim à vista, a que vamos impotentemente presenciando, de perto e de longe, através das notícias que nos vão chegando. Tudo isto reforça ainda, cada vez mais, a minha descrença completa no ser humano e no mundo em geral. A minha inabalável fé e esperança estão unicamente firmados no Todo-Poderoso DEUS e no Seu Unigénito Filho Jesus Cristo, o meu eterno e Senhor e Salvador. 

A vida, em suma, é demasiado passageira e nós não somos absolutamente nada sem DEUS. Eis a grande e inequívoca verdade soteriológica, que precisamos interiorizar na nossa árdua e instantânea peregrinação neste “Vale de Lágrimas”, que tem impreterivelmente os dias contados pela mortalidade no curso do tempo.