Mais Um Ano de Vida

Começo sempre o Ano Novo civil a fazer anos. Celebro hoje 41 anos de idade, graças a DEUS. Mais um ano para comemorar o dom inefável da vida. Mais um ano de júbilo e de festa. Mais um ano de profunda gratidão ao meu Eterno DEUS pela vida, saúde e protecção que ELE graciosamente tem-me concedido ao longo dos tempos, tendo fé que tal estender-se-á ainda por longos e bons anos. 

Estes 41 anos são coroados de autênticos altos e baixos a todos os níveis, encerrando paradoxalmente prós e contras. Mesmo assim, são anos de bastante assimilação, amadurecimento, crescimento, reconciliação, amor, paz e de felicidade. São anos vividos intensamente com bastante fé, amor, paz, gratidão, entusiasmo e esperança em DEUS. Aquilo que sou hoje é resultado dessas simbioses de experiências gratificantes. Experiências profundamente marcantes e que moldaram positivamente o meu substrato identitário e mundividência, habilitando-me simultaneamente a reconhecer a precariedade da vida, a sua fugacidade e finitude. Estou tranquilamente em paz com DEUS, comigo e procuro, na medida do possível, no que depender de mim, estar também em paz com o próximo à minha volta. 

Sinto cada vez mais o peso da idade. Sinto que estou, de forma galopante, a ficar mais velho. Sinto, acima de tudo, a paixão contagiante da vida a entrelaçar-me diariamente. Que esta paulatina odisseia à velhice me habilite a ter plenamente a consciência dos meus defeitos e virtudes, depurando aqueles e aperfeiçoando estes. Por outras palavras, ter a capacidade suficiente de corrigir as minhas imperfeições e consolidar as minhas qualidades. 

Espero que, em circunstância alguma, se aparte de mim o temor de DEUS no meu coração e aplicabilidade da Sua Santa Palavra no meu testemunho quotidiano de vida. Espero, da mesma sorte, que nunca se aparte de mim a sabedoria, a humildade, a gratidão, a autenticidade, o discernimento, a liberdade, a autonomia, a frontalidade e o bom-senso, sobretudo de nunca me folgar com as injustiças ou reduzir-me em desvelos alimentados por uma mercenária ânsia de legitimação secular. Longe de mim toda a sorte de rancor, cólera, torpeza, soberba, complexos, bajulação, superficialidades, hipocrisia, ingratidão, vingança, malignidade e vaidade do mundo. 

Espero continuar a ser uma pessoa estavelmente bem-disposta, alegre no Espírito Santo, em todo e qualquer momento, satisfeito com aquilo que honestamente tenho e com muita fé no Senhor Jesus Cristo, o meu único e Eterno Salvador. Espero continuar a ter a predisposição mental para fazer boas amizades, ser amante da música, de comida, dos livros, da escrita, da intelectualidade e de um bom debate de ideias, sem descurar nunca a prática do bem e sempre o bem fazer. Que continue a falar alto e efusivamente, a cultivar mais a virtude do amor, do perdão, da tolerância, da misericórdia, da empatia e da simplicidade na maneira de estar e encarar os elevados desafios da vida, especialmente que a promessa bíblica do Salmo 91:1-16 seja manifestamente uma realidade vivo-concreta na minha vida. Espero, por fim, continuar a espalhar por toda a parte o bom perfume do conhecimento de Cristo para as pessoas que precisam encarecidamente da Sua graça redentora. 

Fechou-se, ontem, felizmente, um ciclo de vida e abre-se um novo a partir de hoje com elevadas expectativas no horizonte por concretizar. Até aqui me ajudou o SENHOR JEOVÁ. A ELE, através do Senhor Jesus Cristo, seja dado todo o Poder, a Honra, a Glória pelos séculos dos séculos. Que assim seja. E assim sempre será no nome Bendito do Senhor Jesus Cristo.

O Ministério Pastoral e a Família do Pastor: Da Interdependência à Indissociabilidade

A chamada Divina para o ministério pastoral é um dos mais nobres, relevantes, importantes e poderosos exercícios espirituais que um filho de DEUS possa almejar nesta momentânea vida. É um acto unilateral e manifestamente altruísta em prol da Causa do Evangelho. É renunciar, de forma deliberada e consciente, à carreira profissional, ao sucesso material e aos negócios seculares desta vida para servir fielmente de pastor para o precioso rebanho do Senhor Jesus Cristo. É assemelhar-se, em última instância, ao outrora papel abnegado do Filho de DEUS durante a Sua humilde encarnação neste hostil mundo como o Sumo Pastor das ovelhas. 

O ministério pastoral é benéfico a todos os níveis, profícuo no seu alcance objectivo e bastante rico em termos espirituais para quem o deseja de forma genuína. Se alguém deseja o episcopado, diz peremptoriamente a Palavra do SENHOR, excelente obra deseja (1 Tm 3:1). A pessoa em questão, deseja dedicar exclusivamente a sua vida para servir na Obra de DEUS e ser o mentor das ovelhas de Cristo. Deseja ser instrumento de bênçãos nas mãos do Todo-Poderoso DEUS para proclamar ousadamente o Evangelho da salvação para o mundo perdido e, em consequências disso, ganhar muitas almas, através da acção do Espírito Santo, para os céus. Não há exercício maior e melhor no mundo do que este. Não há profissão e ganhos mundanais ou glórias desta vida que se possam equiparar ao sublime ministério pastoral. Nada mesmo. Literalmente nada. O ministério pastoral excede, em larga medida, as polutas aspirações dos homens e todas as vaidades do mundo. 

Por isso, o ministério pastoral é excelente em todos os seus propósitos e fins. É excelente para o eleito pastor e, sobretudo, para a maravilhosa obra que este realizará em nome Bendito do Senhor Jesus Cristo. Além deste assente e magnífico privilégio humano-espiritual, que o ministério pastoral comporta e encerra no seu substrato, a verdade também é que ser autenticamente pastor não é “pêra-doce” ou incólume aos problemas, especialmente nos nossos conturbados, anárquicos, violentos, promíscuos, descrentes, corruptos, heréticos e pecaminosos dias pós-modernos. Não é uma tarefa consensual ou facílima, tal como aparenta aos olhos de muitas pessoas e do mundo em particular.  O ministério pastoral é extremamente exigente, complicado na sua concretização prática e amiúde difícil. Envolve sempre a priori o chamado Divino, a renúncia, a sabedoria, o discernimento, a moderação, a tolerância, a paciência, o sofrimento, o amor, o perdão e a entrega incondicional à Obra de DEUS. 

O pastor deve estar, acima de tudo, inteiramente apto e predisposto para arcar com todas as consequências inerentes ao ministério pastoral – tanto nos aspectos positivos como nos aspectos negativos. O eleito pastor deve ter uma ampla capacidade de suportar as privações da madrasta vida, as injustiças provocadas pelos terceiros, as adversidades da função pastoral, as maldades dos falsos Cristãos, a rejeição do mundo e o sofrimento em geral. As pressões, as incompreensões, as provocações, as calúnias, as difamações, as conspirações, as perseguições e as injustiças – provenientes de dentro e fora da Igreja – fazem parte do cardápio e dinâmica da vida pastoral. E o pastor deve estar completamente ciente de todas estas contradições no seu percurso pastoral e saber lidar com elas com espírito de mansidão, bem como ter a capacidade suficiente e a sabedoria Divina para responder positivamente a todos estes conhecidos desafios espirituais à luz das Escrituras Sagradas. 

A génesis de todos estes premeditados e vis ataques contra a figura do pastor vem do diabo, dos seus demónios e filhos da perdição, que estão ao seu serviço no mundo para confundir os fiéis Cristãos e separá-los de DEUS. É o diabo que tenta, a todo o custo, atacar o pastor, denegrindo-lhe a imagem, a reputação e o bom nome para, desta forma, fragilizá-lo e consequentemente dividir a Igreja. Só que usa os ímpios e os Cristãos ingénuos para atingir este maléfico desiderato. O pastor deve estar plenamente consciente e preparado para enfrentar esta dura realidade espiritual no seu percurso de vida, com as armaduras de DEUS (Ef 6:10-18). Só assim será realmente um obreiro aprovado por DEUS e inteiramente habilitado para toda a Boa Obra. 

É evidente que o ministério pastoral é abrangente em todas as suas dimensões e propósitos. Ele é abrangente do ponto de vista objectivo e do ponto de vista subjectivo. Naquele é abrangente na sua concretização prática e finalidade salvífica das ovelhas. Neste é abrangente no que toca ao círculo pessoal, familiar e relacional do pastor, isto é, se este for casado e posteriormente tiver filhos menores ou alguém sob os seus cuidados, contando que a parentela esteja na sua casa e sob a sua inteira dependência. Daí que, sem quaisquer tipos de hesitações prévias ou equívocos doutrinários, não se pode dissociar o ministério pastoral da família do pastor (se for casado, bem entendido. Isto porque uma pessoa pode ser pastor e não ser casado e, muito menos, ter filhos. Logo, neste caso, não se lhe aplica a responsabilidade e responsabilização da sua família no ministério pastoral, uma vez que não dispõe nem de esposa nem de filhos). 

O ministério pastoral está intrinsecamente ligado à família do pastor e vice-versa. As duas realidades estão simultaneamente interligadas e são indissociáveis uma da outra. O pastor, em circunstância alguma, deve isolar a sua família no seu ministério eclesiástico. Da mesma sorte, a família do pastor não deve ficar alheio ou indiferente ao ministério do pastor. As duas realidades estão concomitantemente interligadas e indissociáveis uma da outra. A bitola de Josué de “eu e a minha família serviremos ao Senhor” (Js 24:15) deve reger e fazer parte constante do ministério pastoral e da vida familiar do pastor. 

No entanto, por vicissitudes várias e supervenientes, tem havido um esforço indisfarçável e desmesurado, nas últimas décadas, por parte de alguns teólogos e pastores, para autonomizar o ministério pastoral da família do pastor, reduzindo-o estritamente à figura do “pastor contratado” à moda secular, através de um esgrimido argumento tautológico, falacioso e despido de qualquer tipo de suporte bíblico. Esta tese ardilosa, aparentemente consistente, para ludibriar os menos atentos na fé, visa sobretudo profissionalizar o ministério pastoral e dissolvê-lo numa libertária secularização, desresponsabilizando assim, no seu todo, a família do pastor no ofício eclesiástico. Não tem qualquer tipo de fundamento bíblico nem acolhimento romper este cordão umbilical do ministério pastoral com a família do pastor, antes pelo contrário as duas realidades estão manifestamente interligadas e são imprescindíveis no sucesso ministerial do pastor. 

A título exemplificativo, para testar esta nossa afirmação, se a família do pastor não está enquadrada na ortodoxia bíblica e desviada dela, obviamente que isto terá repercussões extremamente negativas dentro da Igreja e será um factor perturbador e determinante na desqualificação do pastor para o ministério pastoral, independentemente do seu bom carácter, da sua honorabilidade e da integridade espiritual.  O pastor deve, tal como formula inspiradamente a Palavra de DEUS, “ser um bom chefe da sua própria família e saber educar os filhos no respeito, com toda a dignidade. Pois se alguém não é capaz de ser um bom chefe da sua própria família como pode assumir responsabilidades na igreja de Deus?” (1Tm 3:4-5). É claro que não tem condições objectivas para assumir o ministério pastoral ou continuar a exercê-lo com dignidade – por não ter a autoridade espiritual requerida para exortar os irmãos na fé, mormente no que toca à ética familiar e o papel dos maridos, esposas e os filhos na Igreja. 

A teologia subjacente no ofício pastoral é a de a família pastoral ser unidamente um exemplo na Igreja e coadjuvante do pastor na prossecução do ministério eclesiástico. A esposa do pastor, os seus filhos e todas as pessoas que estão sob a sua alçada são partes essenciais no sucesso ou insucesso do ministério do pastor. Tanto que, por esta razão, as próprias Escrituras Sagradas vão dando algumas directrizes sobre a postura irrepreensível que deve caracterizar a família pastoral. A começar, desde logo, com a mulher do pastor. Esta deve apresentar-se com dignidade, modéstia, sem grandes penteados, nem ouro, nem jóias nem vestidos luxuosos, mas sim como convém à mulher que se preocupa principalmente em agradar a DEUS pelas boas obras (1 Tm 2:9-10), evitando máxime o pecado do materialismo, da ostentação, da bisbilhotice, da murmuração, da sensualidade e sumptuosidade. 

Da mesma forma, espera-se um comportamento decente e congruente dos filhos do pastor com os impolutos Princípios e Valores Cristãos, pois fazem parte essencial do ministério pastoral. A família pastoral deve ser modelo para todas as famílias da Igreja – tanto na espiritualidade, na oração, no serviço aos santos, na comunhão, na hospitalidade, na solidariedade, na visitação e na Evangelização e Missões. A mulher do pastor deve ser particularmente exemplo para toda a comunidade, assim como os filhos, com vista a “aliviarem” o ministério do pastor, colaborando de forma edificada no ofício pastoral, livrando assim o pastor de “não se tornar motivo de difamação nem cair na armadilha preparada pelo diabo (1 Tm 3:1-9). 

A família do pastor faz parte integrante do ministério pastoral e deve estar com o pastor na “linha da frente” no exercício eclesiástico. Deve estar preparado para acolher com amor todos os irmãos da igreja, especialmente os irmãos que carecem mais de acompanhamento e orientação, através do ministério de aconselhamento, de hospitalidade e de visitação. Nestes ministérios, é imprescindível a colaboração da mulher do pastor para a sua eficaz concretização. É decisiva a sua predisposição neste sentido para que o pastor seja realmente bem-sucedido em tais importantes ministérios. A mulher do pastor é a “terceira visão”, o “quarto ouvido” e o “sexto sentido” do pastor dentro da igreja. Olha aquilo que o pastor muitas vezes não vê ou negligencie. Escuta mais do que aquilo que o pastor escuta e consegue ter mais a noção real da vida da Igreja do que propriamente o pastor. 

A mulher do pastor leva um lado feminino para o ministério pastoral e ajuda a aplacar muitos ímpetos negativos na congregação e revoltas evitáveis contra a autoridade da igreja, catapultando com o seu gesto de simplicidade o apaziguamento, a harmonia e o despertamento para o serviço.  Se a mulher do pastor for sensível e aberta consegue seguramente inspirar mais confiança de muitos irmãos na igreja, penetrando eficazmente em determinados ângulos ministeriais a que o pastor jamais conseguiria chegar. Consegue atenuar várias tensões e problemas desnecessários entre os irmãos e estes com o pastor e vice-versa.  Ela é o maior activo e o escudo protector do pastor contra os mal-entendidos, as desavenças e revoltas que, de vez em quando, surgem nas igrejas. Daí que ela não pode ser relegada, secundarizada ou desvalorizada no ministério pastoral, até porque se for uma pessoa desleixada e fechada em termos espirituais vai certamente fechar muitas portas de oportunidades no ministério do pastor. 

Se a mulher do pastor e os seus filhos não participam nas actividades regulares da Igreja ou não têm uma conduta Cristã decente, que autoridade espiritual o pastor terá para exortar os outros irmãos na fé a terem uma vida diligente, devotada e santificada? Obviamente que perde toda a legitimidade e autoridade espiritual requerida na Palavra de DEUS para fazer tais chamadas de atenções, tendo em conta o mau exemplo que tem na sua própria casa e que não consegue resolver. E não há dúvida que esta “convulsão familiar” será muito bem aproveitada pelo diabo para difamar o pastor, levando-lhe, em casos mais extremos, a cair na armadilha preparada astutamente por ele, tal como ficou há bocado demonstrado pelo texto sagrado citado. 

Faz sentido que a mulher do pastor não exerça os dons espirituais na Igreja local em que o seu marido pastoreia? Ou que não esteja regularmente nos cultos dominicais, reuniões de oração e de senhoras ou vigílias? É plausível que a mulher do pastor esteja a congregar numa igreja diferente da igreja que o seu marido pastoreia? É congruente com a Palavra de DEUS que ela não acompanhe o seu marido nas actividades eclesiásticas e tenha uma conduta de vida censurável? Os filhos e parentes dependentes do pastor podem ter qualquer tipo de conduta? Estes podem dar ao luxo de ter uma orientação flagrantemente incompatível com a vida sacrossanta, nomeadamente envolvidos na promiscuidade sexual, alcoolismo, vícios de droga ou mundanismo? Obviamente que as respostas para todas estas pertinentes questões são manifestamente negativas, por razões várias que dispensam explicações. 

A família do pastor não pode, sob pena de desestabilizar e afectar drasticamente o mistério do pastor, não colaborar com o pastor no ministério pastoral e ter condutas desviantes à luz da Palavra de DEUS. Espera-se da família do pastor que seja modelo de espiritualidade para toda a Igreja. E isto envolve, desde logo, o próprio pastor, a sua esposa, os filhos e todos os dependentes a seu cargo. São estas mesmas pessoas que assistirão o pastor nos momentos mais difíceis, desanimadores e desafiantes do ministério, dando-lhe apoio incansável e forças suficientes para continuar firmemente a “combater o bom combate da fé”. 

A mulher do pastor e os filhos devem ser modelos dentro da Igreja e fora dela, insistimos. Devem estar com o pastor na “linha da frente” no exercício pastoral, com vista a estimular os outros irmãos da Igreja a seguirem o mesmo consagrado testemunho de fé. Vai, se assim não for, seguramente, afectar negativamente a autoridade do pastor dentro da congregação e obstaculizar o seu ministério. A família do pastor é o “espelho” da Igreja e modelo de referencial para todos os fiéis. Deve dar o exemplo no testemunho, na consagração, na dedicação, na hospitalidade e no amor ao serviço do Reino de DEUS. 

É claro que a família do pastor não é perfeita e nem se pode esperar dela a perfeição. Não é disto que estamos a falar nem tencionamos passar tal ideia nesta nossa humilde crónica. Também não somos da opinião de exigir muito mais do que aquilo que se pode exigir do pastor e da sua família. O máximo que se pode exigir do pastor e da sua família é o mínimo do ponto de vista espiritual: ser unida, dar testemunho fiel da Palavra de DEUS, comprometida com a Igreja do Senhor Jesus Cristo e exemplo de serviço para os santos. 

É verdade que há, cada vez mais, uma exigência anormal e maldosa dos crentes para com a família do pastor. Também há, cada vez mais, um conluio deliberado e maléfico por parte de irmãos que se deixam instrumentalizar pelo diabo para desestabilizar a família do pastor. É verdade que as congregações esperam muito mais do que aquilo que o pastor e a sua família podem oferecer às Igrejas. É ainda verdade que há uma pressão brutal sobre a família pastoral, levando-lhe, em determinados casos, a perder o ânimo e o fervor missionário. E, por fim, é verdade ainda que muitos pastores e as suas famílias têm sido reiteradamente enxovalhadas, humilhadas, vilipendiadas e perseguidas nas suas congregações – e com todas as repercussões negativas que isto comporta no equilíbrio espiritual das mesmas, principalmente na vida dos filhos. Estamos plenamente conscientes de toda esta triste e vergonhosa realidade. É um comportamento repugnante e atentatório aos elevados Princípios e Valores consagrados na Palavra de DEUS e ao amor Cristão que devem nortear os crentes. 

O pastor é um ser humano como qualquer outro crente no Senhor Jesus Cristo: tem inclinações, desejos, vulnerabilidades, falhas e limitações. O pastor é um pecador regenerado à semelhante dos demais eleitos filhos de DEUS. Esta verdade soteriológica também se aplica na íntegra à família do pastor. A única diferença é que o pastor foi separado para conduzir o povo de DEUS. Não se pode exigir perfeição de quem não é perfeito. Não se pode exigir infalibilidade de quem é falível. Não se pode exigir uma coisa que a pessoa não tem. Todavia, não se pode confundir as duas realidades ou misturá-las no mesmo saco. Uma coisa é a pressão desmedida e exigência exagerada que muitas igrejas fazem à família pastoral ou esperam dela. Outra coisa, e bem diferente, é desresponsabilizar completamente a família do pastor no ministério eclesiástico. 

O Pastor e a sua família devem estar preparados para vivenciar coisas boas do ministério, assim como as coisas menos boas dentro das congregações. Não é com queixumes e lamúrias que se vai aplacar as reiteradas investidas diabólicas e pressões no ministério. Julgamos que os pastores que passam mais a vida a lamentar da sua sorte ministerial, das duas uma: ou desconhecem as implicações teológicas de ser pastor, ou não receberam um autêntico chamado Divino para serem pastores. Um pastor de verdade não está constantemente a lamentar a sua sorte e está habilitado a sofrer até ao fim na Obra de DEUS, pelo amor do Senhor Jesus Cristo, tal como os heróis da fé e santos homens e mulheres de DEUS fizeram ao longo da história do Cristianismo. 

E mais, estamos em crer que os pastores que passam a vida a lamentar no ministério ou a fazerem alarido daquilo que estão a vivenciar não são, de todo, os que mais sofrem ou estão a sofrer. E são tais pastores que não cansam de procurar igrejas mais “favorecidas” ou “afortunadas” para acomodarem as suas expectativas humanas, nomeadamente a estabilidade financeira, a locupletação e o conforto da vida material. Estes, seguramente, não são verdadeiros pastores, mas sim assalariados, visando apenas os seus egocêntricos interesses e não do Senhor Jesus Cristo. E há muitos assim no nosso meio Evangélico-protestante, para grande tristeza nossa, infelizmente... 

Não se vislumbra qualquer tipo de sucesso ministerial do pastor onde a sua família não está devidamente incluída e integrada. A família do pastor é alicerce crucial e retaguarda indispensável para o bom ofício do pastor. Ela tem um papel de coadjuvação no ministério bastante importante e relevante. E deve contribuir para acompanhar, apoiar, orar, encorajar o pastor, principalmente, nos momentos mais sombrios, complicados e de desânimo. Se a família do pastor não colaborar com ele no ministério decerto que este não terá um frutuoso e bem-sucedido ministério. Fica vulnerável, circunscrito na sua acção, refém de tais fragilidades e condicionado do ponto de vista espiritual, ficando assim significativamente limitado na sua autoridade espiritual, sendo depois motivo de escândalo para a Igreja. 

A premeditada tentativa de desresponsabilizar a família do pastor nos ministérios da Igreja, nos círculos evangélicos tradicionais como nos círculos pentecostais, colide frontalmente com os pressupostos axiológicos da Doutrina Bíblica e resvala num profissionalismo secular subjectivista. Ela visa unicamente incorporar e legitimar biblicamente parte das pretensões teológicas dos movimentos progressistas dentro do Cristianismo que, a todo o custo, reclamam uma interpretação actualista das Escrituras Sagradas, absorvendo o mundanismo para dentro da Igreja. 

Os princípios que estão na génesis da instauração do ministério pastoral são todos de conjugação, agregação e de sinergias. A Igreja alberga no seu corpo várias e diversificadas pessoas, tendo o Senhor Jesus Cristo como a sua cabeça (Cl 1:18; Ef 5:23). O pastor é chamado a conduzir o rebanho do Senhor Jesus Cristo e estes, por sua vez, são chamados a viver unidos e em completa harmonia e comunhão, cooperando uns com os outros na prossecução, expansão e avanço do Evangelho para que o mundo creia que Jesus Cristo é o Senhor (Jo 17:21). Não há nada que, do ponto de vista da eclesiologia, estimula ou apela para o individualismo (vede, por todos os exemplos bíblicos, os dons espirituais e as suas finalidades em 1 Co 12:1-31 e Rm 12:4-8, respectivamente). 

A Igreja é a conjugação das partes para o mesmo fim: a edificação dos santos e glória do Senhor Jesus Cristo (Ef 4:12-13; 1 Co 12:7). O ministério pastoral, igualmente, é trabalho de equipa, não obstante ter o pastor como o líder principal da igreja local. E em todas estas colaborações e diversificações, a família pastoral é peça central e “guia” da Igreja. Logo, ela é parte integrante do ministério e a membrasia deve contar com ela na Obra e poder responsabilizá-la, e ao pastor, em casos de desvios comportamentais flagrantes. 

Nunca se pode equiparar o ministério pastoral com o regime de prestação de serviço secular, tal como muitos teólogos e pastores se têm, de forma explícita, desdobrado a fazer. O ministério pastoral é uma vocação e não tem nenhum paralelismo com o do assalariado. E o pastor e a sua família têm impreterivelmente de estar vocacionados para trabalharem juntos na igreja local que escolheram pastorear. Isto não quer dizer literalmente que a esposa do pastor, os seus filhos e paraninfos têm necessariamente de trabalhar a tempo integral ou serem obrigados a exercer funções proeminentes na Igreja. Nada disso. Podem optar por trabalhar a tempo inteiro, isto é, se a Igreja assim o entender, bem como podem não ocupar nenhum cargo na Igreja em que estejam congregados. No entanto, de modo algum, podem prescindir do compromisso com a Igreja, a vida santificada, o exemplo de vida Cristã e a predisposição para servir como qualquer outro membro da Igreja. 

A família do pastor tem toda a liberdade e deve ser encarada como qualquer outra família na congregação, sem prejuízo naturalmente de não descurar o seu papel acrescido na representação das famílias da Igreja. Não pode relaxar e deve pautar a sua conduta como uma verdadeira família pastoral. A mulher do pastor deve ser modelo refletivo para todos os membros da comunidade e das mulheres da Igreja em especial. Os filhos do pastor, da mesma sorte, devem ser motivo de orgulho e satisfação pelo pastor. Conjugando devidamente todas estas realidades e absorvendo-as, há mais manobras para o pastor exercer pacificamente, com maior autoridade e tranquilidade, o seu ministério eclesiástico, reduzindo consideravelmente muitas investidas do inimigo e do diabo em especial. 

Por isso, não compreendo minimamente os defensores da dissociação do ministério pastoral com a família pastoral. Esta pretensão não acautela a maior protecção que o pastor dispõe no ministério: a sua família. A família do pastor é, falando humanamente, retaguarda e reduto do pastor nos momentos decisivos do ministério. É na sua família que o pastor encontra carinho, incentivo, estímulo para continuar a prosseguir com o ministério. Retirar ao pastor esta peça fundamental no seu compromisso com a igreja é retirar-lhe a retaguarda em tempos de adversidades e um autêntico paradoxo em termos bíblicos. Não há nenhum ganho espiritual em excluir a família pastoral do ministério do pastor, antes pelo contrário potencia mais riscos, escândalos, prejuízos para ele e o seu ministério em geral. 

Em suma, o ofício pastoral e a família do pastor estão manifestamente interligados, interdependentes e indissociáveis nos ministérios da Igreja, independentemente das várias formulações teológicas que tentam defender o contrário. O serviço pastoral, em última instância, envolve também a casa do pastor e é neste prisma que ele deve ser concebido, entendido e aplicado. Que assim seja. E assim sempre será para glória do Senhor Jesus Cristo. Amém. 

O Amor Seja Sem Hipocrisia

O amor é uma das virtudes mais ricas, edificantes e importantíssimas que há do ponto de vista Cristão e no ser humano em geral. Não há nenhum atributo, merecimento, benfeitoria ou dom que se lhe possa comparar ou igualar. Ele transcende, em larga medida, as polutas aspirações do ser humano e todos os bens mundanais. O amor, nas suas várias configurações antropológicas, é mais relevante do que a fé e a esperança (LER). Destas três grandes virtudes Cristãs, que imprescindivelmente devem fazer parte do cardápio espiritual dos filhos de DEUS, o amor é a maior e a mais importante delas (1Co 13:13). 

Tanto o primeiro grande mandamento como o segundo, contidos nas Escrituras Sagradas, que são indissociáveis um do outro e indispensáveis para se entrar no Reino de DEUS, têm a ver com o amor a DEUS e o amor ao próximo.  Destes dois mandamentos, exortava peremptoriamente o Senhor Jesus Cristo, dependem toda a lei e os profetas (Mt 23:36-40). Só há valoração e completa valorização espiritual quando tudo é feito altruisticamente com base na sublime lei do amor, isto é, amor a DEUS e amor ao próximo. O cumprimento pleno e efectivo da Lei de DEUS se resume unicamente no amor. 

O amor é o oxigênio interminável das almas piedosas, habituando-as a saberem relacionar-se com quaisquer tipos de pessoas e situações de forma determinada, devotada, humilde e abnegada. É fonte inesgotável da bondade e do perdão, que brota dos corações puros, projectando-se positivamente na vida de terceiros. O amor ama na felicidade e, ao mesmo tempo, ama na dor e no sofrimento. O amor consegue sempre tudo e é capaz de fazer tudo em prol da unidade, harmonia, paz, reconciliação e felicidade. É, justamente, por tudo isto, escrevia o Apóstolo Paulo, que “o amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece”, pois “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Co 13:4-7). 

Viver o amor é encarnar diariamente, de forma deliberada e holística, a premissa da verdade, da paz, do perdão, da reconciliação, da humildade, da moderação, da empatia, da bondade e da abnegação. O amor é o único caminho para chegarmos verdadeiramente a DEUS e relacionarmo-nos saudavelmente com ELE como seus filhos amados. O amor é, em última instância, a personificação do próprio Todo-Poderoso Jeová. DEUS é amor; e quem está em amor está em DEUS, e DEUS nele (1 Jo 4:16). 

Quem não vive o amor no seu dia-a-dia jamais poderá ter qualquer tipo de intimidade ou relacionamento com o nosso Todo-Poderoso DEUS, sobretudo aquele que odeia o seu irmão. E se disser o contrário, é um autêntico mentiroso. Isto porque, admoestava sabiamente o autor sagrado, “se alguém diz que ama a Deus mas tem ódio ao seu irmão é um mentiroso. Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê!” (1 Jo 4:20). E, por fim, concluiu de forma exortativa: “o mandamento que Jesus nos deixou é este: aquele que ama a Deus deve também amar o seu irmão” (1 Jo 4:21). 

Só quem realmente não tem o amor no seu coração consegue abominar o seu próximo ao ponto de criar as oportunidades maléficas para prejudicá-lo e fazer-lhe mal, porque “o que ama o seu próximo não lhe faz nenhum mal. Pois o amor é o cumprimento total da lei. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13:10). O amor é a manifestação visível e real de tudo o que é mais puro e sincero no ser humano. É o maior dom espiritual que há, razão pela qual quem anda genuinamente no amor nunca cansa e nem se cansa. 

No entanto, há um risco bastante acrescido e real do amor ser beliscado, camuflado e adulterado, tendo em conta as realidades conjunturais e vicissitudes supervenientes. Há ainda o risco maior do amor ser parcelado, negligenciado e protelado por causa da insensibilidade humana e oportunismo egocêntrico. Há, acima de tudo, infelizmente, o risco do amor ser subvertido, repulsado, restringido, rejeitado e completamente bloqueado nas mentes empedernidas. Estes perniciosos riscos enumerados, consubstanciam autênticos inimigos directos do amor e venenos mortais para acabar definitivamente com o amor no coração do ser humano. 

É, justamente, por tais lamentáveis situações, que vemos pessoas a usarem e abusarem dos outros, sem dó nem piedade, como objectos de prazer, para satisfazerem os seus insaciáveis caprichos carnais. É por tais situações que, para grande tristeza nossa, estamos submergidos numa sociedade de aproveitamento, de manipulação e de violência física e verbal contra o próximo. É por tais situações que, cada vez mais, proliferam no mundo o divisionismo, o adultério, o divórcio, a corrupção, a ofensa, o abuso, a violação, a brutalidade, a guerra, a carnificina, o homicídio e toda a sorte de malignidade contra DEUS e o próximo em geral. A inevitável consequência objectiva de subtrair deliberadamente o amor de DEUS, na convivência humano-social, é atrair todas as desgraças deste mundo e uma rampa deslizante para a perdição eterna. 

Por isso, o amor de DEUS tem de fazer parte do substrato identitário do ser humano para, desta forma, convertê-lo e humanizá-lo, habilitando-lhe assim para a prática de toda a boa obra que se funda em DEUS (1 Tm 3:17) – a razão primeira e última do amor. Quem ama verdadeiramente a DEUS, e tem-No no seu coração, jamais cometerá as hediondas e detestáveis práticas acima descritas para prejudicar o seu próximo. A sua conduta, antes pelo contrário, será sempre pautada para o bem e sempre o bem-fazer. 

Vivamos, em suma, de forma genuína, a virtude do amor no nosso coração e mente durante toda a nossa momentânea peregrinação neste mundo maligno. Rejeitamos resolutamente viver um amor superficial e de hipocrisia, despidos de qualquer tipo de valor espiritual, uma vez que esta repreensível conduta não se coaduna com os elevados Princípios e Valores Cristãos. Ela é manifestamente contrária com tudo aquilo que se espera de nós, como seres humanos, criados à imagem e semelhança de DEUS. Vivamos, sim, na Lei do Amor, porque só o amor nos libertará da condenação presente e também da vindoura. Que assim seja. E assim sempre será no nome Bendito do Senhor Jesus Cristo. 

A Importância Cimeira do Amor nas Nossas Vidas


Estive, no passado dia 27 de Outubro, a pregar na minha Igreja. O tema que foi objecto da minha meditação com a congregação foi “A Importância Cimeira do Amor nas Nossas Vidas”, baseado na conhecida passagem bíblica de 1 Coríntios 13:1-13. 

A sublime figura de estilo usada pelo Apóstolo Paulo para definir o amor no texto sagrado em apreço não se encontra paralelismo em lado algum da história da humanidade, bem como em nenhum outro pensador clássico, medieval, moderno ou pós-moderno. Também não se encontra paralelismo nas argutas formulações poéticas de Ovídio, o grande “mestre de amor”, e nem nas heróicas obras literárias de William Shakespeare, estendendo-se igualmente as pomposas e proliferadas canções românticas de artistas contemporâneas dos nossos dias (LER)

É um amor plenamente holístico e sacrificial em todas as suas dimensões humano-espirituais. Transcende, em larga medida, o mero altruísmo pessoal. Não envolve contrapartidas. Colide completamente com as injustiças, as inverdades, o egoísmo, a jactância, o moralismo hipócrita, o falso saber e a espiritualidade de fachada. Não é passível de arbitrariedades ou mudanças circunstanciais. Ele é constante, incondicional e sempiterno. É mais precioso do que todos os bens mundanais, os dons espirituais e a própria vida. É um amor que, sendo encarnado pelos Homens com índole de “boa vontade”, procura compreender mais do que ser compreendido, consolar mais do que ser consolado, amar mais do que ser amado. É um amor omnipotente que nos remete indubitavelmente para o Todo-Poderoso DEUS – a razão primária e última de todo e qualquer tipo de amor. 

Por isso, nesta óptica Divina, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. É um amor que derruba os preconceitos, supera os impossíveis, constrói pontes e projecta-se para a eternidade. Este amor merece ser fervorosamente enaltecido, cantado, proclamado, partilhado e, sobretudo, vivido. Que assim seja sempre nas nossas vidas. 

Uma Guerra Pode Ser Considerada Justa à Luz do Cristianismo?

Depois de atermo-nos no artigo anterior a debruçar sobre se uma guerra pode ser ou não justa, de acordo com as disposições do Direito Internacional Público (LER), vamos procurar também aqui analisar se, realmente, o conceito da guerra justa tem ou não algum acolhimento bíblico para depois dar no final a nossa humilde opinião. 

Desde logo, como devotos, convictos e fiéis Cristãos Evangélico que somos, dizer que a generalidade dos destacados teólogos Cristãos defende manifestamente o conceito da guerra justa, seguindo a mesma esteira do pensamento de Santo Agostinho, embora vincando algumas atenuantes bastantes consideráveis. Por outras palavras, advogam estes ilustres teólogos, “a guerra deve ser declarada só quando é necessário, e para reduzir a injustiça; e para que através dela Deus possa livrar os homens da necessidade e preservá-los em paz”. Mesmo na guerra, sustentam ainda, “o espírito do pacificador deve ser estimado (…) a sua conduta deve ser justa – manter a fé com o inimigo, cumprir promessas, evitar a violência desnecessária, o espólio, o massacre, a vingança, as atrocidades e as represálias”. 

Esta concepção foi amplamente defendida e difundida por Santo Tomas de Aquino, arrastando posteriormente os grandes Reformadores Protestantes, especialmente Martinho Lutero, João Calvino. O Anabaptista Menno Simões, um dos importantes teólogos protestantes, foi o único que se distanciou radicalmente deste entendimento, defendendo uma posição do pacifismo, ou seja, contra a guerra. Menno Simões, formulando a sua oposição a guerra, baseou-se no facto de “o cristão ser seguidor do Príncipe da Paz, tendo recebido a ordem expressa de amar os seus inimigos e fazer bem aos perseguidores, dando a outra face a quem lhe bater” para rejeitar categoricamente a possibilidade de um Cristão participar na guerra, ou mesmo defendê-la. Importa ainda salientar que este pacifismo foi posteriormente adoptado pelo Pastor Baptista e Activista Político americano, Martin Luther King Jr., na sua grande luta pelos direitos iguais entre os negros e os brancos nos Estados Unidos da América (EUA). 

Feito este brevíssimo enquadramento geral, cabe dizer que nada nos surpreendem quando vemos pessoas não crentes ou não Cristãs no Senhor Jesus Cristo a defenderem ideologicamente a legitimidade da guerra ou “guerra justa”. É natural que eles tenham esse entendimento de “ajustes de contas” e de “vingança” para com o inimigo, visto que não têm o temor de DEUS nos seus corações, diferentemente dos Cristãos. Somos inteiramente contra a guerra e também contra a denominada “guerra justa”, independentemente da sua justificação legal, política, moral, ética e económica. Por mais chocante que possa ser uma situação, como tem acontecido inúmeras vezes, de vermos pessoas inocentes a serem maltratadas, mortas de forma bruta e injusta, precisamos sempre de consciencializar que o nosso Eterno DEUS está sempre no controle da situação e que no devido tempo ELE manifestará o Seu soberano poder para repor a Justiça e punir os malfeitores. 

Nada, mais nada do que é feito neste maldito mundo, transcende o domínio efectivo DEUS ou, porventura, que ELE não saiba. Devemos procurar sempre aplacar os nossos ímpetos de vingança e esperar pacientemente em DEUS. O papel que nos cabe, como seus filhos, é, simplesmente, o de dobrar os nossos joelhos em oração, intercedendo incessantemente a favor destes flagelos e tragedias humanas, pedindo a ajuda Divina e intervenção para a sua eficaz resolução. Jamais esperançando que a guerra é solução ideal dos problemas. Não é com a guerra que se faz a Paz, tal como o mundo apregoa, mas sim com o espírito do diálogo e da paz, procurando humildemente alcançar os consensos das partes beligerantes. Só assim poderemos fazer pontes viáveis e exequíveis e construir solidamente o caminho da tão ambicionada Paz entre os seres humanos, os povos e os países em geral. 

Perante tudo que ficou exposto, sem qualquer tipo de hesitação, consideramos extremamente desprovido do fundamento bíblico a tese dos grandes teólogos que supra mencionamos e de tantos outros Cristãos que, ao longo dos tempos, e ainda hoje, continuam a defender convictamente a legitimidade da “guerra justa” – como sendo solução para os reais problemas que afectam a Humanidade. Apropriando-nos das inspiradoras palavras do Teólogo Menno Simões, perguntamos a estes nossos irmãos na fé: “digam-me, como é que um cristão pode defender biblicamente a retaliação, a rebelião, a guerra, o golpear, o matar, o torturar, o roubar, o espoliar e o queimar cidades e vencer países? … Toda a rebelião é da carne e do diabo … Oh abençoado leitor, as nossas armas não são espadas nem lanças, mas a paciência, o silêncio e a esperança e a Palavra de Deus”. 

Consideramos que qualquer tipo de guerra está sempre subjacente as forças do mal. A guerra, seja justa ou não, é do diabo e dos seus agentes no mundo inteiro. A guerra é uma coisa bruta, sangrenta, horrorosa e macabra. Ela é inequivocamente maléfica, injusta, trágica e diabólica. Com a guerra morrem inúmeras pessoas, principalmente pessoas inocentes. Morrem as criancinhas indefesas, juniores, adolescentes, jovens e adultos. Morrem pessoas doentes, morrem pessoas incapacitadas, morrem os pobres e os ricos, bem como morrem os fracos e os poderosos, morrem as mulheres, morrem as grávidas, morrem os idosos, morrem os homens, morrem, acima de tudo, os seres humanos. Morrem os sonhos e triunfa o ódio, a vingança, as bombas, a destruição, a matança, a carnificina, os horrores, a maldade e a malignidade. As forças do mal conseguem com a guerra abafar transitoriamente as forças do bem. Nós, os Cristãos, somos os discípulos do “Príncipe da Paz”, o Senhor Jesus Cristo, e devemos seguir sempre o Seu Evangelho da Paz, que é viver holisticamente na paz, promover a paz, defender a paz, transmitir os ideais da paz, estar em paz com tudo e todos à nossa volta. 

A paz do Senhor Jesus Cristo habilita-nos a reconciliar primeiramente com DEUS, connosco, com os nossos semelhantes e com tudo à nossa volta. Não é uma paz débil, podre, momentânea ou de fachada e, tão pouco, delimitada no curso do tempo. Ela é efectiva e eterna na vida de todos os homens e mulheres de “boa vontade”. Ela tem o poder para sarar as feridas, transformar o carácter, libertar dos corrosivos vícios e salvar do pecado. É a Paz de DEUS que excede qualquer tipo de arbítrio ou entendimento humano (2 Co 5:17-18, Lc2:14, Fp 4:7). 

Com a vinda do Senhor Jesus ao mundo, a palavra paz passou a ganhar o mais elevado significado teológico e teleológico. A começar, desde logo, com o jubiloso anúncio da grande multidão de milícia celestial que entoava alegremente: “glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”. E, ainda, nos momentos precedentes, a ascensão do Senhor Jesus aos céus, Ele encorajou os seus discípulos com as afectuosas palavras de determinação e perseverança: “deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”. A paz que, em última instância, sem dúvida, traduz a presença constante do Espírito Santo na vida daqueles que verdadeiramente “nasceram de novo”. Estas inequívocas verdades salvíficas estão também contempladas no Evangelho Lc 2:13-14 e Jo 14:27. 

Tanto a encarnação do Senhor Jesus como a Sua glorificação enceraram com a palavra paz. Por isso, o Senhor Jesus Cristo proclamou incessantemente a paz, durante todo o Seu ministério terreno, sem fazer excepção de pessoas, confirmando assim pelo Seu impoluto testemunho de vida ser o “Príncipe da Paz”. Ele não presenteou os pobres pastores com nada que não fosse a paz, emanada pelos anjos e personificada na Sua humilde manjedoura. Da mesma sorte, o único legado que ELE deixou aos seus discípulos, aquando da Sua assunção aos céus, foi a mesma paz de DEUS. É uma paz que consegue na perfeição preencher plenamente todo o vazio do ser humano e, concomitantemente, despertá-lo para os sublimes Princípios e Valores da vida consagrada e de entrega incondicional ao Senhor Jesus Cristo. Cristo, sustentava o Apóstolo Paulo, para reforçar esta manifesta verdade salvadora, “é de facto a nossa paz”. O Senhor Jesus, reafirmamos pela fé e de forma convicta, é realmente a nossa Paz (Ef 2:14 a17 e Is 9:6). 

O nosso mundo está bastante descrente, corrompido, desnorteado, conflituoso e na deriva espiritual sem precedentes, porque teima em declinar a maravilhosa paz do Senhor Jesus (Is 55:1-13), preferindo refugiar-se nas efémeras ilusões que não proporcionam uma vida bem-sucedida, realizada e feliz. A Paz de DEUS está visceralmente ligada à harmonia, ao amor, ao perdão, ao gozo, à bondade, à esperança e à herança da vida eterna. Ela é a manifestação visível do fruto do Espírito na vida dos eleitos filhos de DEUS e infalíveis garantias das bem-aventuranças eternas (Is 55:1a13, Gl 5:22 e Mt 5:1a12). 

Por isso, para terminar, sigamos vivamente o nobre exemplo do Senhor Jesus Cristo, que é o “Príncipe da Paz”. Rejeitemos firmemente todo e qualquer tipo de engano, descrença, mundanismo, pecado, guerras ou conflitos, porque são de trevas e do diabo. Nós, os Cristãos, somos filhos de DEUS para andarmos na luz e na paz. Somos salvos pelo Senhor Jesus Cristo, através da acção do Espírito Santo em nós, para encarnarmos plenamente a paz, viver em paz, proclamar a mensagem da paz, defender afincadamente a paz para a glória e honra do nosso Todo-Poderoso DEUS. Que assim seja. E assim sempre será pela fé no nome Bendito do Senhor e Salvador Jesus Cristo. Amém, Amém e Amém! 

Uma Guerra Pode Ser Considerada Justa?

Este foi também o tema do título do artigo de opinião que escrevemos há um ano para o jornal português Observador, a propósito da bárbara invasão da Ucrânia pela Rússia. Sentimo-nos novamente compelidos no bom sentido do termo para escrevermos sobre este mesmo pertinente tema, tendo conta a difícil, conturbada, polvorosa, explosiva e perigosa situação a que estamos a viver neste momento no mundo inteiro. 

O mundo em que vivemos está cheio de conflitos. Não precisamos de estar plenamente sintonizados com a realidade político-internacional para disso nos apercebermos. Basta constatarmos os alarmantes sinais que nos vão chegando, de perto e de longe, através dos media, para compreendermos que, de facto, vivemos num mundo bastante hostil e belicoso. Há, cada vez mais, abominações que proliferam de forma galopante no nosso mundo dito pós-moderno, fruto da mundividência jacobina e libertária que obstam o seu avanço saudável, somando ainda os radicalismos extremos tanto de direita como de esquerda, conduzindo-o para um caos absoluto e o fim apocalíptico – por causa desta postura belicosa do Homem. 

A guerra a que estamos a referir aqui é no sentido stricto sensu, isto é, do conflito armado entre os Estados ou no caso da designada guerra civil, que envolve mortes de pessoas e destruição em massa. Obviamente que este artigo não é inocente, tendo em conta a proliferação de guerras a que estamos neste momento a assistir pelo mundo inteiro, sobretudo a guerra entre o Hamas e Israel, extensível também a Palestina e o Líbano, bem como o conflito armado entre Azerbaijão e a Armênia em Nagorno-Karabakh, guerra entre a Rússia e a Ucrânia. E também a guerra civil na Síria, no Iraque, no Iêmen, na República do Congo, na Etiópia, no Camarões, no Mianmar, no Afeganistão, somando ainda as guerras do jihadismo islâmico em África, nomeadamente no Mali, na República Centro Africana, no Sudão, no Níger, na Nigéria, no Burkina Faso, na Somália e no Moçambique, etc. 

A pertinente pergunta que se coloca é: será que podemos considerar uma guerra como sendo justa? Eis a grande questão que nos interpela. Vamos tentar responder esta pergunta em duas dimensões: primeiro, numa dimensão secular e depois numa dimensão teológico-Cristã. 

Começando a nossa reflexão numa perpectiva secular, importa salientar que na doutrina do Direito Internacional há um unanime consenso a favor do conceito da guerra justa, fruto de influência do pensamento de Santo Agostinho, John Locke, Hugo Grócio, Francisco Suares e Francisco Vitória. Para estes conceituados autores mundial, que marcaram profundamente a nossa história da política internacional, a guerra justa serve para “vingar o mal, quando um Estado tem que ser atacado pela sua negligência em reparar males cometidos pelos seus cidadãos, ou em restaurar aquilo que por maldade lhe foi retirado”. As guerras justas, sustentam ainda estes ilustres pensadores, podem incluir guerras por motivos de segurança, guerras para vingar o mal, ou guerras declaradas a países que recusam a passagem a outros”. 

Por influência destes conhecidos autores, a Carta das Nações Unidas de 1945 adoptou na íntegra este postulado doutrinário, habilitando o Conselho de Segurança a recorrer ao uso da força, isto é, a implementar a acção armada contra qualquer país em caso de ameaça à paz, ruptura da paz e acto de agressão. Quanto aos Estados membros da Organização das Nações Unidas (ONU), a Carta consente o uso da força pelos Estados membros em apenas duas circunstâncias: 1): em caso da legítima defesa, individual ou colectiva (nos termos do artigo quinquagésimo primeiro); 2) em caso de assistência às próprias Nações Unidas (art.2.5), como a participação em acções por elas levadas a cabo ao abrigo do capítulo sétimo ou noutras, a título excepcional (as operações de paz e de ingerência humanitária, por elas determinadas ou admitidas). 

Do ponto de vista secular, sem grandes surpresas, há uma total convergência e apoio mundial dos países na defesa do conceito da Guerra Justa, contando que a referida guerra preencha os requisitos legais exigidos e estabelecidos na Carta das Nações Unidas e respeitar, igualmente, O Direito Internacional Humanitário, conhecido como “o direito da guerra” ou “o direito dos conflitos armados”, regimentado na Convenção de Genebra. No artigo três, desta mesma convenção, por todos os artigos, diz expressamente: “as pessoas que não tomem parte directamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que tenham deposto as armas e as pessoas que tenham sido postas fora de combate por doença, ferimentos, detenção, ou por qualquer outra causa, serão, em todas as circunstâncias, tratadas com humanidade, sem nenhuma distinção de carácter desfavorável baseada na raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento ou fortuna, ou qualquer outro critério análogo” (art.º 3:1). 

Para este efeito, são e manter-se-ão proibidas, em qualquer ocasião e lugar, relativamente às pessoas acima mencionadas: (alínea a) As ofensas contra a vida e a integridade física, especialmente o homicídio sob todas as formas, mutilações, tratamentos cruéis, torturas e suplícios;  b) A tomada de reféns;  c) As ofensas à dignidade das pessoas, especialmente os tratamentos humilhantes e degradantes; d) As condenações proferidas e as execuções efectuadas sem prévio julgamento, realizado por um tribunal regularmente constituído, que ofereça todas as garantias judiciais reconhecidas como indispensáveis pelos povos civilizados. 

O número dois ainda do artigo três termina desta forma: “os feridos e doentes serão recolhidos e tratados. Um organismo humanitário imparcial, como a Comissão Internacional da Cruz Vermelha, poderá oferecer os seus serviços às partes no conflito. As Partes no conflito esforçar-se-ão também por pôr em vigor, por meio de acordos especiais, todas ou parte das restantes disposições da presente Convenção. A aplicação das disposições precedentes não afectará o estatuto jurídico das Partes no conflito”. 

Por outras palavras, a Convenção de Genebra estabelece as regras no período de guerra, especialmente as de proteger os civis, os seus direitos e bens na decorrência do conflito armado no âmbito de Direito Internacional Humanitário. Neste ponto não há qualquer tipo de dúvidas. Estamos entendidos nesta abordagem secular. 

O Melhor e o Pior dos Tempos, de Charles Dickens


“Foram tempos magníficos, foram tempos tenebrosos, foi a era da sabedoria, foi a era da estultícia, foi a época das convicções, foi a época da incredulidade, foi a idade da luz, foi a idade das trevas, foi a Primavera da esperança, foi o Inverno do desespero, tínhamos tudo diante de nós,  nada tínhamos diante de nós, íamos todos direitos para o Céu, íamos todos direitos em sentido contrário – em suma, aquela época assemelhava-se tanto à presente que algumas das suas eminências mais exuberantes insistiam que apenas a poderíamos adjectivar, para o bem ou para o mal, lançando mão do grau superlativo” (LER) (AQUI).

A Falsa Data de Independência da Guiné-Bissau e o Relatório da ONU Sobre os Direitos Humanos


Partilho aqui o vídeo que gravei esta tarde, a propósito da minha rubrica semanal, “Em Defesa do Futuro da Guiné-Bissau”. Abordei apenas dois grandes temas que marcaram agenda política e social do país nesta última semana, nomeadamente a vã tentativa do revisionismo histórico por parte de Umaro Sissoko Embaló e Biaguê Na N’Tan sobre a nossa data da independência nacional, descortinando o objectivo por detrás desta perigosa adulteração da nossa história. Alertei ainda os partidos políticos pró-democracia para não caírem no engodo e “canto da sereia” de Sissoko para aceitar a marcação de eleições legislativas, mas sim devem estar unidos, firmes e determinantes em exigir exclusivamente as eleições presidenciais ainda este ano, sob pena de usar todos os mecanismos constitucionais para afastá-lo do poder depois do dia 27 de Fevereiro do próximo ano. 

E, por fim, no segundo tema, abordei o preocupante relatório das Nações Unidas divulgado na semana passada que denuncia o tráfico de seres humanos na Guiné-Bissau, sobretudo das mulheres e crianças em particular. Infelizmente, tal como é do conhecimento da generalidade dos guineenses, ser mulher e criança na Guiné-Bissau não é nada fácil. As crianças guineenses, para grande tristeza nossa, são votadas a trabalhos forçados, violência doméstica, casamento forçado, prostituição e mutilação genital feminina, sem qualquer tipo de responsabilização das pessoas que praticam tais hediondos crimes, consubstanciando uma autêntica violação de Direitos Humanos. Não há primado da lei na Guiné-Bissau, antes pelo contrário, o que prevalece é arbitrariedade, a conveniência, o abuso de poder, o costume contra legem – e com todas as implicações que tudo isto representa na vida dos cidadãos, especialmente aqueles que são mais vulneráveis. 

Tenha um bom proveito na visualização e auscultação do vídeo. Boa semana. 

Os Pressupostos Teológicos da Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo


Partilho aqui este excerto da minha pregação sobre “Saber Discernir o Tempo em Que Vivemos” (Mateus 24:1-14). Procurei abordar os pressupostos teológico-doutrinários da segunda vinda do Senhor Jesus Cristo, nomeadamente no que toca à manifestação da Graça de DEUS pelos eleitos para a salvação; a pregação do Evangelho para todas as nações; a grande tribulação; apostasia dos últimos dias; a depravação moral; o surgimento da figura do anti-Cristo; a proliferação de guerras em todas as dimensões, etc. 

Tenha um proveito na visualização e auscultação do vídeo. 

A Falsa Questão de Abertura da Igreja ao Mundo


Partilho aqui este brevíssimo e improvisado vídeo que gravei em frente da estátua do grande Reformador Protestante Ulrich Zwingli em Zurique, Suíça, sob o tema: “A Falsa Questão de Abertura da Igreja ao Mundo”. Nele refutei manifestamente este falacioso, infundado e maléfico entendimento que visa, em última instância, enfraquecer e consequentemente destruir a Igreja do Senhor Jesus Cristo. Sustentam os tais críticos do Cristianismo, coadjuvados neste diabólico propósito pelos falsos Cristãos, de que a Igreja deve abrir-se ao mundo para assim poder atrair mais pessoas para o seu seio. Abertura esta que, segundo eles, prende-se sobretudo com a ordenação das mulheres ao ministério pastoral, adopção do ecumenismo bíblico, aceitação da prática homossexual e o seu casamento, bem como não censurar o aborto, a eutanásia e o divórcio, etc. 

Levados por este perigoso vento de doutrina e ondas da pós-modernidade, muitas igrejas no Ocidente, particularmente aqui na Europa, têm renegado deliberadamente as suas origens fundacionais instauradas pelo Senhor Jesus Cristo e reconfirmadas pelos Santos Apóstolos. Tanto que, por esta razão, mesmo com toda esta propalada e tautológica abertura “civilizacional” assente num liberalismo teológico sem precedentes, a Igreja não tem estado a atrair mais pessoas aqui na Europa para dentro dela, antes pelo contrário, ela está cada vez mais herética, estagnada, velha e menos comprometida com os impolutos Princípios e Valores do Evangelho. 

A título exemplificativo, para testar esta nossa afirmação, veja-se a realidade das igrejas nos países escandinavos, especialmente na Suécia, onde o mundanismo apoderou-se completamente do Cristianismo, mesmo assim só dois porcento vai à Igreja e estão parcialmente comprometidos com ela. Na Suécia as mulheres podem ser bispos, tal como os homossexuais. Estes, por sua vez, podem casar pela igreja sem problema, ou seja, aprovam o casamento homossexual e convivem bem com o ecumenismo bíblico-teológico. Apesar de toda esta grande e ampla abertura da igreja sueca aos “avanços civilizacionais” do presente século mau em que estamos submergidos, ela continua a minguar no caminho da autodestruição, tal como muitas outras igrejas aqui na Europa. 

Por isso, este entendimento minimalista e redutor de que a Igreja tem de se abrir ao mundo para poder atrair mais pessoas não passa de um falatório inútil dos ateus, agnósticos e descrentes em geral que visa, em última instância, destruir a Igreja do Senhor Jesus Cristãos. Estas pessoas, em abono da verdade, são dissimuladamente anti-Evangelho, anti-Santidade, anti-Cristianismo, anti-Igreja e anti-Cristo, que não querem ver a afirmação e o sucesso missionário da Igreja do Senhor Jesus Cristo. 

E mais, em circunstância alguma, a Igreja deve ajustar-se ao mundo. É o mundo que deve ajustar sim a mensagem do Evangelho. Quando a Igreja tenta andar ao sabor do vento e das ondas do mundo acaba sempre por cair nas heresias e, desta forma, desviar-se dos seus princípios fundacionais, tal como a História nos tem indubitavelmente provado ao longo dos séculos. A Igreja tem de abrir-se à Sã Doutrina, à Santidade, à Oração, à Evangelização, à Missões e, acima de tudo, para o Todo-Poderoso DEUS. Isto sim, é abertura que conduz à Salvação. 

Nós, em suma, os eleitos filhos de DEUS, não nos deixaremos nunca enganar por artimanhas inventadas pela esperteza daqueles que se armam profundos conhecedores daquilo que literalmente desconhecem. Mas continuando fidedignamente a proclamar a verdade com amor, crescendo em todos os sentidos para Cristo, que é a cabeça da Igreja (Ef 4:14-15). Que assim seja. E assim sempre será pela fé no Senhor Jesus Cristo. 

Um Dia, Uma Aniversariante


Hoje é um dia bastante especial para a minha queridíssima irmã Alexandra Vieira, conhecida também por “Atembro” (eu chamo-lhe carinhosamente de “Alexandrosa” ou “Até”, dependendo do meu estado do humor 😀😀). Ela faz anos hoje. É o dia do aniversário dela. Celebra mais uma primavera na sua vida, graças a DEUS. 

A minha querida irmã Alexandra Vieira sempre me protegeu e cuidou de mim de forma incondicional, não obstante a nossa pouca diferença de idade. Quando eu era mais novo e completamente dependente, por incontáveis vezes ao longo dos anos, deu-me o banho, cuidou das minhas roupas, cozinhou para mim e levou-me à igreja, etc. Sempre me tratou genuinamente com o amor e carinho. Não duvido da sinceridade do seu amor para comigo. Guardo, no meu coração, de forma grata e penhorada, todo o bem que a minha estimada irmã tem feito por mim, sobretudo o que ela representa particularmente na minha vida e na nossa família em geral. 

Por isso, neste dia tão especial, querida irmã “Alexandrosa”, renovo os votos de maiores bênçãos terreno-espirituais sobre a tua vida. Que o nosso Bom e Todo-Poderoso DEUS continue a proteger-te e orientar-te em todos os teus legítimos desafios da vida, juntamente com toda a nossa família. Que sejas sempre bem-sucedida, realizada e feliz no teu percurso de vida. 

Muitos parabéns e feliz aniversário, querida irmã. Todas as felicidades do tempo e eternidade. 

Da Democracia na América: A Minha Leitura Sobre os Dois Candidatos Presidenciais e o Possível Vencedor


A forma mais fidedigna de aferir com precisão os hábitos, costumes e mundividências do povo americano é ler “Da Democracia na América” de Alexis de Tocqueville. É uma obra colossal que dispensa glosas. Nela o célebre autor francês reduzia sabiamente a peculiaridade civilizacional do povo americano, destacando todas as importantes áreas subjacentes a uma sociedade moderna. Aborda ainda os grandes pilares da democracia participativa, nomeadamente o direito, a igualdade, a liberdade, a segurança, a protecção, a economia e o progresso. É um dos mais reputados livros alguma vez escritos sobre a sociologia dos EUA e um dos mais influentes a nível da filosofia política. 

Por isso, propomos analisar as eleições norte-americanas com base nele, fazendo concomitantemente as devidas adaptações aos nossos dias coevos. Desde já, antes de prosseguirmos com o nosso pensamento, importa esclarecer que não estamos a apoiar nenhum dos candidatos. Se porventura fôssemos americanos, por imperativo de consciência, teríamos optado por abstenção como oportunamente justificamos aqui em outras ocasiões. Temos vindo a acompanhar, com particular atenção e interesse, o desenrolar de todo o processo de eleições para o próximo Presidente dos EUA, máxime o aparente paradoxo que o mesmo encerra. O delirante espectáculo político que os republicanos e os democratas estão a proporcionar ao mundo inteiro é a manifestação visível do “espírito americano” na sua plenitude. 

Neste momento é bastante prematuro augurar um possível vencedor das eleições. Numa leitura superficial e descuidada alguns precipitar-se-ão em atribuir a vitória à Kamala Harris, tendo em conta a sua posição mais ou menos ortodoxa e equilibrada à luz do “progressismo moderno”, comparativamente com o seu adversário Donald Trump, e acrescentando o facto de ser a segunda mulher na história do país a concorrer ao tão cobiçado cargo da República.  No entanto, numa visão meramente tocquevilliana, o candidato republicano Trump parte com um ligeiro avanço face à Kamala, dado que encarna melhor os valores do “America safe again” e/ou “America great again”. 

E mais, acresce ainda o facto de Trump defender no seu programa eleitoral temas bastantes caros aos americanos, especialmente a questão da economia, a segurança interna, o mercado protecionista, a política anti-imigração e a guerra aos radicais islâmicos. É um populista nato. Fala coisas agradáveis aos ouvidos dos seus conterrâneos que muitos pensam, mas que receiam dizer em público para não ferir susceptibilidades e serem politicamente incorrectos. O candidato Trump não teme este risco continuo das coisas, razão pela qual veicula vigorosamente o mote da expulsão massiva dos imigrantes ilegais nos EUA para, deste modo, atrair mais votos e consolidar o seu favoritismo perante o eleitorado. 

A Kamala, diferentemente, não definiu uma estratégia clara na sua agenda política. Ela tem limitado somente a contrariar a política de Trump, aproveitando alguns louros da actual administração que ela é Vice-presidente. Kamala é muito vaga no seu posicionamento sobre a temática da imigração, a economia, a guerra no Médio Oriente, especialmente entre Israel e o Hamas, assim como o impasse acentuado no conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia. Tem focalizado mais na sua bandeira ultra progressista de liberalizar a hedionda pratica do aborto – e com todas implicações nefastas que isto terá e representará na vida de milhões dos americanos. 

Há ainda dois relevantes factores que jogam a desfavor de Kamala Harris: por ter sido conotada com os fracassos políticos de Washington, D.C. nos últimos anos e ser uma mulher na corrida presidencial. Ali, através da política menos conseguida do Presidente Joe Biden e por ser braço-direito deste como Vice-presidente, sendo manifestamente imputados todos os aspectos menos bons da actual administração. Aqui, tão-simplesmente, por ser uma mulher. É isto mesmo: uma mulher. Aquilo que poderia ser um triunfo inicial para ela poderá vir a ser uma autêntica pedra de tropeço. Isto porque os americanos, ao contrário dos outros povos, têm um conceito particular da concretização do Princípio da Igualdade. E como escrevia Tocqueville, para ilustrar e vincar esta grande realidade: “a América é o país do Mundo onde se teve o cuidado mais continuado de traçar para os dois sexos linhas de acção nitidamente distintas, querendo-se que eles andassem simultaneamente a par e por caminhos diferentes. Não se vê nenhuma americana a dirigir os assuntos externos da família, ou à frente de uma actividade comercial, ou agindo na esfera política, mas também não se encontra nenhuma mulher que seja obrigada a dedicar-se aos duros trabalhos da agricultura ou aos penosos labores que exigem o desenvolvimento da força física; e não existem famílias tão pobres que sejam obrigadas a fazer excepção a esta regra” (in “Da Democracia na América”, p. 724, Principia, Estoril, 2007). Os homens e as mulheres, nos EUA, há pelo menos um século, desempenhavam funções distintas uns dos outros, sem beliscar o Princípio da Igualdade na sua essência e construção, obviamente na óptica do autor francês. 

É verdade que já não se nota assim tanto uma diferenciada função entre os homens e as mulheres no mundo Ocidental. Houve, de facto, significativos avanços a nível da mentalidade das pessoas e na legislação dos países, minimizando assim as barreiras outrora existentes entre ambos os sexos, inclusive nos EUA. No entanto, tal não quer dizer que não haja ainda certos vestígios de preconceitos generalizados em relação à capacidade comprovada da mulher para conduzir os destinos políticos de uma nação. Uma coisa é ela ter vindo a desempenhar funções relevantes no aparelho do Estado e nas grandes empresas. Outra coisa, e bem diferente, é ser-lhe conferida a oportunidade única de ser Presidente de um país. Neste campo as mulheres continuam ainda a ser manifestamente discriminadas e relegadas para segundo plano, por serem apenas aquilo que são em termos biológicos, não obstante algumas melhorias verificadas no nosso mundo actual. Nos EUA, fazendo fé os relatos de Tocquiville e também no “cadastro histórico” do país, ficam ainda bastante aquém na matéria de Direitos Humanos. São ainda, em abono da verdade, tendenciosamente machistas. 

A Kamala Harris do ponto de vista objectivo tem tudo para ser a próxima Presidente da República dos EUA. Além da inquestionável tarimba política que acumulou ao longo dos anos, e mais precisamente nos últimos quatro anos, conhece muito bem os dossiers governativos. Está habilitada para ocupar a Casa Branca do que propriamente o radical, sectário e condenado Trump. Só que, por vicissitudes várias, as coisas não são assim tão lineares como aparentam. Ela para ganhar as eleições vai depender de vários factores conjugados, nomeadamente que Trump continue a cometer constantes gafes, a radicalização do discurso deste, a acentuação de cisão no seio do partido republicano e, por fim, que não haja nenhuma alteração brusca e em grande escala na política internacional nas próximas horas que se avizinham, sobretudo no Médio Oriente, aqui na Europa e no Indo-Pacifico. São estes importantes factores que vão garantir-lhe a eleição, caso contrário, tal será bastante difícil. 

A Kamala Harris se ganhar as eleições amanhã não é por ter um programa de governo auspicioso, mas sim pelo demérito do seu adversário Trump. Um homem com uma ideologia política extremamente perigosa: sexista por convicção, suprematista, belicoso, hipócrita, prepotente e ultranacionalista. Tanto que, por esta razão, foi condenado por fraude fiscal. Trump será uma ameaça para o mundo inteiro, isto é, se conseguir concretizar o seu maléfico intento, tal como tem veiculado por inúmeras vezes. Apesar dessas suas posições fraturantes e preocupantes, mesmo assim elas têm tido um acolhimento favorável na sociedade americana. Isto deve-se ao facto de os americanos darem demasiada primazia aos pontos chave do seu programa eleitoral, tal como supra destacamos. 

Vai correr muita tinta até as eleições de amanhã. Não temos margem para duvidar disso. Tudo ainda pode acontecer. É isto que faz os EUA ser o grande país que é e uma das maiores democracias do mundo. Cabe tudo nele. E nele tudo cabe. Consegue conviver pacificamente com os paradoxos. E estas eleições são uma autêntica manifestação dos antagonismos e da imprevisibilidade do povo americano. Os dois candidatos presidenciais são medíocres e ficam bastantes aquém daquilo que o povo americano merece. 

Da nossa parte, vamos aguardar serenamente o que o futuro dirá daqui algumas horas. De uma coisa temos absoluta certeza, e não hesitaremos em afiançá-lo publicamente: os EUA jamais serão iguais com o próximo Presidente da República – para o bem e para o mal. 

O Adiamento das Eleições Legislativas Por Umaro Sissoko Embalo e o Falso Governo de Unidade Nacional


Partilho aqui o vídeo que gravei no domingo passado “Em Defesa do Futuro da Guiné-Bissau. Não calhou publicá-lo ao longo destes dias todos por razões várias. Só hoje foi realmente possível a sua publicação. Nele antecipei o possível adiamento de eleições legislativas por parte de Umaro Sissoko Embaló (que veio, sem surpresas nenhumas, a confirmar anteontem), bem com descortinar todas as armadilhas perigosas que estão por detrás de tal adiantamento de eleições e o putativo governo de unidade nacional. 

Aproveitei ainda a ocasião para chamar atenção a Fernando Dias e Nuno Gomes Nabiam da postura dúbia e pouco séria que têm tido no combate contra a ditadura de Umaro Sissoko Embaló no país. Tenha um bom proveito na visualização e auscultação do vídeo.  

A Mesma Saudade de Sempre, Querida Mãe!

Faz hoje 32 anos que a minha queridíssima mãe Anjeipo Có morreu. Foi precisamente no dia como o de hoje que ela morreu. Morreu repentina e prematuramente para surpresa de todos nós – os seus filhos, familiares e amigos. Morreu deste mundo da mentira para se encontrar com o mundo da eterna verdade. Morreu seguramente contrariada por saber que ia deixar órfãos e desprotegidos os seus sete amados filhos neste mundo discriminatório, hostil e injusto. Morreu sem que a sua previsão clínica apontasse nesse sentido funesto. Foi tudo surpreendente, rápido, inconcebível, pesaroso e completamente trágico. 

A minha querida mãe Anjeipo Có morreu bastante nova. Tinha na altura, aquando da sua morte, apenas 48 anos de idade. Se estivesse ainda viva hoje teria 80 anos de idade. Morreu deixando muitas coisas por viver e por realizar. Não chegou a vislumbrar a emancipação e afirmação dos seus filhos e filhas, que ela tanto se orgulhava. Filhos e filhas estes que, graças a DEUS, se tornaram homens e mulheres responsáveis na sociedade, sendo pais e mães de muitos filhos. Não chegou a conhecer parte significativa dos seus netos e nenhum dos bisnetos. Se ela estivesse ainda viva connosco sentir-se-ia imensamente feliz pela numerosa família que teria. Estaria cercada de muitos mimos, abraços, amor e protecção dos filhos, netos e bisnetos. Ela recebia estas manifestações de amor e, simultaneamente, sem dúvida, devolvia-as com maiores proporções como costumava sempre fazer quando estava ainda viva connosco. Infelizmente, por força do destino, a minha mãe partiu precedentemente sem poder presenciar tudo isto. 

A minha querida mãe Anjeipo Có não teve uma vida fácil. Viveu sempre de grandes contradições e contrariedades até ao fim da sua curta vida. Atravessou, ao longo de toda a sua vida, batalhas espantosas sem vergar-se perante elas. As coisas agravaram-se ainda mais para ela com a morte do meu pai, Jorge Vieira, em 1987, ficando ela sozinha como responsável pela nossa educação e formação. Não foi nada fácil para ela, enquanto viúva, arcar sozinha com tamanha responsabilidade de cuidar de todos nós. Mesmo assim, procurou na medida do possível dar prosseguimento ao legado nobre do meu pai. Ela foi determinada neste simultâneo papel de mãe e pai para connosco até a morte. Foi solitária e viveu solitariamente os seus dilemas e grandes desafios da vida, sem poder partilhá-los com os outros, até ao fim dos seus dias. E assim foi, infelizmente. 

No dia 01 de Novembro de 1992, contra todas as evidencias e prognósticos, a minha querida mãe Anjeipo Có morreu. A partir dessa funesta data, eu e os meus irmãos, ficámos definitivamente órfãos, pobres, desventurados e desamparados no mundo. Perdemos, com o desaparecimento físico dela, o núcleo fundamental e suporte insubstituível e irreparável da nossa família. Nada nesta transitória vida poderá preencher o incomensurável vazio e a falta que ela vai sempre fazendo durante todo o nosso percurso terreno neste “vale de lágrimas”. Perdemos tudo e estamos praticamente sozinhos no mundo. 

Não temos, desde muito cedo, a legítima proteção dos nossos progenitores, com as profundas mazelas que tudo isto representa no nosso crescimento e equilíbrio humano-emocional. Tivemos de crescer “fora do tempo”. Ganhar cedo o juízo e a noção de responsabilidade. Aprender, acima de tudo, a conviver com as injustiças, o abuso, a discriminação e toda a sorte de arbitrariedades que somente uma pessoa órfã conhece tão perfeitamente. 

Ter uma mãe viva e presente é das melhores preciosidades que uma pessoa pode ter nesta vida. Tanto que, por esta razão, para vincar esta grande verdade antropológica, diz a sabedoria popular: “quem tem uma mãe tem tudo, quem não tem mãe não tem nada”. E, de facto, eu e os meus irmãos já não temos uma das maiores e melhores preciosidades que um ser humano pode ter nesta vida. Mesmo assim, temos connosco o Todo-Poderoso DEUS que defende a nossa causa, orientando-nos e suprindo todas as nossas necessidades (Dt 10:18; Sl 146:9), bem como a maravilhosa família que ainda nos resta. 

Cientes da nossa limitada condição de orfandade, continuaremos a ornamentarmo-nos com a herança que recebemos dos nossos progenitores. Procurar ser coerentes com a nobre educação que humildemente nos confiaram, isto é, de nunca renegarmos aquilo que é o nosso substrato identitário e afirmarmo-nos na sociedade como homens e mulheres de bem. Só assim poderemos, de forma vigorosa, perpetuar a memória dos nossos queridos pais. 

A minha querida mãe Anjeipo Có morreu precocemente num dia como o de hoje, para tamanha infelicidade de todos nós. Resta-nos agora, como filhos dela, recordá-la com a mesma saudade de sempre: da mulher guerreira que ela foi e representa para a nossa família, bem como transmitir isso aos nossos filhos, netos, bisnetos e por aí fora. 

A mesma saudade de sempre, minha querida eterna mãezinha Anjeipo Có! “O Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor” (Jb 1:21). Que assim seja.

Reflexão Proustiana

Li algures, em tom de acolhimento, que toda a existência e o percurso do Homem se baseiam meramente no factor tempo. É um entendimento minimalista, redutor e bastante discutível do ponto de vista antropológico. Confesso publicamente que não sou proustiano. Não lamento a nostalgia do tempo e nem tão pouco fico ansioso por ele. 

Para mim não existe “o tempo perdido” e “o tempo reencontrado”. Da mesma sorte, “o tempo medido” e “o tempo contado”, tal como convencionado unanimemente pelos seres humanos, são configurações diferentes da mesma realidade, consubstanciando simples fenómenos naturais que o próprio tempo encarna e processa no seu âmago. Qualquer tempo é tempo. Logo, nesta ordem de ideias, tudo é tempo. Considero-me mais salomónico a nível do tempo, sobretudo na sua pré-determinada implicação teológica e teleológica. “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, observava inspiradamente o sábio Salomão na sua construção dogmática no livro de Eclesiastes (Ec 3:1). 

Não tenho qualquer tipo de preferência por nenhuma estação do ano em concreto – nem pelos fusos horários que se vão alternando no universo. Gosto da manhã, da tarde e da noite. Sou do calor e, concomitantemente, do frio. Tropicalista por natureza e subantártico por afinidade. Tanto que, por esta razão, maravilho-me com o Inverno, a Primavera, o Verão e o Outono. Gosto, igualmente, de períodos de chuva e de seca. As mudanças climatéricas não passam, a meu ver, de meras ocorrências cíclicas resultantes do movimento de rotação e de translação da Terra. Nada mais. Tudo o que extravasa este raio de compreensão é pura especulação e raciocínios falazes. Por isso, aprecio imenso todas as épocas do ano, procurando, na medida do possível, ajustar as suas cómodas e/ou incómodas particularidades naturais. 

É o destino que marca a hora e esta, por sua vez, traça o tempo. Sem o destino não há horas e tão pouco agendas temporais. São as duas primeiras conjugações que formam e caracterizam o tempo que concebemos e idealizamos. A existência do Homem é o produto da providência Divina que se veio concretizar milagrosamente no âmago do tempo. Talvez seja por esta mesma razão que damos demasiada primazia ao tempo, sem nos apercebermos disso. Ansiamo-lo, a cada momento que passa, e vivemos toda a nossa vida dependente dos seus sinais e condicionalismos, conformando-nos com a subtil ideia de que somos produtos casuísticos do tempo, até ao dia que o tempo nos consuma para sempre no curso infinito do tempo.